Pedro Manuel Portas Breda do Vale
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Um pouco de História…

 

 O início, algo difuso nas minhas memórias, remonta aos idos finais anos 60. Tudo começou com a construção, pelo meu pai, de um pequeno pombal de madeira nas traseiras da casa onde então vivia. Claro que a minha tenra idade não me permitiu ajudar muito, mas sempre fui chegando uns preguitos... O entusiasmo chegou ao rubro quando, naquele pequeno e austero cubículo, foi colocado o primeiro e belo alado, com um "papo de um verde muito luzidio", cujas origens não posso precisar, mas que julgo ter sido oferecido pelo senhor Aurélio, de Coimbra, joalheiro de profissão e que mais tarde tive o prazer de conhecer. Para este amigo, os seus pombos valiam muito mais que o mais fino e reluzente ouro. Outros pombitos se foram seguindo, de origens diversas. Retive, e recordo até hoje nomes como o já referido anteriormente, mas também o Sr. Lemos Dias, de Coimbra, para além do saudoso Celestino Gameiro.

A paixão pelos pombos estava instalada. Da primeira campanha, recordo um 4º lugar numa determinada prova, muito propagandeado pelo meu pai, “feito extraordinário” de uma jovem fêmea e muito recentemente mãe. Os ovos estavam a “picar”, repetia constantemente o meu pai a tantos quantos, admirados com tal “proeza”, procuravam saber as razões que fizeram essa jovem mãe vir tão rapidamente para casa.

As afinidades mais que evidentes para com distintas aves, facilitaram a minha “imposição” como o “manager” desta neófita colónia e claro, aliviei o meu pai em termos das tarefas diárias a realizar.

Dessa “pré-histórica” época, recordo alguns nomes de columbófilos: o “ti Rapatéu”, o Canas, o Celestino Gameiro, o “ti” João Borges, o Luís Filipe Guardanó, o Correia, de Casal Comba, e alguns columbófilos do Luso. O meu pai era o sócio nº9 da Sociedade Columbófila das Termas do Luso.

 O encestamento dos pombos era efectuado, já nessa época, na Mealhada, apesar da designação da colectividade. A sede da sociedade, foi inicialmente muito itinerante: recordo-me dos encestamentos na Cadeia Velha ao lado da Capela de S. Sebastião (foto 1), nos Bombeiros Voluntários da Mealhada (foto 3), numa casa apalaçada em frente ao café do saudoso Xabregas (foto 2) e mais tarde, na fase em que me “desliguei” da columbofilia, num anexo do então Centro Cultural da Mealhada (foto 4), agora Tribunal. Dos encestamentos em frente ao café do Xabregas, recordo, para além de todo os processos inerentes ao anilhamento, colocação dos pombos nas caixas e transporte das mesmas, abertura dos aparelhos constatadores e leitura de fitas etc., recordo dizia, esses serões, muito marcados com uma saudável convivência no café do Xabregas, aguardando também que começasse na TV o muito aguardado “Sinal do Dragão”, (http://www.youtube.com/watch?v=lKMgceSkqrY&feature=related;) que tinha como protagonista o muito misterioso David Carradine.

Foto 1 - Cadeia Velha

Foto 2  

 

  

 

Foto 3 - Antiga Sede dos B. V. da Mealhada 

 

   

 Foto 4 - Antigo Centro Cultural e Actual Tribunal

 

 

 

Esses eram anos difíceis, vivíamos em ditadura. Por vezes, umas conversas sussurradas despertavam o meu interesse e logo se aguçava a curiosidade. Maior parte das vezes não percebia de que falavam, pareciam usar uns "certos códigos", falavam de política… pela primeira vez ouvi o termo “fascista”…

Desportivamente falando, recordo-me que quem dominava nessa época era o meu tio Celestino Gameiro, por vezes com aguerrida concorrência do João Borges, do Canas, do Fernando Oliveira, do Carlos Cardoso, do Luís Filipe Guardanó, entre outros. Nós (eu o meu pai), lá íamos "marcando" uns pombitos, os nossos “melõezinhos”…e, por vezes, até muito bem, com destaque para as provas de Fundo, especialidade onde reconhecidamente nos íamos tornando uma referência.

Meados dos anos 70, a revolução de Abril acontece, nasce uma consciência política, é o reorientar de prioridades e referências, são os estudos secundários. O gosto pela Columbofilia permaneceu intacto e é nesta fase que se cimenta o gosto pelas provas de fundo, tendo-se conseguido vários primeiros lugares.

Os anos 80 indiciam uma já relativa maturidade columbófila, mas também outros focos de interesse. Muito rapidamente surge a necessidade de independência económica e assim o início de uma precária actividade profissional. Um pouco mais tarde inicio os estudos universitários e é chegada a hora de cumprir o serviço militar.

 Asseguro a prática columbófila, enquanto assessor de meu pai, até 1982 inclusive, altura em que me desligo completamente, para prosseguir o meu curso superior. Desportivamente falando, obtivemos resultados com algum realce, nomeadamente nas provas de Fundo e Meio-Fundo, mais uma vez os nossos já afamados “melõezinhos”… Dos columbófilos dessa época recordo, e desculpem-me se falho algum:

António Canas; Luís Filipe Guardanó; João Breda do Vale (meu pai); Carlos Pato; Tino Gameiro, a dar os primeiros passos para o seu longo reinado, grande columbófilo, como há poucos; João Santos Borges, um grande fundista; Celestino Gameiro (pai), imperador até aí; Carlos Cardoso; Raúl Ferreira; Fernando Oliveira; Aníbal Fernandes; Manuel António; Jaime Madeira (“Jaimito”); Manuel Cardoso; António Fonseca; António C. Marques; João Pedro; José Felgueiras; Carlos Botelho; Joaquim Aleixo (neófito); António Rochete (neófito); Artur Carvalho (neófito); Manuel Lopes (neófito); António Luís (neófito); José Dias (neófito); José Trancho (neófito); Pedro Melo (neófito); Eduardo Pereira (neófito); José Madeira (neófito); Jorge Taveira (neófito); por fim, o jovem Camilo Pratas, que logo de início deu sinais de vir a ser um grande columbófilo, de incomensurável entusiasmo e paixão pela columbofilia, mas também um ser com elevadas qualidades humanas.

 

Lamentavelmente, alguns dos amadores anteriormente citados, já não fazem parte do rol dos vivos, que descansem em paz onde quer que estejam.  Com todos aprendi, a todos estou grato, todos contribuíram para a minha formação enquanto columbófilo, foram a minha escola.

O interregno forçado a que me sujeitei (tinha que ser…), teve como consequência imediata a paragem da prática columbófila por parte de meu pai, na medida em que todo o processo já passava por mim e, por essa e outras razões, foi forçado o “ano sabático”…

 

Só no início dos anos 90, após a passagem à reserva de meu pai (agente da PSP), também forçada por questões de saúde, surgiu disponibilidade, da parte dele, de se “dedicar” novamente à prática columbófila. Constrói novo pombal que vai ocupando com pombos de várias origens, uma verdadeira torre de Babel, na medida em que fluía no sangue desses pombos, genes de Sentinela, Fabri, Catrisse, Bricoux, Sells, Lescalier, Van Spitael, Eloy, Clerebault, Peeters, Imbrecht, Bostyn, Imbrecht, etc. Uns foram adquiridos, outros oferecidos por amigos. Deste processo, que conheço pouco na medida que as minhas prioridades nessa época eram muito direccionadas à minha actividade profissional e à minha vida familiar, lembro o facto de meu pai me ter dito por várias vezes que tinha conseguido “recuperar” os “melõezinhos”. Para mim, nesta fase da minha vida, a columbofilia era uma miragem, algo que, apesar de amar, não podia de todo colocar em prática por condicionantes de ordem vária.

Lembro-me que o meu pai “fez” as campanhas de 1991 e 1992 no Grupo Columbófilo da Mealhada e que, numa ou noutra prova, obteve resultados de realce. Lamentavelmente, numa fase em que tinha tudo para ter uns anitos de ouro, a doença surge e, em 1992, na sequência de uma neoplasia óssea e muito, muito sofrimento, deixa este mundo.

Cada vez que me deslocava à Mealhada para visitar a minha família, deparava-me sistematicamente com pombos calcorreando todos os telhados vizinhos. Minha mãe foi alimentando como podia, com milho e água, os cento e muitos, e confesso que era uma dor atroz ver todos aqueles alados suplicarem por ajuda, por um salvamento libertador.

Em 1994 decido construir um pombal provisório na Moita, concelho de Anadia, para acolher “meia dúzia” daqueles pombitos “vira-lata”. Rapidamente a “meia dúzia” virou duas dúzias e inicio a criação e anilhamento de borrachos.

Nesse mesmo ano inscrevo-me como sócio dos Grupos Columbófilos da Mealhada e da Bairrada, passando a ser o sócio da FPC com o nº 33103. Em 1995 faço a minha primeira campanha desportiva sem esperar grandes resultados. Tinha como melhores expectativas classificar um pombito de vez em quando, na medida em que, após vários anos de afastamento, estaria inevitavelmente desactualizado, não conhecia o valor dos pombos transferidos, etc.

Surpreendentemente, a Campanha de 1995 inicia-se com resultados jamais expectáveis, obtidos principalmente pelos pombos que, transferidos da Mealhada, habituei no meu pombal da Moita (Anadia), enviados no sistema de “natural”e com a não menos valorosa ajuda de alguns borrachitos já da minha criação. Não fora por vezes o facto de alguns alados, em determinadas provas, entrarem no Pombal da Mealhada e os resultados poderiam ter sido ainda melhores.

Desses pombos transferidos, verdadeiros heróis, pois recordo que estiveram dois anos sem competir e a “milho e água”, saliento:

 

·         Fêmea pedrada - 1439952/91 – “Barquinha”

·         Macho pedrado - 1298273/91

·         Fêmea lilás          - 1439963/91 – “Lilás” 91 – ver menu - fotos

·         Macho Azul         - 193386/88 – “Diamante Azul” – ver menu - fotos

Resumindo, nesse primeiro ano, obtive o título de Vice-Campeão Geral no Grupo Columbófilo da Bairrada, um primeiro lugar, vários pombos na dezena em várias provas e vários pombos nos melhores lugares das especialidades (ver menu - resultados).

Como Dirigente, exerci o cargo de Presidente da Direcção do Grupo Columbófilo da Bairrada durante seis anos consecutivos e fiz uma fugaz passagem pela Associação Columbófila do Distrito de Aveiro no último mandato de Arlindo Coutinho, ocupando o cargo de Vice-Presidente da Assembleia Geral.

Desde 1995 até ao presente tenho-me mantido no activo como praticante, terminando todas as campanhas, com maiores ou menores dificuldades, resultantes principalmente da minha actividade profissional mas também de prioridades familiares e pessoais (a vida é feita de mudança…).

Quanto à minha actual colónia, a base fundamental, cerca de noventa por cento, reside nesses pombitos transferidos do pombal de meu pai. Fui introduzindo ao longo dos anos alguns pombos, inicialmente do Tino Gameiro, que gentilmente me ofereceu uns borrachos, mas que infelizmente fui perdendo em várias provas, sem ter tido tempo de tirar descendentes. Em 1994 adquiri a Gabriel das Neves de Almeirim, 2 casais de origem Bostyn, que, colocados a voar deram boas indicações mas que acabei por perder, tendo tirado contudo um ou outro borrachito. Em 1996 adquiri a João Tibério, de Barcouço, quatro pombos de origens Catrisse, Bostyn e Ermery, que colocados a voar se foram perdendo, inclusive uma fêmea Catrisse que tendo dado boas indicações, teimosamente enviei até perder em vez de a colocar na reprodução. Em 1997 o Sr. João Miguel Santos, de Coimbra, columbófilo de renome, ofereceu-me uns borrachinhos, dos quais apenas um se veio a revelar um excelente fundista na Campanha de 1999, mas que infelizmente perdi. Em 1999 e 2000 adquiri um total de 9 pombos ao Paulo Campos, de Souselas, dos quais coloquei logo um macho na reprodução, tendo os restantes sido destinados a voar. Infelizmente, na sequência de doença na colónia e durante a fase de habituação ao meu pombal, acabei por perder estes pombos, restando apenas o macho que inicialmente coloquei na reprodução, o 9707393/99, um neto do famoso “601”, macho base da excelente e mundialmente conhecida colónia de Rui & Paulo Campos. Este neto do “601” cruzado com os meus pombos, deu origem a alguns belos alados, como por exemplo aquele que teve um comportamento exemplar nos campeonatos de Mira 2001.

Todos os resultados obtidos ao longo dos anos, bons ou menos bons, resultaram fundamentalmente destes pombos. Considero não ser excessivo afirmar que, neste momento,  existe no meu pombal uma linhagem de pombos vocacionada para as provas de Fundo, especialidade que particularmente aprecio, e que resultou do facto de ter privilegiado o cruzamento criterioso entre os meus alados ao longo das várias gerações. Sem ser pretensioso, no meu humilde pombal habitam pombos com características típicas bem vincadas, bem adaptados à minha maneira de ver e viver a Columbofilia, “puros Pedro Vale”.

 

 A todos quantos tiveram a paciência de ler estas linhas, as minhas cordiais saudações columbófilas.

Sejam felizes! Até sempre,

 

Pedro Vale

 

Julho de 2010