Os Campeões e o Círculo Completo |
18/08/2007 |
OS CAMPEÕES E O CÍRCULO COMPLETO Foi acerca de 15 anos atrás que algumas Associações da Europa e América começaram a organizar seminários. No Inverno, quando não há concursos, alguns campeões são convidados para esses seminários para falar sobre pombos. Esses convidados explicam como chegaram ao êxito neste desporto e respondem a perguntas. Os columbófilos apresentam variadas questões, em especial sobre os concursos de borrachos que os belgas e holandeses exploram tão intensamente. Eu próprio, enquanto orador, também tenho aprendido algumas coisas com a audiência.
Diferente Uma coisa que verifiquei foi que o interesse pela columbofilia difere de um país para outro. Alemanha: Ao contrário dos columbófilos belgas e holandeses, os alemães dão grande valor às raças e aos medicamentos. Não conheço nenhum país do mundo que dê mais medicamentos aos pombos do que os alemães. As vezes pergunto-me: “Quão fortes deverão ser esses pombos para sobreviverem a todos esses produtos que têm que engolir. Os alemães são suficientemente inteligentes para compreender que os medicamentos foram estudados para curar as doenças dos pombos e não para fazê-los voar mais depressa”. Um facto importante a ser mencionado é que são os alemães que têm mais problemas para manter os pombos saudáveis, especialmente os pombos novos. Não há nenhuma edição do jornal “Die Brieftaube” em que não apareça um artigo sobre as “doenças dos pombos novos”. “Qual será a razão e que poderemos nós fazer?”. Perguntam os alemães. Penso que os problemas que enfrentam são devidos ao abuso dos medicamentos durante muitos anos seguidos. A imunidade dos pombos ficou minada. Reino Unido: Um assunto favorito dos ingleses são os treinos. Quantas vezes? De que distâncias? Em que direcção? Treino individual ou em grupo? América: Na América é quase sempre a mesma cantiga: Os columbófilos falam acerca das raças e ainda da inevitável análise dos olhos. É incompreensível como os americanos acreditam tão fortemente em factos tão irrelevantes para os europeus. Os holandeses nem querem ouvir falar da teoria dos olhos. Sobre artigos que apareceram na Internet emitidos por um columbófilo sobre o tema “acasalamento pelo olho”, um americano apresentou a sua opinião que era desfavorável. Opinião de ingleses juntaram-se à de outros americanos presentes nesse Fórum, mas as reacções dos belgas azedaram a controvérsia e o assunto ficou encerrado. Holanda e Bélgica: O tema das raças praticamente nunca é abordado nos seminários ou conferências que se realizam na Holanda e na Bélgica. Na “Meca” do nosso desporto, os columbófilos quase unanimemente dizem que falar de “raças” é bom para quem negoceia em pombos, mas não são as raças que vencem os concursos. Sobre o problema do Adeno-Coli, há cada vez mais colónias a preocupar-se com isso. Neste artigo explicarei porque os pombais devem ser considerados tão importantes.
Círculo Sempre disse que os campeões normalmente fazem tudo o que é necessário para atingir o êxito total. Diria que preenchem todo um “Círculo” que é a prática da columbofilia. A qualidade dos pombos, medicamentos utilizados, treino, alimentação, motivação e pombais, fazem parte desse círculo. Se um dos elementos desse círculo falha, o círculo está incompleto, não fica fechado. Podem comparar este “círculo” a um cadeado em que cada um dos elos acima referidos deve estar ligado a um columbófilo arguto e decidido e este não pode ser o elo mais fraco desse conjunto. Outra importante parte deste círculo é o pombal, que deve ser construído com muito cuidado. Há muita literatura sobre a matéria nos jornais e revistas da especialidade. Ao analisarem-se algumas entrevistas de columbófilos poderemos verificar a atenção que dão aos pombais. O pombal foi, aliás, a razão que me fez decidir ser “escritor” na minha juventude. Os campeões pensam que o pombal é a base duma boa condição e todos sabemos quanto é importante a boa condição num pombo. Ouço frequentemente columbófilos dizerem: “Antes quero ter um bom pombal com pombos de qualidade média do que um mau pombal povoado com pombos super”, o que me causou imensa curiosidade. Ao longo dos anos aprendi realmente que é melhor apostar em pombos em forma do que apostar em pombos super em má forma. Alguns nunca deixam de comprar pombos procurando atingir o êxito rapidamente. É impossível que de entre todos os que compram não apareçam alguns bons, mas é certo que há columbófilos que apesar de comprarem muito, não conseguem fazer uma colónia estavelmente vencedora. É importante que se siga este princípio: A qualidade torna-se irrelevante se os pombos estiverem instalados num pombal sem condições. Podemos comparar a situação com o que se passa entre os humanos. Se trabalharmos num local desconfortável, nada funciona bem.
Las Vegas Certa vez estive num seminário em Las Vegas. O meu avião aterrou durante a noite e a única coisa que esperava era encontrar frio. A temperatura é normalmente alta em Las Vegas, mas não na noite em que cheguei. Nessa cidade visitei pombais e vi alguns pombos. Um dos meus hospedeiros desejou conhecer a minha opinião acerca dos pombos que me mostrou. Disse-lhe que não poderia ver se os pombos eram bons ou não, ninguém pode dizer isso, mas sobre a condição em que os pombos se encontravam já era outra história. Se os pombos estão em boa condição física ou não qualquer columbófilo experiente vê num relance, e os pombos dele não estavam em forma. Ele parece não ter compreendido… e disse: “Eu treino os pombos muitas vezes, dou-lhes a melhor ração, são analisados frequentemente por um veterinário e gastei muito dinheiro no pombal…” No entanto, o problema era o pombal com uma frente larga aberta e uma espécie de grelha instalada nos fundos. Compreendi a razão da frente larga aberta devido ao calor que faz durante o dia, mas não se coaduna nada com o frio glacial com vento que encontrei na noite em que cheguei. Os pombais que estão sujeitos a mudanças significativas das temperaturas do dia para a noite, afectam a condição dos pombos e os resultados no concurso que se realizou dias atrás, foi mau como era previsível. “A razão é que existe um problema tal como outros que vivem em Las Vegas”, disse eu. Ele olhou para mim, perguntando. “Um problema de pombal?”. Ele nunca tinha ouvido dizer mal do seu pombal. Quando me disse que tinha bons pombos, bons medicamentos e bons treinos, falei-lhe acerca do círculo.
Outra visita Estive também na China e em Taiwan. Não para um seminário, mas sim para ver in loco o tipo de columbofilia que praticam. Fiquei impressionado com a hospitalidade dos meus hospedeiros e a gentileza do povo. A beleza de Taiwan foi uma surpresa, não há só poluição, como me disseram. Os meus olhos ficaram esbugalhados quando vi o tráfego. Nunca vi tal confusão tanto na China como em Taiwan, contudo poucos acidentes acontecem. A polícia não é amigável, mas senti-me seguro, mesmo nas grandes cidades. Na Holanda, a polícia é amigável, todavia nas grandes cidades não nos sentimos seguros. Uma visita a casa da senhora Soong Ching Ling, em Beying, foi uma experiência única, incluindo o constatar o grande amor que esta excepcional senhora dedica aos pombos. Embora não estivesse em qualquer seminário, falei com columbófilos e vi alguns pombais. Como o clima em Taiwan difere muito do da China, esperava diferentes tipos de pombais pelas razões que descrevi, mas para minha surpresa não foi o caso.
O Ocidente e o Oriente Soube que Lai e Lai são dois grandes campeões em Taiwan. Fui um privilegiado por conhecer esses campeões, mas infelizmente não houve possibilidade de comunicação devido à barreira da linguagem. Não vi os pombos nem os pombais, mas posso dizer o seguinte: a) Devem ter melhores pombos que os outros columbófilos; b) Devem ser bons condutores de pombos, e…; c) Os seus pombos devem estar instalados em melhores pombais que os competidores. Estas são as características de qualquer campeão, viva onde quer que seja. Como o clima influencia o ambiente no pombal, dizer um bom pombal na Holanda ou na China, quer dizer que está adaptado ao respectivo clima. Mas um pombo é um pombo que necessita de viver num bom ambiente para atingir a boa condição, a forma, em qualquer lugar do mundo. Alguns columbófilos dizem mesmo que os vencedores não são aqueles que têm os melhores pombos, mas sim aqueles que têm os melhores pombais. Pode ser um pouco exagerado, mas há muita verdade nisto. Tive conhecimento de que ao contrário de alguns campeões europeus, os chineses e japoneses não têm nos pombais sistemas que possam compensar as mudanças climatéricas. Quando está vento ou frio na Europa, os columbófilos podem fechar as entradas de vento. Se está calor podem abrir os pombais ou ventilá-los. Accionam os sistemas quando a humidade é muito alta. Resumindo, fazem tudo o que é possível para não expor os pombos a influências desfavoráveis vindas do exterior para não fazer descer a sua condição.
Complicado O interior e os materiais utilizados na construção dos pombais devem ser cuidadosamente escolhidos. Grande parte dos pombais são construídos em madeira em quase todos os países; madeira é um bom material, mas não serve uma qualquer. A madeira dura, que até custa espetar um prego, é bonita e até dá para fazer uma bola de hóquei, mas não é com este tipo de madeira que se deve construir um pombal. Na madeira que não absorve a humidade, aparecem pequenas gotas de água devido às humidades de inverno. Querem saber porque os Irmãos Janssen nunca pintavam o seu pombal? Porque a tinta impermeabializa a madeira, passando esta a ser menos absorvente. Eis algumas características dum bom pombal: • Deve ser seco, mas não muito seco. Quando o grau de humidade desce a menos de 60, podem crer que os pombos ficarão com problemas respiratórios. • Não deve ser quente, nunca muito quente; • Não deve ter correntes de ar, mas deve haver suficiente oxigénio; • Não deve receber luz em excesso (é mau para os olhos); • Estes conselhos devem ser aplicados para as duas fases do dia… noite e dia. O problema que enfrentamos pode ocasionar controvérsias. Quando está vento, fecha-se o pombal, não há ventilação e pode acontecer uma insuficiência de oxigénio. Quando está quente convém abrir a ventilação. Encontrar o equilíbrio é da responsabilidade do columbófilo. A imprensa também tem uma parte da responsabilidade, pois deve alertar para estas situações. Queremos um desporto leal e sério? Um desporto só é leal e sério se todas as circunstâncias forem iguais para todos os participantes. Campeões que convidam outros para verem os seus pombais e os seus pombos, pode ser um bom exemplo. Já mencionei também a importância do interior dos pombais. Muitos pombais têm um aspecto bonito. Poleiros e ninhos muito limpinhos… mas no que diz respeito a pombos, são de boa qualidade? Os pombos gostam de um canto escuro para fazer o ninho. Lembrem-se que o actual pombo-correio descende de aves que viviam em buracos nas rochas. Os pombos têm que ter sítio disponível para pousar ou para encontrar um lugar. Num pombal deve haver mais poleiros que pombos. 40 poleiros em cada divisão com um pombo em cada poleiro, é bonito, mas não é aconselhável. Na Europa há muitos borrachos que se perdem. Há columbófilos que pensam que os borrachos que se perdem não “têm cabeça”, não são inteligentes, mas não é assim. Muitos borrachos não regressam ao pombal porque não se sentem bem nele. Há um exemplo dum borracho dum meu amigo que vive a cinco quilómetros a sul de minha casa. Entrou no meu pombal quando tinha cerca de dois meses de idade. Larguei-o a 40 kms a sul. Supunha que ele passaria pelo pombal do meu amigo e entrava, mas não, voltou ao meu. Regressando ao meu pombal, este borracho de dois meses, sem treinos e fazer 40 kms parece-me ser um pombo inteligente… Qual a razão de não regressar ao pombal onde nasceu? Talvez não se sentia confortável no seu! Parece-me que ter bons pombos, dar boa alimentação, bons medicamentos e treino adequado, mas pombais de construção deficiente, excesso de lotação, leva-nos a um círculo que não é total, é imperfeito. O pombal deve ser a primeira preocupação do columbófilo.
É verdade, aconteceu Um dos grandes campeões de todos os tempos foi o dr. Linssen. Como era um cioso amigo de Klak, conseguiu ter borrachos dos melhores pombos de Klak e colocou-os num pombal que tinha todos os ingredientes para ser bom. Contudo não conseguiu ganhar um prémio decente com esses pombos. O veterinário que foi consultado concluiu que os pombos não estavam doentes, mas também não estavam em forma. “Alguma coisa deve estar errado no pombal”, disse-lhe Klak. O dr. Linssen decidiu então fazer uma nova experiência e mudou o pombal para cerca de 30 metros mais longe, com as frentes viradas para outra direcção e onde não havia árvores. A forma dos pombos mudou radicalmente. Os pombos começaram a dar boas provas como voadores e o dr. Linssen foi um grande campeão. O pombal era o mesmo, mas a sua colocação e o que o envolvia, eram melhores para o efeito. Apenas um facto - a localização do pombal - completou o círculo. Um bom tema para reflexão.
© Ad Schaerlaeckens
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