Nuno Rafael Matos H. Silva

 
 
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O CLIMA DE AVEIRO - Resumo 03/12/2011
 

 

O CLIMA DE AVEIRO - Resumo

 

Preâmbulo


 

*      Podemos pensar que a climatologia é bem uma ciência que procura estudar o comportamento do Sistema Climático[1] e dos fenómenos naturais que nele ocorrem. E, por isso, é Física.

*      Na sua definição clássica, clima é o conjunto de fenómenos meteorológicos que caracterizam o estado médio da atmosfera de um determinado ponto da superfície da Terra. Evidentemente, referindo-se à média de elementos meteorológicos, como a precipitação, a temperatura do ar, a velocidade do vento etc. num longo período de observação. Para fins de padronização, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) recomenda períodos de 30 anos, estabelecendo como padrões internacionais: 1901-1930, 1931-1960, 1961-1990, e actualmente, 1971-2000

*      Em função da grande influência que o clima exerce em quase todas as actividades do homem, apresentam-se, a seguir, as principais características climáticas do clima de Aveiro

*       

Localização geográfica

No período de 1931-1960 existia uma estação com latitude 40º 39'N, longitude 8º 44´W e altitude de 3 m. (tabela 1). Actualmente existe uma estação Meteorológica com as coordenadas geográficas de: latitude 40º 27' 38”N, longitude 8º 43´ 18”W, altitude 3.5 metros sobre o nível do mar. Situada no Campus Universitário da Universidade de Aveiro e se encontra em funcionamento desde Outubro de 1980. Junto as salinas: com as características do solo do mar, alem de, bactérias do género Halobacterium que em certas condições contribuem para o aumento da evaporação da água e aumento da temperatura da água da salina; e o efeito dos ventos dominantes do 4º quadrante (figura 2),  que inferem umas características próprias na estação meteorológica (E102).

 

Tabela 1. Norma Climática no período de 1931-1960 (Fonte Font Tullot, 1999)

 

 

Temperatura

 

 

 

 Precipitação

 

 

mês

 

Media

 

Absoluta

 

Humidade

Total

max

nº de dias

 

Jan

dia

max

min

max

min

relativa (%)

 

 

 

inso diaraia

Fev

9.9

13.4

6.4

22.8

-1.8

86

137

57

15

4.4

Mar

10.2

13.6

6.6

26.3

-2.8

85

85

50

11

5.5

Abr

12.8

16.3

9.2

29.7

0.8

84

121

62

14

5.9

Mai

14.4

18.1

10.7

30

3.8

82

65

62

10

8.4

Jun

15.6

18.9

12.3

33.5

3.5

84

66

173

10

8.5

Jul

17.5

21

14

35

7.2

85

32

85

5

9.6

Ago

18.2

21.7

14.7

35.5

7

84

12

47

3

10.0

Set

18.4

21.9

15

36.4

9.5

85

16

41

4

9.2

Out

18

21.5

14.5

33.1

4.7

84

42

50

6

7.3

Nov

16

19.7

12.3

30

3

85

82

70

9

6.2

Dez

13

16.5

9.4

26.6

0

85

126

81

13

5.4

Jan

10.6

13.9

7.3

21.2

0.4

85

132

88

14

3.7

Ano

14.6

18.0

11.0

36.4

-2.8

85

916

173

114

7.0

 

Génese do clima regional

Fenómenos relacionados com a dinâmica da atmosfera (frentes meteorológicas) e factores geográficos, como a maritimidade (índice de continentalidade de Gorezyaski k = ~5 o que corresponde à condições climáticas oceânica) e distância ao mar (aproximadamente 6 km), são os determinantes das principais características climáticas da cidade de Aveiro. Por se tratar de uma região costeira do atlântico norte, faz com que sejam o Ciclone de Islândia e o Anticiclone dos Açores as características da configuração básica.

 

Zona Parda (I), de clima mediterrâneo A região atlântica

Dentro da zona Parda, caracterizada pelos Verões relativamente pouco chuvosos e claramente secos. A região atlântica se distingue do resto da Zona, essencialmente pelos Invernos temperados graças a influência atlântica. No Verão, a ausência dos ventos de Oeste, reduzem a extensão desta influência ao interior; Daqui que a característica climática, nitidamente marítima, fica limitada a uma franja que se estende ao longo da costa ocidental de Portugal com uma largura de 20 km ao Norte  e só 10 km ao Sul.

 

 

 As massas de ar que influenciam o Clima de Aveiro.

 

Dentro das regiões climáticas elaboradas por Font, a região de Aveiro corresponde ao que Font chama Zona Parda I, de clima mediterrâneo que corresponde a sub-região Marítima. Nesta região praticamente não existe variação latitudinal de temperatura devido aos ventos dominantes do Norte. No Inverno a diferencia de temperatura entre os seus extremos norte e sul é de 3 graus.

 

Raramente neva e as geadas se registram com certa frequência no Inverno, a volta dos 15 dias nas áreas afastadas da costa.

Uma característica interessante é a frequência de ventos de norte no Verão. As famosas NORTADAS

 As massas de ar que influem na génese do clima de Aveiro são as seguintes:

- Massa Tropical Marítima (Tm): com origem no Atlântico subtropical, caracteriza-se como quente e húmida com os ventos que apresentam uma componente do Norte ou supram claramente de Sul, autuando durante Verão e, ocasionalmente no resto do ano

- Massa Tropical Marítima (Tm Sub): com origem no Atlântico Tropical, caracteriza-se como quente e húmida com os ventos que apresentam uma componente do Norte ou supram claramente de Oeste. Actua durante Outono, Inverno e, ocasionalmente na Primavera

- Massa Polar Marítima (Pm): com origem na Groenlândia e Norte do Canadá, caracteriza-se como fria e húmida e actua em Aveiro de forma mais temperada devido à distância percorrida ao longo do oceano dando-lhe um carácter instável com as condições próprias dos fenómenos convectivos, nuvens cumuliformes e chuviscos. Actua no Inverno e, ocasionalmente no resto do ano.

- Massa Árctica Marítima (Am): com origem no Oceano Árctico caracteriza-se como fria e húmida e actua em Aveiro com características parecidas à Pm um bocado mais frio e menos húmido. Corresponde aos períodos intensos de ondas de frio e Invernos que prolongam até Abril.

- Massa Polar Continental (Pc): com origem na Rússia “Sibéria”, caracteriza-se como fria e seca e actua em Aveiro com as características menos acentuadas. Quando é de pouca espessura, flúi sobre ela os ventos do Mediterrâneo, carregados de humidade, produzindo neve. Pode aparecer ocasionalmente em Inverno

 

Tipo climático

Pelo sistema internacional de classificação climática de Köppen, que tem por base valores mensais e anuais da temperatura média diária do ar e da precipitação (nomeadamente, temperatura do mês mais frio e do mês mais quente e precipitação do mês mais chuvoso e do mês mais seco). Depois de analisados os dados climáticos necessários à classificação de Köppen e do tipo Csb, constatou-se que, trata-se portanto de um clima temperado (mesotérmico) com Inverno chuvoso e Verão seco (Cs), sendo do tipo (a), onde a temperatura média do ar no mês mais quente é superior a 22 ºC,

 

Variabilidade temporal

As principais características climáticas de Aveiro podem ser sintetizadas conforme se segue:

- Estações do ano: bem caracterizadas, com verão quente, Inverno frio e Primavera mais frio do que Outono.

- Temperatura média: anualmente, varia de 15.5 ºC, oscilando entre 16.8 ºC em 1997 e 14.4 ºC em 1986, com o mês mais quente (Agosto 20.3 ºC), oscilando entre 22,0 ºC no ano 2005 e 18.6 ºC em 1988.O mês mais frio (Janeiro 10.2ºC), variando entre 12.1 ºC e 8.7 ºC em 1998 e 1985, respectivamente.

-Temperatura extrema: a máxima absoluta foi de 39,0 ºC em 1993; as mínimas absolutas já atingiram 3.5 ºC abaixo de zero. Se regristtraram 29 Dias com mínimas por baixo de 0ºC

As Temperaturas medias dos cúmulos e das mínimas estão representadas na Figura 1, onde se observa o clima suave de Aveiro devido a proximidade do mar, onde a amplitude térmica mensal das mínimas oscila entre 3.7 ºC (Janeiro de 2000) e 17.6 ºC (Agosto de 1989) enquanto que, das máximas oscila entre 11.7 ºC (Fevereiro de 2005) e 29 ºC (Julho de 1983).

 

 

Figura 1: Temperaturas médias das mínimas e máxima para todos os anos observados

 

Previsões -  Modelos estatístico

 

O modelo estatístico com base na historia de uma determinada estação fundamenta-se com base no teorema de Wold. Estudamos primeiro a parte determinista, esto é, associada a oscilações significativas, que explicam a maior parte da variância das séries. Posteriormente, adicionamos a esse modelo a componente probabilística, uma vez que a série é autorregressiva.

 Figura 2: Séries observadas e estimadas  das temperaturas mínimas para as estações do ano; (a) Primavera; (b) Verão; (c ) Outono; (d) Inverno.

 

- Precipitação anual: total anual médio acumulado é de 908 mm O ano com maior valor anual acumulado foi o ano 2000 com 1280.4 e ano em que choveu menos foi 2005 com 361.8 mm

Figura 3 – (a-d) Ajuste das séries observadas e estimadas sazonalmente

 

- Os meses com maior frequência de nevoeiro compreendem os meses entre Julho a Outubro. Também nos meses de Dezembro, Janeiro e Março a frequência é apreciável. Os meses de Abril e Novembro são aqueles em que, em média, ocorrem menos dias de nevoeiro (apenas 1,6 dias/mês). O máximo absoluto de dias de nevoeiro ocorreu no mês de Julho de 1986 (21 dias). Em termos anuais foi também em 1986 que se atingiu um máximo de nevoeiro (90 dias). O mínimo ocorreu em 1993, ano em que se registaram apenas 11 dias de nevoeiro. Refira-se que a variabilidade interanual é muito elevada.

Verifica-se que a maior parte de nevoeiro se dissipa no período da manhã (entre as 6TU e as 12TU). Os meses em que tal não acontece são os de Abril e de Junho. Dos nevoeiros nocturnos dos meses de Dezembro, Fevereiro e Março um número significativo dissipa-se antes das 6TU.

 

- Os resultados apresentados relativos ao vento, se referem ao período de (1981-1995), uma vez que foi suspensa a observação das 15 horas, A velocidade media do vento é mínima nos meses de Verão (às 9 horas) e máxima na Primavera (às 15 horas). Os valores médios oscilam entre os 7 e 12 km/h (às 9horas) aumentando de 13 a 20 km/h p (a tarde). Os ventos dominantes durante todo o ano são de SE ou NW (ás 9 horas) e de NW (às 15 horas).

Existe o fluxo (SE) de terra ao mar nos meses de Outubro a Março (Inverno) e do mar à terra (NW) no Verão. Tudo isto ocorre as 9 horas o que significa que existe uma circulação de monção. As 15 horas há predomínio dos ventos de NW, como acontece normalmente em toda a costa atlântica

 

 

Figura 4: Rosa-dos-ventos dominantes anuais às 9 h. e às 15 h no período de (1981-1995).

- O número de horas de sol descoberto: varia de 2.200 à 2.500 horas de sol por ano.O número de horas máximas possíveis e o número de horas de sol observadas para cada dia do ano “estão ilustrados na figura?”. Podemos ver que os valores máximos de Junho e Julho oscilam perto de 15 horas. O número de horas de sol observado oscila de 6 (em Dezembro) à 13.8 horas (em Julho).

 

 

Figura 5 –a) Insolação máxima (nº h máx) e Insolação observada ( nº h obs);

b) Radiação Solar global recebida no topo da atmosfera  , Radiação Solar incidente  e Balanço da Radiação  ( W/m2); c) Radiação Solar Incidente Anual (W/m2).

 

 

Sazonalmente podemos resumir o seguinte: Na Primavera 25% dos anos observados apresentam de 600 a 700 horas de sol, No Verão encontramos 40% dos anos observados com 700 a 750 horas de sol. Os Outonos apresentam 25% dos anos observados com 500 horas e 570 horas enquanto que no Inverno encontramos 35% dos anos observados com 350 a 400 horas de sol

Figura 5 – Box-Whisker Plot das variáveis aleatórias mensais

 

Constata-se pela Figura 5, que a insolação aumenta exponencialmente desde Janeiro até Julho diminuindo novamente até Dezembro. Tal está de acordo com a distribuição da insolação por estações (Figura 2.4). Verifica-se ainda que Julho é o mês com mais insolação do Verão e que Dezembro é o mês com menos insolação do Inverno.

 O valor anual médio acumulado da Evaporação pelo Piche é de 880.9 mm. A máxima observada é de 1027.1 no ano 1989 e o mínimo foi de 569.0 em 1986.

 

 

 

Figura. 3. Variação mensal das evapotrasnpiração potencial e precipitação observada no período de 1981 a 2004 Na estação meteorológica E102 Clima Mesotérimo Húmido com 3 meses secos

Como resultado do balanço hídrico para a série observada 1981-2004, obteve-se a ETP com 771 mm, a ETR com 305 mm, a DEF com 212 mm, o EXC com 305 mm, o Ih igual a 23.1, a relação ETPv / ETP igual a 41%. De acordo com a classificação climática proposta por Thornthwaite, para os dados da série deste periodo, o clima resulta ser húmido, com pequena deficiência de água, denominado mesotérmico, com uma ETP de771 mm no ano, sendo que 41% desta ETP ocorre no verão. A

Na tabela 2 observa-se que a temperatura média anual atinge o pico máximo de 20,2ºC no período mais seco do ano, que coincide com o trimestre Junho, Julho e Agosto  a partir daí gradual e lenta redução na temperatura, até alcançar 10.1ºC no mês de Janeiro o período das  chuvas começam no mês de Setembro e se prolonga até o mês de Maio, amplitude térmica de 9.1ºC.

Reflectindo em todas as variáveis meteorológicas da tabela, se observa que há ocorrência de excedente hídrico nos meses de Inverno e deficit no Verão. No mês de Março não excesso nem deficit. Pela análise dos dados médios mensais de temperatura, evapotrasnpiração potencial e precipitação, observa-se a existência de dois períodos marcantes e com características antagónicas, caracterizados por um O período húmido ocorre quando há excesso de água no solo e começam no mês de Outubro e se estende até Maio, neste período é o responsável pela recuperação de humidade normal do solo

Período, e, o período seco caracterizado pelo deficit de água no solo e corresponde aos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro;

No mês de Março não existe deficit nem excesso  

 

 

Tabela 2  — Cálculo do balanço hídrico SEG. THORNTHWAITE 1955 (capacidade de campo = 75 mm), com dados observados na estação meteorológica da Universidade de Aveiro (E102). Latitude: 41º 38’ , Longitude: 8º 35’ e altitude sobre o nível médio do mar de 3.5 m, no período de 1981-2004

 

 

Mês

T

ETp

Prec.

P-EP

NegAc.

Armaz

ALT

ETr

Déficit

Exc.

    

ºC

mm

mm

mm

Acum

mm

mm

mm

mm

mm

JAN

10.1

25

108

83

0

75

0

25

0

83

FEV

11.3

29

77

48

0

75

0

29

0

48

MAR

13.2

46

46

0

0

75

0

46

0

0

ABR

14

55

80

25

0

75

0

55

0

25

MAI

16

75

87

11

0

75

0

75

0

11

JUN

18.8

98

27

-71

-71

29

-46

73

25

0

JUL

20.2

112

12

-100

-171

8

-21

33

78

0

AGO

20.1

103

16

-87

-258

2

-5

21

82

0

SET

19.2

84

57

-27

-285

2

-1

58

27

0

OUT

16.8

63

114

51

-27

52

51

63

0

0

NOV

13.9

40

123

82

0

75

23

40

0

59

DEZ

14

40

118

78

0

75

0

40

0

78

ANO

15.6

771

864

93

 

559

212

305

 

 

Índice Hídrico =  23.1 Clima Húmido, Mesotérmico

Legenda:

T = Temperatura média mensal (C°) Armaz = Armazenamento (mm)

ETp = Evapotranspiração potencial (mm) ETr = Evapotranspiração real (mm)

Prec = Precipitação média mensal (mm) Déficit = Deficiência hídrica (mm)

NegAc = Negativa acumulada (mm) Exc = Excedente hídrico (mm)

 

Referencias  e Bibliografia
  • Manso Orgaz  M.D. (2001). The precipitation over Aveiro in the last decadas 2ª Simpósio de Meteorologia e Geofísica da AMPG 3º Encontro Luso-Espanhol de Meteorologia . APMG. Lisboa.  272-276

  • Manso Orgaz, M.D. (1992) Notas sobre la Evapotranspiración Potencial en el Observatorio de Aveiro. V Congreso Interamericano, de Meteorología y ENCUENTRO METEO 92 I Congreso Ibero-americano. Madrid. nº II 192-196  

  • Manso Orgaz, M.D1991 Contribuição para o Estudo Hidrográfico da Bacia do Douro", Tese de doutoramento de Física da Atmosfera. Universidade de Aveiro.

  • Manso Orgaz, M.D.(1989) Balance Hídrico en la Cuenca de Duero. Cambio Climático y Medio Ambiente. XX Jornadas de  la Asociación Meteorológica Española (117-125). San Sebastián (Espanha).

  • Inocencio Font Tullot. 1983 Climatologia de España y Portugal. INM 296p.

  • Lurdes Surrador: notas sobre a radiação observada. Seminário anual do curso de Física da Atmosfera.


 


*       [1] O sistema climático (S), é extremamente complexo devido as interacções não lineares dos seus componentes constituídos colectivamente pela: Atmosfera (A), Hidrosfera (H) “oceano”, Criosfera (C) “massa de gelo”, Litosfera (L), Biosfera (B).  Peixoto e Oort, 1992.