A arte de dar troco |
01-05-2012 |
"«Misturar alhos com bugalhos», ou «não bater a bota com a perdigota», são expressões usadas para descrever uma discrepância no discurso, ou para descrever um diálogo impossível entre duas pessoas que falam linguagens diferentes. Quando a sintonia é impossível, aí dizemos que a conversa se torna «conversa de surdos». Mais importante que falar a mesma língua, é falar a mesma linguagem.
E defendo que devemos adoptar um discurso e uma linguagem que se tornem compatíveis com o discurso e linguagem do interlocutor. Se não nos adaptarmos e não adoptarmos a linguagem do outro, corremos o risco de ficar «a falar para o boneco» (mais uma expressão a juntar às outras três já referidas).
Acerca desta adaptação do discurso, o Rei Salomão, da Bíblia, dizia que devemos responder ao parvo segundo a sua parvoíce. Por exemplo, quando levamos um electrodoméstico a reparar e o técnico pergunta: «Está avariado?» A resposta pode ser: «Não, ele estava cansado de estar em casa e eu trouxe-o a dar uma voltinha». Ou quando estamos de olhos fechados, no escuro, embalados no sono e nos perguntam se estamos a dormir, a resposta pode ser «não... estou a treinar-me para morrer».
Este nivelamento do discurso e esta coerência da resposta é superiormente ilustrado pelo grande Diógenes de Atenas: durante um banquete, alguns dos convivas atiraram ossos a Diógenes, tal como se faz a um cão. Ele não se conteve e foi urinar sobre eles exactamente como um cão faria!
É preciso aprender a arte de dar troco…"
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