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O REGRESSO DAS FÊMEAS 15-11-2009

 

O REGRESSO DAS FÊMEAS

Actualmente existe para (alguns) homens a pilula Viagra. As mulheres (também algumas) não estão lá muito contentes com o aparecimento desta pílula, uma vez que não sabem muito bem como lidar com esta nova situação. Elas já tinham a sua pílula e agora a outra metade da humanidade tem a dela. A questão é que a pílula dos homens pode provocar precisamente aquilo que as mulheres tentam prevenir com a delas. Foi aliás este o maior problema que surgiu com a introdução do Viagra.
Nos anos mais recentes as mulheres lutaram e conseguiram a igualdade, em alguns casos até a ultrapassaram; com os seus cremes, os seus óleos, os seus tratamentos faciais, os silicones… tudo para ter os homens na palma da mão. Foi então que surgiu o Viagra. São especialmente as mulheres mais idosas que lamentam o aparecimento da pílula que resolve o problema dos homens. Até então podiam dormir descansadas ou ver a sua telenovela preferida quando os seus maridos regressavam do trabalho, uma vez que estes sentavam-se no sofá, completamente exaustos. O Viagra modificou dramaticamente as vidas de muitas mulheres. Deixaram de ser o sexo superior.

Alteração
Muitos homens que foram constantemente humilhados no passado ficam agora impacientes esperando que as suas mulheres regressem do centro comercial. Agora já podem mais uma vez abraçar o mundo desde a introdução do Viagra.
O facto curioso é que com os pombos passa-se exactamente o contrário. No caso da columbofilia são as fêmeas que regressam em força. Até aqui os columbófilos encestavam na maioria machos, especialmente nos concursos para pombos adultos, uma vez que consideravam os machos mais fortes e resistentes. Até que alguns columbófilos começaram a obter resultados extraordinários com as suas fêmeas. Columbófilos famosos, como por exemplo Verkerk, VD Merwe, Geerts, Van Hove Uytterhoeven, Engels, Elsacker, entre outros, não dão ponto sem nó e a aposta nas fêmeas não aconteceu por acaso. Foi o aparecimento de campeãs como a “Paula” de Remi de Mey e a ainda mais espectacular “Fieneke” do falecido Flor Vervoort que proporcionaram a viragem. Ambas estas fêmeas conseguiram resultados tão fantásticos que abriram os olhos a muito boa gente. Foi um acontecimento marcante para a columbofilia belga e holandesa. Todos sabiam que nos concursos de borrachos as fêmeas eram melhores, mas nos adultos todos pensavam o contrário.

Os borrachos fêmeas são melhores
Será mesmo verdade que os borrachos fêmeas são melhores que os borrachos machos? Não existe margem para dúvidas!
No meu pombal existe um livro em que registo os resultados desportivos dos atletas ao longo dos anos, dou-me até ao trabalho de elaborar gráficos que me ajudam a perceber melhor os altos e baixos de cada atleta da minha colónia. Devo confessar que não leio estes registos com muita frequência uma vez que me entristecem. O livro revela que na minha pequena cidade apenas se mantêm 35 dos 120 columbófilos de há uns anos atrás. No passado existiam quatro colectividades, agora apenas uma; no passado apostava-se muito dinheiro nos concursos, agora o dinheiro voou. Aparentemente os columbófilos gastam o seu dinheiro na ração, uma vez que as colónias aumentaram significativamente o número de efectivos. Na maioria dos casos, este aumento no número de pombos deve-se ao facto de pensarem que desta maneira aumentam as probabilidades de aparecer um craque, o que ajuda na venda dos seus pombos.
Não sou o único que regista o dia-a-dia da colónia, conheço um columbófilo que o faz com grande precisão e detalhe. Escreve TUDO e depois elabora estatísticas, gráficos e percentagens em todas as variantes possíveis. Toda esta informação diz-lhe que na última década ganhou 52 concursos de borrachos, 38 dos quais com fêmeas. O seu estudo dedicou-se também aos Pombos Ás… em que dois terços deles eram fêmeas! Descobriu ainda que nos últimos 207 concursos de borrachos, 149 foram ganhos por fêmeas. Nos Nacionais de grande prestígio, como por exemplo Orleans e Bourges, o atleta vencedor é, em muitos casos, uma fêmea.
Com tudo isto quero dizer que as fêmeas marcam melhor… é um facto provado, pelo menos nos concursos de borrachos.

Sem explicação
Não existe apenas uma diferença nos resultados. Ninguém sabe o porquê, mas tanto na Holanda como na Bélgica os machos perdem-se mais facilmente que as fêmeas. Um facto muito penalizante para aqueles que só voam machos viúvos, uma vez que, ao perderem os machos borrachos e de ano, podem comprometer as campanhas futuras.
As fêmeas podem ser jogadas de duas maneiras; ao natural ou à viuvez. Se optarmos pelo natural, temos que encontrar a melhor posição; em ovos acabados de pôr, em ovos de ±10 dias, em ovos a picar, em borrachos pequenos ou mais velhos? Não existem respostas precisas para esta questão, uma vez que difere de pombo para pombo. Algumas marcam melhor com ovos acabados de pôr; para outras a sua posição favorita é quando estão a alimentar um borracho, mas a maioria marca melhor com borrachos de seis a 12 dias. Esta é a razão pela qual a maioria dos especialistas no jogo de borrachos procura ter a maioria dos seus voadores nesta posição aquando dos concursos mais importantes. As hipóteses de sucesso aumentam em relação directa com o número de fêmeas que se encestam na posição referida.
Em certas regiões da Holanda e Bélgica é tradicional jogarem as fêmeas de ano ao natural, no entanto no que diz respeito a adultas este sistema já está há muito tempo ultrapassado. As melhores performances são registadas com fêmeas adultas jogadas na viuvez. O mais estranho é que o apogeu desportivo das fêmeas acontece com a idade de um ano, quanto mais velhas menos capacidade têm de marcar no top.

Vantagens
A razão pela qual as fêmeas novas marcam melhor que os machos da mesma idade é difícil de explicar, no entanto sabemos que existem diferenças consideráveis entre os dois sexos, para além claro de uns serem machos e outros fêmeas.
• Os machos lutam nos cestos durante a viagem até ao local de solta. É pois normal que regressem com olhos ou narinas picadas e penas partidas. As lutas provocam desgaste de energia que deveria ser poupada para o voo de regresso a casa. Como as fêmeas são mais calmas, chegam ao local de solta muito mais relaxadas e com os níveis de energia quase a 100%.
• As fêmeas podem ser encestadas com mais frequência do que os machos (quanto mais vezes melhor), uma vez que parecem recuperar melhor dos esforços; é normal os machos precisarem de descansar um fim-de-semana para que o seus níveis competitivos se mantenham elevados.
• As fêmeas jogadas na viuvez voam intensamente nos treinos diários. Quando estão em super forma alguns columbófilos nem arriscam a soltar à tarde com medo que estas não regressem a tempo de pernoitar no pombal. Se forem jogadas ao natural é muito difícil fazê-las voar à volta do pombal, é por isso que se torna necessário efectuar treinos em linha, o que pode trazer um grande inconveniente.

Desvantagens
Voar com fêmeas não são só vantagens, também surgem alguns problemas. O primeiro são os acasalamentos entre as próprias fêmeas, e nesse caso as hipóteses de marcar no top baixam consideravelmente; de facto as fêmeas com tendência a acasalarem-se entre si não podem, nem devem ser jogadas na viuvez. Elas não devem gostar umas das outras, bem pelo contrário!
Se foram jogadas ao natural também pode acontecer que estejam prestes a pôr na altura do concurso e, nesse caso, têm de ficar em casa. As naturalistas só conseguem manter um bom estado de forma durante cerca de três semanas, ou seja quando estão com ovos de pelo menos 10 dias e as duas semanas seguintes.
É importante partirmos do princípio que existem fêmeas que não se adaptam ao natural e outras à viuvez. Por outras palavras, umas marcam melhor quando jogadas ao natural e outras quando jogadas à viuvez. As fêmeas que não saem do ninho enquanto o seu macho está ausente, são as melhores para jogar ao natural.
No que diz respeito à viuvez, temos que evitar as fêmeas que se acasalam facilmente. Neste esquema, deveremos preferir voadoras calmas que não se mostrem ansiosas por se acasalarem entre si ou com o primeiro macho que lhe aparecer à frente.

Resumo
Com tudo o que disse até aqui, podem estar a pensar que é melhor ter boas fêmeas do que bons machos. Isto seria verdade se a columbofilia fosse apenas participar nos concursos, no entanto o nosso desporto envolve muito mais do que isso. Dos bons machos poderemos tirar muitos filhos, enquanto que das fêmeas poderemos tirar no máximo 10 borrachos por ano e como todos sabemos a criação é bem mais importante do que os concursos em si.
Vamos terminar salientando alguns pormenores… a) Até à idade de um ano, as fêmeas marcam muito melhor que os machos, quer sejam jogadas ao natural ou à viuvez. b) As fêmeas não se adaptam a qualquer sistema. Se optarem pela viuvez, devem escolher as mais calmas. As que se acasalam facilmente entre si não servem para a viuvez. c) A desvantagem de jogar fêmeas no ninho (natural) é que são extremamente difíceis de treinar à volta do pombal; para além disso só se manterão em super forma durante um reduzido período de tempo, digamos duas a três semanas no máximo. d) As fêmeas adultas também têm condições para marcar no top, mas este tipo de marcações acontece mais com a idade de um ano e jogadas à viuvez.

É fácil de perceber que os especialistas em jogar pombos novos preferem as fêmeas, enquanto que os columbófilos que gostam da viuvez com pombos adultos preferem os machos.
Muitas vezes perguntam-me como se pode detectar se um borracho de quatro semanas é macho ou fêmea? Um grande número de entusiastas procura a resposta a esta questão na forma da cabeça, nas asas, no tamanho da própria ave e até nos dedos das patas. É tudo uma grande treta. Nunca poderemos ter a certeza do sexo de borrachos dessa idade. No que diz respeito aos humanos, são mais fáceis de distinguir, especialmente depois do lançamento do Viagra…

© Ad Schaerlaeckens