Nunca se sabe.... |
06-10-2011 |
Acabo de ver um daqueles programas de televisão que tenta alertar para a necessidade de se desenvolver uma consciência ambiental. A beleza dos diferentes ecossistemas e o seu frágil equilíbrio devem merecer a nossa atenção e cuidado. Como é habitual nesses programas, as imagens são de uma beleza imensa, quase indescritível, de cortar a respiração. Vales profundos, montes cobertos de neve, lagos calmos que espelham o calor do sol poente, planícies vestidas de cores e flores, animais de andar elegante, aves que se espraiam pelo horizonte... imagens paradisíacas. Lembrei-me que Nicolas Malebranche (séc. XVII) dizia que olhamos para a grandeza e beleza da natureza com extasiada admiração e emoção, mas esquecemo-nos de olhar para o homem e para a beleza que o caracteriza. Para Malebranche, a beleza do homem supera, em muito, a beleza da natureza.
Estamos cada vez mais sensíveis para a necessidade do despertamento de certos tipos de consciência: fala-se em consciência ambiental, consciência cívica, consciência social... mas não podemos perder de vista a necessidade imperiosa do desenvolvimento de uma consciência individual. De resto, é este o sentido do aforismo inscrito no pórtico do oráculo de Delfos e atribuido à sua pitonisa : «conhece-te a ti mesmo».
Penso que uma das características comuns a todos os homens e mulheres extraordinários – aqueles a quem chamamos «grandes», aqueles que foram fazendo e marcando a História – era a consciência de si-mesmo, do seu conteúdo íntimo, do seu chamamento interior, do seu propósito, do seu foco na vida. Ha dias, falando com o meu amigo Patrick Philippens,um dos columbofilos com mais titulos de Campeão Provincial da Belgica, pode confirmar em www.plpigeon.com, dizia-me que, cedo na vida, alguém lhe disse: «só podes ser bom –realmente bom – numa coisa durante a vida; escolhe». E ele disse-me que escolheu a columbofilia. E foi; e é!
Passamos pela vida sem pararmos e sem repararmos em nós mesmos! Aprendemos a ser sensíveis e a ouvir tudo e a todos, menos a nós próprios. Parece que é uma virtude esquecermo-nos de nós... apagarmo-nos... e não é! Não se apague... porque não é agradável ver uma pessoa sombria. Não morra... porque nada é mais degradante do que passear um cadáver.
A minha intenção, com estas palavras, é provocar-nos à aventura do auto-conhecimento, à aventura da expansão da consciência. Vivemos por impulos, por instintos, por reacção... vivemos do superficial, do imediato e do provisório, mas falta-nos a fundura que vem desse exercício de aprofundamento da consciência de nós. Falta-nos descobrir e desprender a nossa actividade – e a nossa activa idade – interior. Gosto de pensar que somos seres vulcânicos... com uma actividade interior, uma força, um propósito, uma energia intrínseca pronta a ser desprendida e da qual nem nós próprios temos plena consciência. E razão tinha o «principezinho», que limpava diariamente os dois vulcões que estavam activos no seu planeta. E também limpava um terceiro, mesmo já extinto porque, como ele próprio dizia, «nunca se sabe....». E também nós podemos pensar que temos vulcões já extintos, mas, «nunca se sabe»...!
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