ArtigosVisitas: Contador de Visitas 
Sobre a Sorte, as Ofertas e o Conhecimento do Pombo - Correio 18/08/2007

SOBRE A SORTE, AS OFERTAS E O CONHECIMENTO DO POMBO-CORREIO

Um dos meus anteriores artigos tinha por título: “Um pombo chamado “Sissi”. Nele mostrei argumentos e factos dos quais se conclui que é preciso alguma sorte para criar o tal super pombo que toda a gente procura.
Mencionei o “613” do Klak, talvez o melhor pombo que passou pelo pombal desse conhecido columbófilo holandês.
Ele desejava vender o pai a que chamava de “Knook” (feio), mas ninguém o comprava. Klak manteve esse pombo no pombal já que a origem era boa e esse pombo transformou-se numa das coisas boas que passaram pelas suas mãos.
Na colónia Houben passou-se um caso semelhante.
Um filho dos seus mais famosos pombos, a que mais tarde chamaria “Young Artist”, foi posto à venda mas ninguém o comprou. Mais tarde, os descendentes desse pombo começaram a ser cobiçados por columbófilos de todo o mundo e pagaram-se fortunas pelos seus filhos.
Um exemplo de que nunca mais esqueço é o do pombo conhecido por “05”, de Vermeulen. Os columbófilos holandeses consideram o “05” e “Olieman” de vd Veken, possivelmente os melhores pombos de meio-fundo de todos os tempos.
E, então, porque será que não são conhecidos e famosos no estrangeiro?
Há muito tempo atrás a competição fazia-se mais a nível local. Nesses dias a imprensa especializada não era o que é hoje e os columbófilos raramente compravam pombos, fazia-se negócio em pequena escala.
Quanto ao “Olieman” , um dos seus descendentes famosos é o “Fieneke”, do Vervoort.

A origem
Vermeulen que criou o “05” era um homem rico que gastou uma fortuna em pombos.
Ao acasalar, num já longínquo inverno, Vermeulen juntou os machos mais caros com as fêmeas em que gastou mais dinheiro. No fim da operação ficaram dois pombos, um macho e uma fêmea, que entraram no pombal como oferta. Não havia outra hipótese senão a de acasalá-los… formou o casal que afinal seriam os pais do grande voador que foi o “05”.
Como já disse, Vermeulen conseguiu os pais do “05” sem gastar um cêntimo. Mas isso não quer dizer que a origem não fosse boa! É bem verdade de que o columbófilo necessita é de sorte, sem contudo ignorar a origem…
Pombos que têm pais, avós e bisavós que não são bons, certamente também não darão bons filhos. Pombos de boa origem com boa descendência, também podem dar maus filhos, mas tais pombos têm muitas hipóteses de dar bons.
Alguns columbófilos pensam que criar bons pombos é uma questão matemática. Estudam os pedigrees e formam os casais. Porque será que nem sempre um casal dá um super, mesmo um único?
Podem comparar os pombos com os humanos. Numa família pode haver três filhos que são bons em línguas, matemática ou música, por exemplo, mas o quarto filho não ter aptidão para esses talentos, embora tenha o mesmo pai, a mesma mãe, a mesma educação, etc.
Na Europa, o futebol e o ciclismo são os desportos mais populares. Michel Indurain foi um fantástico ciclista, quase imbatível no seu tempo não muito remoto. Esse ciclista tinha um irmão gémeo que era muito semelhante ao Michel no aspecto físico. Eram dois irmãos gémeos mesmo de difícil identificação. O irmão de Michel também queria ser um bom ciclista, trabalhando duro para atingir esse objectivo, apesar de - repito - ter os mesmos pais, a mesma educação, etc., mas em termos de talento eram muito diferentes.

Não é apenas a sorte
Certamente que para atingir determinado objectivo não é só a sorte que conta. Porque será que são quase sempre os mesmos columbófilos que fazem introdução de bons pombos?
Porque será que são sempre os mesmos columbófilos que mantêm um quadro de reprodutores com bons pombos?
Porque são inteligentes, sabem que precisam de sorte, mas procuram dar-lhe um forte empurrão…
Já falei várias vezes da sorte que tive com a “Sissi”. Nessa altura visitei, acompanhado de um columbófilo americano, a colónia onde estava essa fêmea. Esse columbófilo nunca tinha ouvido falar da “Sissi”.
Sugeri-lhe que comprasse a fêmea ou alguns descendentes, mas ele disse que possivelmente esses pombos não eram bons, o seu pensamento estava mais longe. Foi talvez por isso que essa fêmea foi parar ao meu pombal. Portanto, a “Sissi” não nasceu no meu pombal, nem criei o macho com quem estava acasalada.
Comprei esse macho - o “Mattens” - antes de ter a “Sissi”.
“Que sorte tiveste quando compraste o “Mattens”! Quantas vezes ouvi isso e quantas vezes senti o sabor da inveja e censura.
Certamente, tive sorte, mas era muito mais que a simples sorte.
“Mattens” transformou-se num reprodutor excelente, mas, por favor, não pensem que é propaganda para vender os seus filhos, porque cedi o pombo uns anos antes de se tornar infértil.
O estranho é que esse pombo só dava bons descendentes apenas com uma determinada fêmea.
Fiz a experiência com outras fêmeas durante 10 anos, mesmo com algumas super fêmeas, mas os filhos nunca se transformaram em pombos de qualidade superior.
Aqueles que viram o meu catálogo de reprodutores, já ficam a saber porque razão o “Mattens” só aparece acasalado com uma fêmea. Como consegui o “Mattens”? Mais adiante podem ler acerca dele.

1991
Em 1991 tivemos uma belo concurso nacional com solta na cidade francesa de Orléans. Mais de 200000 pombos foram soltos e segundo os cálculos da Federação Holandesa tive o melhor resultado do país.
Ganhei o 2º, 3º, 4º , 5º, 6º, 7º, 9º, 10º, 11º, 12º, 15º. Nada mau!!! Em termos nacionais ganhei o 4º e 5º e quando entraram no pombal os meus 10 primeiros, nenhum columbófilo holandês tinha constatado 10 pombos.
Admito que, nessa prova, fui favorecido pela localização do meu pombal. Vivo a leste do país, as soltas fazem-se a sul e o vento soprava do noroeste. Os que vivem a oeste, perto do mar, estavam realmente mal localizados já que o vento empurrou os pombos para o interior do país, o que foi bom para os columbófilos que estão localizados na minha área. As melhores constatações foram de columbófilos dessa zona, mas para minha surpresa, junto aos melhores, vi o nome de um columbófilo que vivia junto ao mar. O seu pombo voou sozinho em condições adversas, fugiu à grande massa de atletas que seguiam para leste, enfrentando o vento desfavorável. Na verdade, esse pombo fez melhor trabalho que os meus.
Foi a razão porque peguei no telefone e falei com esse columbófilo desconhecido que se chamava “Mattens”.

Mattens
Mais tarde, os columbófilos queriam saber o que estava por detrás do nome “Mattens”. Entre eles o americano Mike Ganus que concursava com de pombos origem “Mattens”, os quais, segundo ele, estavam a destruir as suas raças.
“Mattens” é o nome de um columbófilo, dizia eu, disse-o muitas vezes. Todos encolhiam os ombros. Mattens? Quem é? Ficavam admirados!
Mas voltemos ao assunto que nos interessa.
Perguntei a Mattens se podia comprar pombos da sua colónia, porque tinha alguns amigos japoneses que queriam pombos de boa qualidade provenientes de columbófilos não muito conhecidos.
“Pode ficar com todos os meus pombos”, disse-me Mattens. Dirigi-me quase de imediato ao pombal de Achiel Mattens, que me disse estar na disposição de abandonar o hobby, visto o seu filho ir dedicar-se ao ciclismo ou ao futebol, não me lembro.
Negociamos todos os pombos acima do preço proposto e depressa fechamos o negócio. Todos os pombos iam ser transferidos para o japonês Masuda.
Entre todos os pombos vi um borracho de alguns meses de idade.
Como já o disse muitas vezes, o melhor é comprar pombos novos para valorizar uma colónia. Os próprios vendedores não sabem se o valor desses pombos é alto ou baixo. Especialmente os borrachos nascidos no verão são os melhores para comprar. Os columbófilos do norte da Europa não precisam deles para voar, nem os treinam. Por isso, se há um columbófilo que faz criação no verão é desse que se deve comprar, na maioria dos casos encontramos o melhor. Geralmente esses columbófilos criam para vender ou para os transferir para a reprodução.

Criação de verão
“Que me diz sobre este pombo tardio?” perguntei a Mattens.
“Guarde este pombo para si. É filho dos meus melhores pombos”, disse Mattens.
Não sabia o que devia fazer.
O japonês não ficaria satisfeito e eu não teria melhores pombos do que Mattens?
No entanto, decidi fazer a experiência e no ano seguinte esse pombo ficou junto aos meus reprodutores. Não tinha fêmea para ele, mas isso não seria problema, pensei.
Tinha acasalado todos os meus melhores pombos e porque teria eu de acasalar um pombo que me era desconhecido? No entanto, no pombal havia outro pombo sem parceiro, um que recebi como presente, sim, a “Sissi”.
Um macho sem fêmea e uma fêmea sem macho? Naturalmente, acasalaram… Tinha sido pura coincidência. Falando honestamente, não gostei dos seus primeiros filhos, tal como se apresentavam e, por essa razão, eliminei-os. Tenho cometido muitos erros neste desporto e este foi um deles.
Mattens + Sissi formaram um casal que fez história na Holanda.
Inúmeros pombos super, vencedores de concursos provinciais, nacionais, Pombos Ás nacionais e provinciais e mesmo Pombos Olímpicos foram seus descendentes.
Recentemente tive conhecimento que na China, Mr. Fu, obteve resultados sensacionais com tardios desse casal.
Tal como disse “Mattens”, só me deu bons filhos quando acasalado com a “Sissi” e é engraçado que com a “Sissi” aconteceu o mesmo. Acasalei a “Sissi” com o meu “Fast Blue”, um macho de 1988 que era também um excelente reprodutor. O resultado é que perdi um ano.
Imaginem. “Fast Blue”, o meu melhor macho reprodutor casado com a “Sissi”, a minha melhor reprodutora só me deu “lixo”.
É assim o nosso desporto.

A lição
As melhores hipóteses de obter bons pombos será quando se compram tardios… de boas origens.
E há também boas hipóteses quando se compram ou se recebem, como oferta, borrachos das primeiras posturas, sem terem voado.
Quando se vai às compras, devem ter a certeza que batem à porta de um homem sério. Mas ninguém pode garantir que os pombos que cede são campeões, mesmo que o columbófilo que cede os pombos diz que é do seu melhor.
É por isso que sempre disse: “não compreendo a razão porque o columbófilo observa os olhos dos pombos que quer comprar. Devia antes observar os olhos do columbófilo que vende os pombos”!

Finalmente
Quatro anos atrás um homem chamado Mattens telefonou-me.
Lembra-se de mim? Perguntou ele.
Certamente, lembro-me bem, pois nos meus pedigrees constam os nomes dos columbófilos da proveniência dos pombos. E diariamente os meus olhos encontram esse nome.
“Vou voltar a praticar a columbofilia”, disse ele. “Tem pombos para venda”?
“Para si, não” reagi. Quatro dias depois, pus-me a caminho de casa de Mattens com uma pequena caixa no carro. Nela estava um filho do “Mattens”, o “Creilman”, o melhor voador “Mattens” de todos os tempos.
“Este pombo é para si”, disse para Mattens. “É uma oferta”.
Dois anos atrás Mattens telefonou-me. “Ganhei um carro com um filho do seu “Creilman”, disse. “Esse pombo é um fantástico reprodutor”…
O melhor pombo que criei em 2002 é um filho da fêmea a que pus o nome de “067”, uma importação.
Estive na colónia de um columbófilo belga para comprar um irmão e uma irmã dum seu famoso pombo.
Paguei bom dinheiro pelos dois pombos, mas foi-me oferecido um terceiro: o “067”…

© Ad Schaerlaeckens