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Columbofilia , desporto em extinção 19/10/2018

 

Columbofilia, desporto em extinção

 

José F. Coxo – Évora

 

É apenas pensar em voz alta sobre esta temática . Sei perfeitamente que as estruturas dirigentes quer a nível local, como distrital , como a nível nacional, vão limitar-se a encolher os ombros e assobiar para o lado.

Nada tem sido feito para atenuar ou limitar os abandonos em Columbofilia . Limitamo-nos a dizer que é o do envelhecimento e, como tal não temos nenhuma solução. Penso  exactamente ao contrário, se nada for feito , vamos caminhar mesmo para a extinção ou, existência residual de alguns columbófilos em determinadas colectividades .

Estes dados que apresento dizem apenas respeito ao distrito de Évora que é a minha área de praticante mas, estou aberto, tenho tempo e gosto de escrever ou pensar em voz alta ,  desde que qualquer Associação me faça chegar os dados, poderei fazer um trabalho semelhante ( é certo que não conheço essa realidade ) mas, as conclusões a extrair dizem apenas respeito aos números . No meu distrito vou um pouco mais além porque estou aqui inserido e, sou das pessoas que tenho algum conhecimento desta realidade columbófila é certo estando afastado há alguns anos dos cargos directivos .

Esta análise tem por base os columbófilos que classificaram no campeonato geral em 2008 e em 2018 porque, consegue-se ter uma visão dos praticantes efectivos nessas campanhas. Depois é as diferenças entre esses dois anos e a percentagem de columbófilos que se afastaram nestes 10 anos.

Assim:

 

                                               2008                      2018                      diferença                            %

Eborense                               18                           13                           -5                                      -28%

Albino Fialho                        28                            10                         -18                                     -64%

R. St. Isabel                          34                            27                          -7                                       -21%

Corval                                   28                             18                       -10                                      -36%

V. Viçosa                             15                               7                         -8                                       -53%

Vimieiro                              18                               15                       -3                                       -17%

Montemor                           11                                 9                        -2                                      -18%

Cabeção                              16                                16                    

Redondo                             15                                 20                      + 5

Arraiolos                             22                                 16                      -6                                        -27%

V. Novas                             10                                 14                      +4

Morense                             17                                 15                       -2                                        -12%

Portel                                   18                                   7                    -11                                       -61%

C. Évora                               25                                 24                      -1

M. Trigo                               27                                 18                    - 9                                       -33%

Alandroal                            15                                 10                      -5                                         -33%

     Total                           317                               239                      -78                                      -25%

 

Algumas conclusões que se podem extrair da simples leitura :

- Os dados do Redondo são baseados em 2009 e os de Vendas Novas em 2011 porque não tem na sua página os números referentes a 2008

- duas colectividades que conseguiram neste espaço de dez anos aumentar os seus columbófilos, Redondo ( +5) e Vendas Novas ( +4). São a excepção neste universo .

- Cabeção manteve os seus praticantes

- Com perdas pouco significativas  tivemos  o clube Évora, Morense , Montemor e a Flor do Alentejo no Vimieiro. Na Montemorense o  seu número já é muito reduzido e como tal o perder qualquer columbófilo é sempre marcante.  

- Com perdas bastante significativas temos Albino Fialho que perdeu 64% dos seus praticantes , Portel com 61% de afastamentos e Vila Viçosa com 53%.

- temos um grupo que se encontra quase na média do distrito Eborense ( 28%), Corval ( 36%), Arraiolos ( 27%), Monte trigo e Alandroal com 33% de afastamentos.

- A nível distrital perdemos 78 praticantes o que representa cerca de 25% dos columbófilos.

- para reforçar um pouco isto, há também o desaparecimento de três colectividades , Pavia, Vendinha e Mourão.

 

É preocupante num distrito com 317 praticantes afastarem-se em dez anos 78 columbófilos. Se esta tendência se confirmar nos anos futuros e, parece que é este o caminho, vamos ficar mesmo “ em extinção “ com alguns  columbófilos  residuais em várias colectividades ( aquelas que já hoje tem cerca de dez praticantes ) e, um distrito com enormes dificuldades .

É bom não esquecer que ainda hoje a massa maior de columbófilos é baseada na geração nascida nos anos de 50/60 e, como esta é uma geração em abandono deste desporto e, as novas fornadas de praticantes são pouco significativas na maioria das colectividades.

Estamos perante um caso sério!

Soluções para atenuar esta situação:

Não as tenho, nunca as tive e aquilo que se pode fazer depende sempre das estruturas dirigentes ,quer no âmbito local, distrital e nacional. Terá de começar sempre pela base que é onde reside o conhecimento real da situação.

A minha dúvida é se não iremos actuar como sempre fora de tempo ?

Não vejo em qualquer destas estruturas a mínima preocupação com este problema que é de âmbito nacional.  Por outro lado não vislumbro dos actuais dirigentes qualquer ideia inovadora neste sentido. Continuo a dizer o que sempre tenho dito, ser dirigente para  só realizar uma campanha é muito pouco para os dias de hoje. Por outro lado e, isto na minha opinião, temos perdido a todos os níveis a classe dos dirigentes e, quer se queira ou não prevalece hoje a mediocridade.

Que factores estarão neste afastamento de columbófilos . Cito alguns :

- envelhecimento dos nossos praticantes

- politicas  desportivas ausentes da realidade do país e dos distritos.

- estruturação  de campanhas feitas de modo a beneficiar A ou B e nunca a tentar equilibrar os distritos . A própria Federação, com os nacionais de Valência, veio contribuir fortemente para este afastamento e desmotivação.

- participação  de alguns columbófilos apenas e só nos derbys. Sei perfeitamente que cada um deve ter a liberdade para escolher o modo de estar nos pombos mas, esta restrita participação tirou columbófilos das colectividades e, nada trouxe de novo á columbofilia Nacional.

- Derbys em excesso, sem regulamentação e sem contribuírem um pouco que seja para a Columbofilia.

- Um fosso cada vez maior entre aquilo que uns chamam de  “profissionais  “ e a grande massa de praticantes meramente amadores . Eu não gosto muito desta terminologia mas, segundo opinião de alguns columbófilos foi o que os levou ao abandono desta prática.

- as colectividades que nos finais do século passado, eram pontos de agregação de associados e tinham uma componente social , perderam este papel e,  nalguns casos são hoje e apenas só mero local de  encestamento  de pombos .

- nalguns casos excesso de campeonite e, o ganhar a qualquer preço sem ética, desportiva e respeito pelos mais elementares direitos de convivência social e desportiva contribuíram também para afastamento de muitos columbófilos.

- limites que nada trouxeram de novo. Foram aplicados dez anos depois de terem feito falta. Mesmo assim onde vejo que tiveram algo de positivo  foi o limitar do fundo em 15 pombos mas, é o que se preparam para fazer  cair na próxima oportunidade.

- proliferação em larga escala dos vendedores de pombos. Nada tenho contra estas pessoas . Se vendem é porque há interessados em comprar . Mas na minha óptica estes vendedores devem e deviam estar afastados dos cargos directivos seja de que âmbito for . Estamos como a mulher de César, não basta ser séria….

Enfim são apenas meras opiniões . Pensamentos em voz alta para que alguns mais interessados os possam repensar.  É natural que uns concordem e outros não , isto faz parte da sociedade democrática em que vivemos . Foram  apenas e só uma opinião de alguém, que gosta de pensar em Columbofilia.

Mas não teremos ilusões . Há algo que  tem de ser feito antes de entrarmos em números de praticantes residuais. É bom não esquecer que já hoje temos menos columbófilos que em 1960…

 

( publicado no jornal Mundo Columbófilo de 22 de Outubro de 2018 )