Antiga vila amuralhada, Ponte de Lima é uma interessante localidade de visita obrigatória no Alto Minho.
Ao lado a ponte medieval, soberba de formas com os seus quinze arcos ogivais. Depois, as Torres de S. Paulo e da Cadeia, conservando-se ainda entre elas, um pano das antigas muralhas da vila.
Terra morena, vestida de rude granito da Serra d'Arga, Ponte de Lima é uma terra cheia de história, de arte e beleza natural, de rusticidade e património. Falar de Ponte de Lima, é relembrar esta terra "velhinha" de séculos que teve os seus primórdios numa "velha" ria romana feita no tempo de Augusto e de uma ponte que até deu o nome à terra.
Após serem postos "a nu" os cinco arcos romanos do extremo norte por onde passaram as "centúrias" da "paz de Augusto", tornou-se mais valorizada a romana / medieva Ponte.
Foi, por isso, quiçá, que a Condessa D. Tareja quis fazer de "ponte" uma "Vila sua" para "estorvar" aquilo que já, em 1121, sucedera quando viu invadido o "seu" condado e as "suas" terras pela irmã D. Urraca acompanhada do famoso Arcebispo D. Gelmires.
A criação da "vila", a entrega do foral, o estabelecimento da "feira" e as sanções aplicadas "se (alguém) fizer mal aos homens que de qualquer terra vieram à feira, tanto na ida como na vinda, pague sessenta soldos", são algumas das intenções de D. Tareja em "fixar" aqui mais gente, inclusivé, estabelecendo que, das "terras rotas" (cultivadas) se pagasse o terço, das "não rotas" um quinto, num claro estímulo aos lavradores para que cultivassem as terras, a maior parte ainda "ermas" dos tempos da Reconquista".
E logo ficou marcada a história de Ponte de Lima pois, do lado da margem direita (Refoios, Arcozelo, Calheiros, Brandara) ficaram as "honras" e os "solares" da Ribeira Lima, na margem esquerda, os "reguengos" e os "Coutos" (Correlhã, Feitosa, Arca).
Fidalgos e guerreiros que não perdoam à Condessa a sua ligação com os Travas e que fazem causa comum na rebelião do filho (D. Afonso Henriques) contra a mãe juntando-se aos Senhores da Maia, lutando pela emancipação de Portugal.
Vai ser no entanto D. Pedro I, quem dá novo foral, e novo impulso à vila. Reconstrói-se a ponte, circunda-se a vila de muralhas com nove portas e outras tantas torres.
Nove portas significam nove caminhos e isso, diz-nos bem, do centro de comunicações que já naquele tempo era Ponte de Lima.
Mas, voltemos à "feira".
Não mudou de local até aos dias de hoje e bem será que fique sempre no "areal". Fazia-se no largo do Souto que, no tempo de D. Pedro I e porque estava no caminho para o litoral, mereceu torre e porta com o mesmo nome.
Conforme gravura da época, podem ver-se dezenas de carvalhos e castanheiros, a demarcar o "souto" até ao rio.
Ao meio, o chafariz que João Lopes - o moço, construiu e que, por deliberação da Câmara de 1929, transitou para o Largo de Camões. Ao lado, o Hospital de Peregrinos, pois Ponte de Lima foi e é Caminho de Santiago. Mais ao nascente era a porta e a Torre de S. João, no lado de Ponte da Barca e que com a Torre de Braga, fazia o eixo das mais importantes ligações tendo como já vimos o largo do Souto e a "feira" com o seu espaço nuclear.
Centenas de anos passados, em tempo de "Feiras Novas" ou de "Feiras Velhas", é sempre uma "Santa Feira".
Dia de feira, dia de "trocas", dia de mercado, mas dia "santo", dia de "féria".
Por isso, as "Feiras Novas" são, também, "Dia de Festa", "Dia Santo de Romaria". A não perder no 3º Domingo de Setembro.
PONTE DE LIMA nasceu do feliz encontro entre o homem e a natureza, de que resultou uma paisagem variada, repartida entre montanhas de moderada altitude e outeiros ou colinas rodeadas de encostas soalheiras e vales amenos, regados por córregos e levadas de água fresca, que confluem no rio Lima. Nasce este nas cercanias de Xinzo de Limia, na fonte do Talariño, situada nos contrafortes da serra de S. Mamede. Dirigindo-se para o sudoeste, vencido o rápido declive do curso intermédio, que podemos considerar terminado na foz do Vez, no decurso do qual encontra descanso em grandes albufeiras, torna-se mais regular após o último açude, em Refojos; começa aí a parte mais calma do percurso, encaminhando-se lentamente, a serpentear na planície, para os lados de Viana, até desaguar no Oceano.
Nos relevos culminantes que cercam a zona, perante os quais a sensação de altura não é demasiado acentuada pelo nível do rio, pouco acima do próprio mar, não há arestas que firam e nem sequer é chocante a nudez inesperada deste ou daquele bloco de granito que aflora aqui e além no meio de uma vegetação densa e luxuriante.
O vale do Estorãos abre-se entre a serra de Arga, de um lado, e do outro as serras de Formigoso e Antelas. Entre a serra de Antelas e a da Miranda, situa-se o vale alimentado pelo ribeiro da Labruja. Entre o monte de S. Lourenço, o Oural e a Nó corre o Trovela. Entre a Nó e o monte da Facha está o vale do rio Tinto. A estes espaços soma-se um outro, voltado a sul, para o rio Neiva, no trecho que vai desde Anais até Ardegão e Poaires.
Todas estas paisagens foram já modificadas pelo homem, que arroteou campos, sobrepôs socalcos, plantou arvoredo e salpicou de cor com as habitações pintadas de branco, algumas vezes de ocre, e cobertas de telhas da cor do barro vermelho.
Uma rede emaranhada de estradas e caminhos atravessa as veigas e serpenteia pelas encostas. O eixo principal é constituído pela antiga via, no sentido norte-sul, que os romanos lajearam aqui e além, assinalando-a com marcos miliários e fazendo-a atravessar o Lima nessa ponte que deu origem e nome à povoação, que se tornou o polo aglutinador de todos os espaços circundantes.
Sucederam-lhe as modernas vias de comunicação, a culminar na recente auto-estrada.
Para ter uma visão destes espaços e se compenetrar da índole, ao mesmo tempo cheia de viço natural e de humanidade, desta paisagem, é indispensável subir a algumas das estâncias panorâmicas que se espalham através do concelho.
Santa Maria Madalena, com o seu parque ajardinado, oferece-nos uma síntese majestosa de toda a ribeira Lima, até ao Oceano. Em baixo, o rio, coleante e vagaroso, acarinha a vila feiticeira; nas margens desdobra-se a característica paisagem limiana: prados, milheirais, vinhas, florestas, igrejas, capelinhas brancas, palacetes e singelos casais de aldeia.
Como delicioso lugar de paz, ao abrigo de sombra pacífica, onde não escasseia o ritmo gorgolejante da água fresca, a Senhora da Boa-Morte, um pouco acima dos templos românicos de S. Abdão e S. Tomé da Correlhã, oferece-nos, com o seu frondoso e repousante parque, outra perspectiva surpreendente das veigas limianas.
Santo Ovídio, acessível por uma estrada florestal, patenteia-nos uma soberba panorâmica da vila com as suas pontes e o casario a reverem-se no rio lendário.
No alto da Serra de Arga, cujo acesso obriga a ultrapassar os limites do concelho, desdobra-se, a perder de vista, o majestoso panorama dos vales e serranias do Minho e da Galiza.
Do cimo do monte de S. Silvestre, nas cercanias de Freixo, abarcam-se as terras situadas no vale do Neiva e seus arredores.
Acolhidos por esta paisagem, que se oferece tão viçosa e deslumbrante, iniciamos o percurso de um conjunto de itinerários, no tempo e no espaço, que nos ajudaram a conhecer melhor o concelho de Ponte de Lima. O viajante que nos der a honra da sua companhia descobrirá o motivo porque os soldados romanos receavam atravessar as águas do Lima.
(António Matos Reis, Ponte de Lima no tempo e no espaço, p. 10-12)
Notável e imponente edifício, tradicionalmente considerado como o mais representativo das nobres casas do Minho. Resplandecem nos seus interiores lembranças de tempos gloriosos, guarda no silêncio do cair das águas das fontes de granito os segredos e história da família Calheiros, que aqui vive desde sempre. Situado numa encosta de uma das colinas que circundam a vila de Ponte de Lima, o Paço de Calheiros, rodeado de belos jardins, domina a perder de vista, um dos mais grandiosos cenários da região.
Casa de fachada rústica e recentemente adaptada às modernas exigências de conforto, forma parte de um conjunto arquitectónico do Séc. XVI com uma ampla varanda, de onde se deslumbra Ponte de Lima, que se distância pouco mais de 1km. A Casa do Salgueirinho rodeada de vinhas e pomares perto duma mata bem cuidada, é excelente para uma família passar umas tranquilas e bucólicas férias.
Surgindo repentinamente no desenhar de uma curva, ergue-se magnífica, em altivo porte, a Casa das Torres, exemplo da arquitectura nobre do tempo de D. João V, contempla uma paisagem soberba. O trabalho barroco das janelas abre para a quinta de pomares convidando-o a contactar com a natureza.