O POMBAL Costumam dizer que o Desporto columbófilo é assim tão difícil que além daquelas regras gerais de que têm falado é um jogo cheio de pequenos nadas que, afinal, ditam muitas vezes a sorte do concorrente? Será assim? Ah! Mas nisso não tenham dúvidas e um pouco lá mais para a frente, terão ocasião de verificar o que representa, para se marcar bem ou mal, deixar passar ou não uma particularidade. No entanto, estou aqui para lhes falar francamente e adverti-los, se for caso disso, dos perigos que resultam da pratica de muitas inconsistências que andam, de boca em boca como se delas dependesse um titulo ou uma boa classificação. Em columbofilia só há uma coisa que se deve começar pelo fim: é começar com bons pombos. É, digamos, meio caminho andado. No resto, comece pelo principio e respeite as linhas gerais.
Como arranjar bons pombos? É muito simples! Qualquer amador não, terá dúvida em oferecer uns ovos dos seus melhores. Basta que se lhe dirija em termos simpáticos e ponha em relevo as suas qualidades, mas com sinceridade, e fale-lhe do seu amor pela causa. Não peça borrachos e tenha muito cuidado com o que os brasileiros chamam de “bajulação” , isto é, não faça elogios gratuitos. Creia que há muitos e bons amadores de Norte a Sul do País que o auxiliarão. Se tentar este jogo, pare assim que for atendido. Dedique-se à “Séde” e você, como “Filial” , conte-lhe as suas alegrias e tristezas, as suas derrotas e vitórias. A “Séde” é muito curiosa, verá! Há uma época do ano maravilhosa para se conseguirem bons pombos e baratos. É quando terminam as campanhas desportivas. Os amadores têm pombos para abater que não renderam nos concursos mas que são, por vezes, irmãos de outros que foram muito bons. Esta é a altura ideal para quem não tem muitos meios de tentar a sua sorte. Mas se pode abrir a carteira, abra-a, porque ainda é o argumento mais poderoso que conheço.
Bom! As linhas gerais deste nosso desporto baseiam-se em cinco máximas: Ter bons pombos; Instalações apropriadas; Muita higiene; Águas sempre limpas e frescas ; Alimentação sã e bem lotada. ? ... Não, não! Perdão, eu não disse instalações luxuosas. Disse apropriadas. Tanto podem ser de madeira como de alvenaria. O ideal são as de alvenaria com chão de madeira. Fuja sempre ao chão de cimento, porque é condutor de humidade. Na maioria dos pombais com chão de cimento, a forma aparece mais tarde. Mas se o local não permitir construções em alvenaria, há hoje diverso material que, para o efeito, nada ficam a dever aquele tipo de paredes. Uma estrutura feita de barrotes ou cantoneiras perfuradas, forrada interiormente com “Platex” e, exteriormente com chapa de zinco ou alumínio e entre uma e outra, “lsotex” ou “Esferovite”, dá ao pombal um maravilhoso ambiente, que, até a nós apetece estar lá dentro longas horas. Gostos não se discutem. Para mim, o fundamental é que ele seja bem ventilado.
Proponho-me construir consigo um pequeno pombal. Está de acordo? Óptimo. Um pombal que dê para trinta pombos, pois não são precisos mais; com 2,5 metros de comprimento por 1,8 metros de largura chega perfeitamente. Três filas de cinco ninhos com 0,50 de frente e 0,35 de fundo, servem para quem voa ao natural. 0 que vamos construir não é em alvenaria mas, se alguém tiver essa possibilidade, convém que os ninhos sejam em madeira, exactamente porque são menos frios; é importante que as paredes fiquem lisas, sem saliências ou recortes, fáceis de limpar e sem dar possibilidade de abrigo a muitos e variados insectos que atacam as penas dos pombos. Andou por cá um amador muito bom, por sinal, que dizia: 0 que é precise é ter bons pombos! 0 pombal? ... Um arco e uma saca chegam! Não é verdade. Toda, a gente o sabe, e a sua versão do pombal era um exagero e uma sátira, para valorizar os seus pombos e vamos lá, para encobrir um pouco o seu desleixo. 0 que não há dúvida é que ele considerava como fundamental - com certa razão - ter bons pombos. Antigamente, para marcar bem, bastava que se recebessem pombos no primeiro bando. Hoje não! Hoje, para, se ganharem prémios de cabeça, é preciso que os nossos pombos venham à frente... dos, da frente e, para isso, para se exigir grandes feitos, é necessário ter bons pombos, sem dúvida, mas é conveniente não esquecer as outras quatro máximas, não falando na sorte e na intuição.
0 pombal que vamos construir é em madeira e, tal em disse antes, forrado a “Platex” por dentro e a chapa de alumínio ondulada por fora; entre uma outra, colocamos placas de “Isotex” ou esferovite de 40m/m. Este material, que tanto isola o calor como o frio, é de todos o que melhor conhecemos para este efeito. Utilizando estes tipos de materiais de construção; o pombal, fica de tal modo impermeabilizado, que não há humidade que lhe penetre, não devendo esquecer-se que a humidade é o maior inimigo dos pombos e, quando associada com alguma doença, representa tal força, que é frequente destruir, desportivamente, colónias que antes só respiravam saúde. E já que estamos a falar na construção de pombais, devo aconselhá-lo que há todo o interesse em legalizar tais construções, principalmente na Câmara Municipal do seu concelho pois, é vulgar, os vizinhos, “por dá cá aquela palha”, apresentarem a mais inverosímeis razões, queixas que fazem chegar ao Município e á Federação. Esta aprovação, como é evidente, não lhe dá o direito de trazer os pombos á solta para irem comer as couves ao quintal de um vizinho, ou sujarem a roupa estendida de outro, andarem na vadiagem a entupir os algerozes ou, ainda, soltar os pombos ao domingo, à hora da chegada dos pombos de concurso, nem inibe o senhorio ou outro qualquer lesado de, amanhã pedir a sua demolição ou uma indemnização pelo prejuízos causados pela falta de higiene ou, pelo seu mau comportamento. Isto é muito importante!
O que utilizar para cobrir o pombal? Eu não hesitaria em cobri-lo com telhas ou chapas de fibrocimento e nunca com chapas de alumínio ou ferro galvanizado. Porquê? Porque quando chove com certa abundância e é noite, o barulho que a água provoca na sua queda sobre estes materiais, perturba o sossego dos pombos e por outro lado, como estes materiais são mais baratos que os outros, há que procurar, em condições idênticas proporcionar o maior conforto possível. Não esqueça no entanto, que qualquer destes materiais não serve como tecto do pombal e, assim, há toda a conveniência em montar um tecto em cartão prensado ou qualquer aglomerado de madeira. Nas noites muito frias e húmidas de inverno, pode verificar como a humidade ressuma em pingos de água quase gelada através dos materiais de cobertura. Aplicando este forro ou tecto, o ambiente do pombal é mais agradável e os pombos estão mais defendidos das baixas temperaturas. Além disso este tecto presta-se, admiravelmente para uma ventilação controlada sem corrente de ar. Se deixarmos à vista os canais das chapas onduladas de fibrocimento e se por outro lado, abrirmos no tecto do pombal uma série de furos de 25m/m consegue-se uma ventilação quase perfeita. Sabendo que o ar quente sobe, procurará escapar-se pelos furos que abrimos no tecto e como por outro lado, o ar sempre renovado, entra e percorre os canais da chapa, sucede que sem grandes dispêndios e engenharias, conseguimos um ambiente perfeito e agradável para os pombos.
Como está lembrado, estamos teoricamente a construir um pombal de 2,5 de comp. Por 1,8 de larg. para trinta pombos. E neste momento, já o temos assente sobre quatro pilares em tijolo com 1,9 mts de altura. Os lados, as costas e a cobertura já estão fixados, falta a frente e os ninhos. Nos ninhos há um principio a seguir: rejeitar todo o género de portas que dificultem a entrada e saída dos pombos e ainda que não torne fácil e prática a sua retirada quando lhe pegamos. Pretende-se portanto uma entrada ampla, ou a toda a largura ou a toda a altura.
Ponhamos de parte por alguns instantes a construção do pombal e falemos de outros assuntos que também reputo de enorme interesse para a formação moral de um bom columbófilo. Você sabe que não pode possuir pombos em anilha? Ou pombos anilhados, sem título de propriedade, ou ainda anilhar pombos nascidos num ano, com anilhas de anos anteriores? O columbófilo que se preza não comete estas infracções voluntariamente e, mais, não fornece anilhas oficiais a quem não é columbófilo como nós, isto é sócio de qualquer colectividade. Sempre que lhe entre no pombal um pombo estranho, você, o mais rápido que lhe for possível, comunique o seu aparecimento para a Federação, que ela trata de identificar o seu proprietário e comunicar-lhe. O proprietário não só lhe fica muito grato, como pode ajudá-lo com ofertas; mas se isso não suceder, você, acima de tudo, é columbófilo e este procedimento, além de ser nobre, faz parte das nossas regras de jogo. Se tiver que cobrar algo pela sua alimentação, seja justo e comedido, pois eu conheci exigências como se tivessem alimentado o “aparecido” a caviar ou faisão.
Vamos voltar a falar de novo no pombal e continuar a sua construção. A frente do pombal depende muito do sistema que se voa e do gosto de cada um. Se o sistema é a viuvez, não há que escolher; uma ampla janela de modo a facilitar o mais possível aos pombos um voo directo aos seus ninhos. Se o sistema é o natural e temos os pombos bem dominados, continuo a aconselhar uma entrada, livre ou, em sua substituição, uma entrada tipo “mergulhador”. É evidente que há mais tipos, de entradas, e presentemente, para quem voa ao natural, a mais divulgada é a entrada “americana”, mas quanto a mim, existem diversos perigos que não a tornam na mais aconselhável. 0 concorrente, na ânsia de constatar o mais rápido possível, por vezes, magoa-os e todos nós conhecemos a memória privilegiada dos pombos, resultando daí recusas futuras cujos prejuízos afectam muito mais o moral que a bolsa do columbófilo. É portanto, necessário que não se perca, com a chegada, segundos preciosos, que decidem quase sempre os melhores prémios da classificação. 0 resto depende, como já disse, do gosto de cada um. 0 que é necessário é que fique bem arejado.
0 mobiliário? Se voa ao natural e não dá comer nos ninhos, um simples xadrez em madeira com as arestas bem boleadas, um bebedouro de sifão em vidro ou barro, de boca bastante larga, de modo a poder introduzir qualquer objecto que garanta, diariamente, aos pombos, uma bebida fresca e limpa, um tabuleiro em zinco de harmonia com a quantidade de pombos que possuímos e pode dizer-se que é o suficiente.
Dois pormenores que talvez tenham interesse: a voar ao natural, de um modo geral chamamos os pombos da porta e para que eles entrem rapidamente, convidamo-los, atirando pequenas quantidades de ração para dentro do tabuleiro; mas se este tiver um fundo liso provoca menos ressonância e a ração ressalta para o chão; para se evitar que tal suceda, nós vamos adquirir um, cujo fundo tenha a configuração de duas ondas iguais ás das, chapas onduladas, mas mais abertas como é evidente. Para quem prefere o patim á janela e usa, portanto, mergulhador, aconselhamos a fazer um aro em ferro ou madeira e a aplicar uma rede de malha miúda de modo que a chuva quando cai não ressalte para dentro do pombal e o molhe, pois não podemos esquecer, o perigo da humidade e, por outro lado, também não podemos olvidar, que quando os patins são cobertos de chapa de ferro o Sol ardente a incidir sobre ele, dá-lhe temperaturas que os pombos não suportam. São pequenos nadas, mas tem interesse. Eu vivi esta experiência e lembro-me de ter dito: “Que raio têm os pombos hoje, que não entram? Parece que vêm malucos!”. Eles não podiam suportar o calor da chapa do patim.
Se dá comer nos ninhos, não queira patim, proceda como os viuvistas, uma ampla janela e ninhos divididos com baias, comedouros dependurados, nas frentes e nos fundos forrados a papel de jornal a substituir duas vezes ao dia. O chão do pombal até pode ser encerado, como muitos viuvistas se orgulham. É tudo uma questão de gosto e olhe que não perde mais tempo. Só o advirto que isto de voar pombos ao natural fechados nos ninhos, não é para todos.
FIM
Carlos Fonseca |