Maneio de uma Colónia |
03/01/2010 |
Maneio duma colónia
A constituição, manutenção e condução de uma colónia de pombos-correio, com vista ao êxito nas competições, depende, em absoluto, das decisões e procedimentos do columbófilo.
Em primeiro lugar há que ter em conta a logística a mobilizar, nomeadamente:
- Meios financeiros disponíveis;
- Local e área disponíveis para o pombal, ou pombais;
- Tempo disponível para o maneio da colónia.
Uma vez conhecida a capacidade logística decidir-se-ão os objectivos a prosseguir, com o maior realismo; se os meios forem "ilimitados" poderá pretender-se disputar a vitória em todos os concursos e campeonatos. Caso estes não o permitam, decidir-se-á concentrar forças na modalidade ou modalidades que mais satisfação proporcionem, por exemplo, usar a velocidade e o meio fundo prioritariamente como treino para o fundo, ou, pelo contrário, disputar a velocidade e o meio fundo e ignorar o fundo, preferir disputar o campeonato sacrificando os pombos, ou, contrariamente, jogar para os ases em detrimento dos campeonatos. Seja qual for o caso, há um conjunto de boas práticas, comum a todas as opções.
- Pombais localizados em local soalheiro, com frente entre o Leste e o Sul, com arejamento adequado, de materiais que proporcionem comodidade aos pombos e facilidade de higienização, e com população igual ou inferior a 2 pombos por m3;
- Alimentação, grites e abeberamento adequados, administrados com pontualidade;
- Sistema pré definido (uma das diversas variantes do natural ou viuvez), cumprido com disciplina e sem ziguezagues, do princípio ao fim da campanha;
- Duração do treino à volta do pombal, e, quando possível, de cesto, com frequência e distâncias concordantes com a natureza da prova a preparar;
- Observar com atenção, e tomar nota escrita, dos défices de forma atribuíveis ao pombal, (p.exº, sempre que o tempo é húmido, ou quente, ou apresenta variações de temperatura e humidade, no princípio da época, no fim, ou num determinado mês), uma vez haver a garantia que não resulta de variações do maneio; proceder às pertinentes melhorias no pombal, logo que a época termine (substituição de algum material deteriorado pelo uso ou por acidente, aumentar o arejamento em determinadas circunstâncias ou diminuir a área das aberturas noutras, etc.);
- Tomar nota das condições apresentadas pelos pombos semana a semana, antes do encestamento, e compará-las com os resultados obtidos; trabalho a realizar no fim da campanha, e proceder às correcções sugeridas a partir do início da campanha seguinte;
- Programa sanitário pré definido, elaborado por profissional habilitado, cumprido disciplinada e oportunamente, (não por "curiosos" com interesses muito dispares dos do columbófilo, tais como fazer experiências à custa de terceiros, ou impingir, a troco de retribuições monetárias indevidas, "secretas drogas milagrosas", o que, surpreendentemente, ainda se verifica em larga escala);
- Recurso a profissional habilitado logo que haja qualquer sinal de baixa de condição física de vários pombos (este determinará os procedimentos conducentes ao diagnóstico da causa, seja ela de natureza química, quer por natureza tóxica quer por eventual sobre dosagem de algum produto fornecido aos animais, seja uma carência nutricional, ou seja virulógica, bacteriana, parasitária, etc.). Não confiar a curiosos a solução de um problema, a maior parte das vezes complexo, que exige recurso a prática clínica e apoio laboratorial de altos níveis, e que, a não ser bem gerido, causa um prejuízo desportivo irreparável para os resultados da campanha.
- Assegurados que estão os pré-requisitos para o êxito, prevalece a capacidade de decisão e a racionalidade do critério do columbófilo nas diversas escolhas de pombos necessárias à obtenção do objectivo: a dos reprodutores (a selecção), a dos voadores e respectivo programa de trabalho (a triagem) e a dos que não têm o valor mínimo desejado e é indispensável eliminar (o refugo).
- o nível competitivo duma colónia está estritamente ligado e dependente do da selecção nela praticada. O melhor columbófilo é o que mais depressa identifica e elimina os pombos sem valor – Peiren dixit-Elite. De facto a selecção, ou escolha dos melhores, desde que acertada, como é evidente, é o principal factor de progresso duma colónia. É bom de ver que se um columbófilo não puser o seu melhor (ou os melhores) pombo à reprodução ficará a tirar borrachos de pombo inferior (ou de outros que não os melhores). Não se pode esperar senão o declínio de colónia em que se use tal critério.
- A escolha do pombo de selecção assenta em três pilares:
1º O trabalho executado pelo indivíduo em concursos;
2º O trabalho executado pelos ascendentes, descendentes (sempre que for possível, o que é raro) e outros parentes próximos (irmãos, primos direitos);
3º O fenotipo (ou os caracteres morfológicos exibidos);
Se fosse possível dispor do genotipo, e estivessem identificados todos os genes favoráveis, bem como as inter acções entre eles igualmente favoráveis, ou seja, da informação total e completa do que o indivíduo transmitiria à descendência, tínhamos cerca de 90% do problema resolvido. Felizmente para o desporto e para a nossa descontracção, tal está fora de questão e os factores aleatórios são maioritários. Há elementos desconhecidos em grande número como dissemos, mas há alguns que já são aquisições científicas, e aos quais devemos ater-nos com empenho e determinação. Em particular caracteres morfológicos, que para nossa sorte são observáveis e muito heritáveis, isto é, são, com relativa facilidade, transmitidos de pais para filhos. Alguns caracteres desejáveis:
- Elevada velocidade básica de locomoção aérea;
- Elevada capacidade de manter, todo o tempo necessário a efectuar o percurso, a maior velocidade proporcionada pelas condições atmosféricas;
- Elevada capacidade de repetição da perfomance;
- Elevada capacidade de voar à maior velocidade proporcionada por condições atmosféricas diferentes;
- Elevada capacidade de voar à maior velocidade proporcionada pelas condições atmosféricas em provas de diferentes distâncias e linhas de voo;
Estes caracteres dependem de diferentes sistemas e aparelhos do animal. Dependem do cérebro a orientação, o controlo da locomoção e a capacidade de decisão, nomeadamente escolha da altitude de voo, frequência e amplitude do ciclo alar entre outras. Só os resultados em provas nos permitem ter uma ideia sobre a qualidade destes caracteres no indivíduo. O trabalho muscular depende, além do controlo cerebral, da capacidade da fibra muscular, a célula base do músculo. Tanto a genética do cérebro como a do músculo são do tipo aditivo e não do tipo mendeliano com um só gene implicado, com é o caso da cor. Por isso, a heritabilidade destas características escapa-nos quase completamente. Teremos que cultivar o campeão com o maior afinco e segundo a arte, e esperar, com paciência, que a "caldeirada" genética do crack nos volte a sair na rifa (algum filho, ou, com maior probabilidade, um neto).
Para nossa sorte, os principais caracteres morfológicos implicados na capacidade do voo rápido horizontal, o voo de competição, têm sido objecto de trabalhos de investigação do mais alto nível, e podemos dispor desse conhecimento e aplicá-lo na selecção dos nossos pombos. A descrição de alguns destes caracteres, que têm interesse para a prática da columbofilia, será o objecto do módulo 3 – B.
Dezembro, 2009
António Chitas Martins
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