Repensar a Columbofilia |
17/08/2018 |
Repensar a Columbofilia
José F. Coxo
Estamos neste momento no tempo de “ férias “ do nosso desporto. É o momento ideal para que as estruturas dirigentes ( em todos os níveis ) analisem a campanha passada nas diversas vertentes e que possam tirar conclusões dos aspectos mais positivos e também das variáveis que podemos considerar negativas.
É um tempo convidativo à reflexão e, como tal , propicio para repensar ou, pensar melhor, este desporto que praticamos nos seus diferentes patamares de realização. Qualquer órgão dirigente tem mesmo de fazer esta análise porque, se o não fizer está a contribuir para uma estagnação ou um desvirtuar do mesmo.
Só, a realização duma campanha apesar de, já ser algo que sobrecarrega dirigentes, é muito pouco em termos de dirigismo. O dirigir implica pensar, ponderar, planificar, e acima de tudo retirar conclusões sejam elas de que âmbito for. Sei perfeitamente que a realização duma campanha tem o seu grau de desgaste e o ser dirigente é hoje algo com certa dificuldade de realização mas, é preciso ir mais além tanto a nível local , como distrital e até nacional. Só ser dirigente para realizar uma campanha é muito pouco e tem graves consequências em termos de futuro.
Todos sabemos que tivemos nos últimos dez anos uma perda de 4.946 columbófilos ou seja cerca de 34% dos nossos praticantes. Em 2007 tínhamos como praticantes e segundo dados da Federação 14.602 e em 2017 temos 9.656. É certo que esta tendência de diminuição não vai continuar porque, atingimos já um patamar crítico e como tal não podemos ter maiores perdas porque o universo em questão já o não permite. É um principio da estatística porque, se baixarmos muito ( o que não se vai verificar) ficamos em valores quase residuais de columbófilos.
Normalmente quando falamos nesta temática ( do perder columbófilos) ligamos logo a um envelhecimento marcante a nível dos nossos praticantes mas, na minha opinião é pouco, ou muito pouco, como justificação.
Era normal e, já o devia de ter sido que a Federação criasse um grupo de trabalho ( pagando pelo mesmo ) para se fazer um estudo por amostragem num determinado universo de colectividades para sabermos que razões estiveram nesta perda de columbófilos.
Nada disto preocupou as nossas estruturas dirigentes ( nem preocupa) mas, se não soubermos as razões como poderemos actuar para limitar estes abandonos ?
Só a afirmação do envelhecimento é muito pouco ou nada justificativo e continuamos sempre a” assobiar olhando para o lado” . Mas será que perder em dez anos quase metade dos nossos praticantes não seria motivo para uma reflexão profunda e para o alertar de algumas mentes que podem e devem pensar este desporto ?
Já não falo em políticas desportivas porque estamos como há 30 anos atrás. Só tivemos a ajuda das novas tecnologias porque tudo o resto se mantêm. O grande problema é que até nas mentalidades perdemos nos últimos anos com posturas pouco condizentes com a sociedade em que vivemos.
A própria Federação que agora vem com a tal “ Ética”que subscreveu mas, que eu entendo que nem era preciso estar assinada para que estivesse sempre presente em todos os actos de dirigismo tem enormes culpas nos regulamentos/ estatutos/ matéria disciplinar que criou e, da qual se livrou lavando as mãos como “ Pilatos”. Há necessidade urgente de tudo o que diz respeito aos pombos que volte aos órgãos federativos e, a própria resolução de conflitos ( de que ordem forem) tem sempre de passar por este órgão.
Dizer pura e simplesmente” podem recorrer aos tribunais quando se sinta prejudicados “ é a pior frase que uma estrutura dirigente pode dizer a algum dos seus associados. Todos sabemos que os tribunais no nosso país são caros e lentos nas tomadas de decisão e, quando se trata de matérias que não entendem como é o caso da columbofilia qualquer decisão demora sempre 3/4 anos no mínimo. Recorrer a eles para quê ?
A nível da parte desportiva nada evoluiu. Nada foi feito para tornar a columbofilia mais atractiva. É um desporto que não “ puxa” a juventude e quando os atrai nada tem que os consiga cá manter. Nos anos 60 o correr pelas ruas a levar anilhas foi um método que deu resultados porque esses “corredores “ transformaram-se anos depois em columbófilos. Agora temos e, ainda bem, os meio informáticos facilitadores das tarefas mais morosas da columbofilia mas, não captam praticantes.
Por outro lado todos sabemos que a nível familiar é um desporto altamente condicionador porque nos ocupa em larga escala durante 4/ 5 meses todos os fins de semana. Quando acontece como este ano, em que todas as soltas tiveram problemas meteorológicos ainda ficamos muito pior porque a ocupação é quase total.
Em suma, reconheço que estamos a nível global com enormes dificuldades . Não tenho nenhuma varinha com solução milagrosa mas, verifico que pouco ou nada tem sido feito por quem de direito para manter cá os columbófilos.
( Publicado no jornal Mundo Columbófilo de 20 Agosto de 2018 )
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