NotíciasVisitas: Contador de Visitas 
Repensar a Columbofilia II 16/09/2018

 

 

Repensar  a  Columbofilia  II

José F. Coxo – Évora

 

 

No  Mundo  Columbófilo de Julho , fiz referências aos números assustadores  que tínhamos perdido de columbófilos nos últimos dez anos a esta parte. Referi que a FPC já deveria à muito ter feito um estudo,  por amostragem significativa, dos porquês desse abandono porque, me parecia que só o envelhecimento dos nossos praticantes , não era justificativo , para esta perda tão acentuada de columbófilos.

Não tenho comigo dados concretos, nem poderia de modo algum tê-los mas, por curiosidade e apenas tendo por base esse artigo publicado houve cinco ex- columbófilos que me enviaram da sua livre vontade ,por mail , a explicação das razões que estiveram no seu afastamento. Atenção escreveram de livre vontade e ,eu próprio, não conhecia nenhum deles. Pasme-se ….abandonaram   todos e, nenhum tinha sequer 50 anos…

Mesmo não sendo significativo, isto vem demonstrar o que eu já pensava . Há outros factores , que estiveram e estão neste afastamento de tantos praticantes.

 Dos mails que recebi há um conjunto de fenómenos que estiveram na génese desse abandono. Desde o crescimento urbano que fez desaparecer muitos pombais em áreas onde as Câmaras já não os deixam construir, até factores interligados com a crise económica desencadeada pelos mecanismos ligados á vinda da troika ao nosso país, com consequente perda de poder económico. Até factores como o aumento de despesas familiares e consequente redução e até abandono dos pombos porque tudo na columbofilia  é hoje muito caro e, torna-se pesado em termos financeiros suportar 100/ 120 pombos. Por outro lado as  queixas  de que em áreas onde existem “ os profissionais “ é muito difícil conseguir sobreviver em termos columbófilos …e neste caso tal como eu digo sempre é muito fácil ganhar porque, o perder, torna-se sempre muito difícil…

Mas verifiquei um aspecto a considerar é que, destes abandonos todos têm uma coisa em comum, que é o continuar a gostar dos pombos e da columbofilia e têm enorme pena de não poderem ter pombos. Mais comentários para quê….eu até nem sou dirigente, nem quero nunca mais voltar a ser….

Um outro aspecto que gostaria aqui de trazer para pensar com os diversos intervenientes columbófilos, diz respeito ás mudanças climáticas ou, melhor alterações meteorológicas,  que nos têm afectado e vão condicionar em termos de futuro.

Hoje estas condições meteorológicas são completamente diferentes dos anos de 1960/ 70 e nós continuamos com as mesmas práticas , com as mesmas posturas , com as mesmas ideias , em suma não queremos ver que a realidade que nos afecta e, que  é hoje, completamente diferente, e para pior do que era há 40/50 anos.

 Portugal e a Península Ibérica são e vão ser das áreas mais  instáveis do globo em termos de meteorologia. Temos nesta área sul o denominado clima Mediterrâneo e, sofremos a bom sofrer pela proximidade e influência do enorme deserto Saariano.

Em 2016 tivemos o ano mais quente desde que há registos  meteorológicos  credíveis. Em 2018, não tivemos calor mas apanhámos por tabela toda uma campanha com enorme instabilidade e, esta, nalguns casos, tornou-se nefasta para diversos distritos, levando a perdas significativas de pombos .

Repare-se para os que não acreditam que o Planeta está a “ vingar-se “ do que lhe temos feito, tivemos há dias no início de Agosto as temperaturas mais altas de sempre em diversas localidades portuguesas e isto durante três / quatro dias . Os próprios países nórdicos registaram em Julho um conjunto de fenómenos “ anormais “ em termos de tempo e mais uma vez, com temperaturas muito, muito  elevadas .

Planificar e estruturar uma campanha é hoje na minha óptica algo de muito difícil porque, corremos sérios riscos de ter de alterar muita coisa em pouco tempo e muitas vezes em cima da hora. Este é um princípio que temos de ter sempre subjacente a qualquer planificação.

As condições meteorológicas são cada vez mais  imprevisíveis,  incertas  e como sempre condicionadoras das nossas práticas. Não tenhamos ilusões tudo isto vai-se intensificar e, todas estas incertezas meteorológicas vão se acentuar e vão contribuir para perdermos muito mais pombos do que em anos anteriores.

O aumento global da temperatura é irreversível e, as suas consequências são de ordem diversa mas, estando nós já numa área difícil  ( mediterrânea) tudo se vai tornar cada vez mais imprevisível.  Não tenhamos ilusões o aumento da temperatura vai desencadear muito mais instabilidade de toda a ordem ….

Soluções … novas posturas , são de certeza necessárias mas …..

( Publicado no jornal Mundo Columbófilo de 13  de Setembro de 2018 )