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Provinciano na Grande Cidade 18/08/2007

PROVINCIANO NA GRANDE CIDADE

O seminário para o qual tinha sido convidado na qualidade de orador era em Amesterdão. E se há coisas neste mundo que me assustam é conduzir, à noite, numa cidade como essa.
Foi a razão porque optei por tomar um táxi. Não sei se todos os taxis dessa cidade são como o que me apareceu que até era muito especial. Todas as janelas estavam blindadas e com posters de jogadores célebres do “Ajax”, um clube de futebol muito conhecido em todo o mundo. A respeito de Amesterdão e o “Ajax”, nesse dia aprendi algumas lições.

O “Ajax” é enormemente popular na grande cidade, a adoração pelo clube é tão grande que parece quase uma religião. Se algum dos habitantes de Amesterdão algum dia vos perguntarem o que pensam do “Ajax” é melhor dizer, para vossa segurança, que é o melhor clube de que algum dia ouviram falar, que os seus jogadores são “frios”, que o vosso corpo até treme quando os vêem jogar. O que eles mostram no campo não é futebol, é arte.
“Os futebolistas do “Ajax” são os melhores do mundo”, disse eu ao motorista do táxi enquanto rolávamos pela escura cidade de Amesterdão.
“É verdade, provinciano”, disse o taxista um pouco tempo depois. (Em Amesterdão consideram que os de fora da cidade, são todos camponeses). Saí do taxi mais adiante e entrei no café onde estava previsto realizar-se o seminário sobre pombos e o desporto columbófilo.

Somos todos irmãos?
No café os meus olhos saltitaram. Viam-se afixados posters de todas as estrelas do “Ajax”. Música ensurdecedora (canções do clube) saía dos altifalantes directamente aos clientes que entravam, mas encontrei uma forma de ultrapassar isso fazendo um acordo com o empregado, que a troco de algumas moedas, mudou a direcção do som.
Estava com receio que o próximo cliente gostasse de música alta e pudesse também comprar a mesma coisa.
Apontei para um poster e disse: Eu gosto do Kluyvert. ”Não, esse é o Davids”, reagiu o empregado.
Era um homem com uma barba enorme, um pequeno pássaro poderia fazer ninho nela. Ria-se e bufava a espuma das canecas de cerveja para alguns clientes, isto talvez porque numa das mesas do café estava um cliente a ler uma revista do “Feyenoord”, outro clube famoso holandês, de Rotterdam. “Ajax” e “Feyenoord”? É sempre uma guerra entre eles e sempre tem havido. Água e fogo. Os Beatles e os Stones.
Na Holanda ou se é adepto do “Ajax” ou do “Feyenoord”. Dos dois ao mesmo tempo, não pode ser.
“Uma cerveja”, pediu o cliente adepto do Feyenoord. “Não aceito gente de Rotterdam na minha casa”, resmungou o criado.
Seremos todos irmãos? Talvez um dia…

Porque será?
Porque será que o leitor certamente ficou admirado pela forma como comecei um artigo columbófilo? Há vários motivos:
Ninguém poderá obrigar-me a que escreva sobre pombos, sempre de pombos desde a primeira à última linha. São tantos os artigos que escrevo. Muitos columbófilos holandeses gostam de futebol e adoram o “Ajax”.
É verdade que os apoiantes do “Ajax” odeiam os do “Feyenoord”, mas muitos naturais de Amesterdão, refugiados e os viciados em drogas, não odeiam os estrangeiros, antes pelo contrário. Gostam deles, em especial dos do Extremo Oriente porque pensam que são todos ricos.
Assim, se costumam visitar cidades como Amesterdão, Bruxelas ou Paris, leiam bem o que escrevi e tomem as devidas providências.
O quarto motivo porque escrevi este intróito, é porque realmente aconteceu. Mas agora voltemos ao nosso desporto. Atrás desse café havia uma grande sala onde os columbófilos aguardavam o início do seminário e eu era o último dos convidados a chegar. “Fiquei preso no tráfego”, menti.
E deu-se início ao seminário.

Porque anda com um bebedouro de um pombal para outro? Alguém, que tinha visto uma cena dessas no meu pombal, colocou-me logo essa primeira pergunta.
“Porque evito gastar inutilmente dinheiro”, disse. Seguiu-se o silêncio. Os columbófilos olhavam para mim como se não compreendessem. “A água não é assim tão cara, pois não?” E então comecei a explicar:
“O columbófilo que viu esse pormenor certamente que me visitou num dia quente quando na água havia vitaminas ou medicamentos. Sobre as vitaminas e medicamentos todos sabem que o seu poder activo expira rapidamente na água, pode mesmo tornar-se tóxico, especialmente quando é exposta muito tempo à luz do dia ou a altas temperaturas. Neste caso, os pombos de um pombal beberam um pouco desse bebedouro depois de comerem e levei o bebedouro para o segundo pombal para outros beberem o resto. Se tivermos quatro pombais e se dermos muita água de manhã aos pombos, pela tarde temos quatro bebedouros ainda com muita água. Se essa água tiver medicamentos ou vitaminas, certamente que para o fim do dia já não têm grande efeito. Se utilizarem apenas um bebedouro e o forem transportando de pombal para pombal, não se desperdiça nada e obtêm-se melhores resultados. É também por essa mesma razão que cada vez é mais utilizado na Holanda o sistema de dar as vitaminas ou medicamentos juntamente com a ração. Se os medicamentos forem apresentados em pó, humedece-se a ração com um pouco de água açucarada para melhor aderência dos produtos à ração.
Alguns utilizam o óleo de alho ou outro tipo de óleo. Acho que não é a melhor forma, porque o pó, dessa maneira, não adere muito bem à ração. No caso de utilizarem o popular Ronidazole 10% (tricomonas) três ou quatro gramas por quilo de ração é uma boa dose.

Quais são as melhores vitaminas para dar aos pombos? Foi a segunda pergunta.
Foi uma boa e difícil pergunta para responder.
Em minha opinião pombos saudáveis não necessitam de vitaminas extra. Os pombos obtêm o que necessitam através da ração e o sol tem uma influência muito benéfica, também. Mas os pombos não estão sempre em perfeita saúde, por terem sido submetidos a uma prova dura, por exemplo, ou por terem sido atingidos por qualquer doença, por exagero no número de posturas e criação de demasiados borrachos, nestes casos as vitaminas são úteis, na verdade. Mas que vitaminas e que quantidade?
Temos largos conhecimentos acerca das necessidades das galinhas, porcos, patos, vacas, etc. Estão em causa valores económicos elevados e por isso existem muitos estudos e testes sobre esses animais. O pombo-correio ainda não suscitou esse tipo de investigações, embora haja já alguns estudos
No entanto queria dizer: Se dão vitaminas, então dêem as apresentadas por uma casa com boa reputação. Para além disso, deveremos sempre dar um complexo vitamínico e não apenas a Vitamina A, só a C, só a E, etc.
Para aqueles que gostam de números posso dar-lhes os que tirei de um relatório de um cientista da Universidade de Gent, na Bélgica. Esse relatório diz que um pombo necessita por dia:
Vitamina A = 200 I.U.
Vitamina B1 – B2 – B6 = 0,1 mg
Vitamina B12 = 0,3 mg
Vitamina C = 1 mg (ácido ascórbico)
Vitamina D3 = 50 I.U.
Vitamina E + K = 1 mg

Quando uma vez perguntei a esse cientista se poderia dar vitaminas extra aos meus voadores que estavam de boa saúde. Sabem qual foi a sua reacção? Encolheu os ombros. Não sabia.
Em relação à vitamina C, disse que sabia que não se deve dar vitamina C adicional, nada mais do que as necessidades normais.

Muitos columbófilos dão aos pombos vitaminas para humanos. A razão é que eles querem estar certos do que está escrito no rótulo corresponde ao que está dentro da embalagem, o que me parece bastante estúpido. Contudo, a questão pode levantar-se no que respeita ao saber se as necessidades dos pombos são as mesmas que as dos humanos. Para um dos columbófilos presentes nesse seminário, eu não teria sido suficientemente claro. “É uma linda história, disse, mas fico sem saber se devo ou não dar vitaminas extra aos meus voadores, mesmo que estejam de boa saúde”.
Respondi… “Realmente não sei”.
Estava também presente um veterinário que providencialmente veio confirmar o que tinha dito. “Eu também não sei”, disse aquele veterinário.
Qual é o aditivo à ração que considera mais importante? Foi a pergunta seguinte.
Grit, disse eu. Aprendi isso, há uns tempos atrás, com o dr. Lemahieu, uma autoridade em doenças do pombo-correio.
Quando os pombos regressam duma prova dura, o dr. Lemahieu disse-me uma vez para pôr à disposição dos pombos grit junto ao ninho e alguma comida e verificar o que aconteceria. Fiz isso, e que vi?
Os pombos realmente picaram algum grit em primeiro lugar e só depois comeram a ração.
O grit contém cálcio e minerais e é também usado em pássaros e aves que vivem permanentemente em aviários. Quando uma ave enfraquece tentam salvá-la em primeiro lugar com cálcio e minerais. E então porque será que o grit é tão pouco falado na imprensa columbófila quando é tão importante?
Bem, a resposta é simples. O grit não dá lucro. É pesado para transportar e o lucro é realmente muito pequeno. Por isso, não lhe fazem muita publicidade.
O grit continua a ser de grande importância para os pombos e é por isso que eu tento que os meus pombos comam o mais possível. Há muitos aditivos que são caros e os pombos não necessitam deles quanto o grit.
O grit é barato, e é essencial para os nossos pombos. São os dentes das aves.

Um dos convidados leu algures que não haveria problemas se os pombais não fossem limpos todos os dias. Tinha curiosidade de saber se haveria consequências e aumentava o perigo do aparecimento da coccidiose.
A minha opinião é que se exagera muito em relação à coccidiose. Normalmente os pombos não são atacados por fortes infecções, se apenas existe um baixo teor de coccidios nas análises feitas, não é razão para alarme.
Também deve ser dito que as cercanias do pombal não devem estar sujeitas a humidade e que o próprio pombal também deve manter-se seco.
Tempos atrás tinha um microscópio e pensei que poderia, utilizando-o, evitar algumas idas ao veterinário. Fiz muitas análises às fezes. Fiz daquilo uma espécie de desafio. Para provar o que tinha encontrado coincidia com o parecer do veterinário. Depois desta experiência e a respectiva análise de controlo, acabei por chegar a bom caminho e quando encontrava qualquer coisa anormal, fazia a medicação. Até que um dia, já cansado, deixei de fazer a medicação. Mais tarde voltei a testar as fezes e encontrava sempre coccidios. Contudo, nunca tantos, como anteriormente!
Acerca da coccidiose devem saber o seguinte:
• Pombos instalados num pombal seco, dificilmente são atacados por forte infecção.
• Medicamentos que actuam bem contra a coccidiose, geralmente, baixam a forma do pombo. Especialmente os baseados nos “sulfa”.
• Os pombos podem, espontaneamente, recuperar de uma forte infecção por coccidios. Por isso, sem medicamentos, basta, apenas, instalá-los num local seco e a coccidiose vai-se embora. A coccidiose é considerada como uma doença adicional. Pode ser um problema se os pombos se encontram enfraquecidos por outras doenças, como a paratifoide ou estreptococcis.
• Tricomoníase, paratifoide, adeno-coli, doenças do trato respiratório, necessitam de mais atenção do que a coccidiose.

Qual é a melhor maneira de treinar pombos de ano? Perguntou um columbófilo!!!
“É difícil de dizer qual é o melhor caminho, mas posso dizer o que é que eu e outros campeões fazem”, disse.
Começamos com soltas a cinco quilómetros de distância. É realmente curta, mas não é a distância que é relevante. É importante que os pombos tenham experiência do cesto.
O columbófilo que não anda de olhos fechados, verá com que aspecto e em que condições chegam os pombos novos que pela primeira vez vão ao cesto.
A segunda solta é feita a 10 quilómetros e os pombos por vezes chegam ao pombal muito tarde, mas esse facto não é importante. O treino seguinte faz-se a 15 quilómetros e novamente alguns podem chegar tarde. Então, continuo a fazer treinos de 15 quilómetros até que os pombos façam um voo directo para o pombal. Depois podemos passar para soltas a 25 quilómetros ou mais.
Isto é o que fazem os especialistas de velocidade da Bélgica e Holanda e como eu próprio procedo. Poderá ser diferente noutros países…

Um jovem columbófilo criou cerca de 40 borrachos e cerca de um terço saíram fêmeas. É uma coisa boa ou má? Perguntou.
Tais factos (ou o contrário) acontecem frequentemente, é pura coincidência. Se é bom ou mau depende do columbófilo. Na Europa, grande parte dos columbófilos de certa idade, viajam na viuvez com machos. Para esses é bom ter muitos machos jovens. Contudo, será melhor ter muitas fêmeas se preferirem a especialidade dos concursos de borrachos e pombos de ano.
Um amigo meu tem três paixões: Estatísticas, pombos e a sua mulher. Espero que a paixão pela sua mulher não entre na ordem acima descrita!
Bem, este homem está fascinado por números (estatísticas) e fez um estudo de todos os pombos novos que ganharam o título de “Ás” ou ganharam concursos importantes.
A sua conclusão foi que 62% desses ganhadores eram fêmeas. Portanto, ficou claro, que numa prova de borrachos é preferível encestar mais fêmeas que machos.

O coordenador do seminário achou conveniente ter chegado a hora de irmos para a última questão da noite e perguntou-me se havia qualquer coisa que desse aos meus pombos que considerasse importante e ainda não tivesse sido mencionada nesta sessão.
Sim, há efectivamente. Dou aos meus pombos o Sedochol. Sedochol tornou-se muito popular recentemente, entre os campeões na Holanda e Bélgica.
Contém metionina (bom para o fígado) e sorbitol. Sechodol é especialmente útil para obter penas sedosas, especialmente durante o época da muda, mas também durante todo o ano. Os pombos cujas penas sejam macias, sedosas, têm vantagem quando lhes aparece a chuva nos concursos a caminho do pombal. A água desliza mais facilmente por cima da plumagem e por serem macias, evita que o pombo pese mais. Compreende-se que um pombo com excesso de peso tenha mais dificuldade em voar.
Outra coisa em que acredito é nos electrólitos. Dou electrólitos quando os pombos ficam desidratados por voarem com tempo quente e quando estão doentes por exemplo com E. Coli.
Como todos sabem, a água é essencial à vida. Cerca de 55% do peso de um pombo adulto é água. Perder 10% do peso resulta em perturbações dos rins e outros órgãos. A perda de 20% do peso pode causar a morte.

Conclusão
Agradeci à audiência e os presentes também retribuíram os agradecimentos. Por mais anos de prática columbófila que tenhamos, não podemos dizer que já sabemos tudo. Parece que todos ouviram as minhas palavras com atenção porque sabem os resultados que tenho obtido com os meus pombos. Mais tarde, concerteza gostarão de ouvir outros columbófilos.
Tal como no “Ajax”, os jogadores são um conjunto de jovens que anseiam um dia tornar-se famosos. Mas quando o “Ajax” deixar de dominar no futebol holandês, o seu estádio certamente não ficará cheio de jovens que desejam aprender. Procurarão outro local…
Pelo mesmo motivo, se os meus resultados nos pombos descerem para um nível muito baixo, serão convidados outros oradores para os seminários.
Para Amesterdão não estou muito interessado. Provincianos realmente não gostam das grandes cidades…

© Ad Schaerlaeckens