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" Do Passado para o Futuro " 25/05/2018

 

“ Do Passado para o Futuro “

 

José  F. Coxo

 

                A História  como  ciência tem sempre por objectivos  relembrar o passado, para o enquadrar no presente e fazer com que o mesmo tenha repercussões no futuro. Esta é uma ideia aceite e que não sofre qualquer contestação seja em que âmbito for.

O Passado nunca, nunca, se pode repetir no futuro e ainda bem mas, pode condicionar o mesmo.

A nível da columbofilia temos muito poucas pessoas a escrever sobre acontecimentos passados e até sobre determinadas evoluções  mas, na Bélgica  e Holanda países com outras estruturas e enraizamentos nós já encontramos  muitas referências fundamentalmente  a columbófilos que marcaram gerações .

Encontramos o que acabei de referir logo com alguns columbófilos de topo no período anterior ás duas grandes guerras e depois mais tarde durante todo o resto do sec XX há nomes importantes que estão documentados no modo como estiveram nos pombos e, nalguns casos até na maneira como deram origem a determinadas linhagens dos mesmos ( normalmente dando o seu nome a esse tipo de pombos ).

Em Portugal  pelo contrário nós não temos nada disto . Há uma excepção da página do Pedro Lopes , que pena ele não se dedicar mais a escrever e a trazer-nos memórias desse passado português e, do qual nos devemos orgulhar. Além de que é uma pessoa com enormes conhecimentos de columbofilia.

Não pretendo aqui nestas palavras trazer algo de transcendental até porque, não tenho nenhuma base cientifica/jornalística ou semelhante onde possa assentar as minhas ideias. Estou aberto e, lanço o desafio aos proprietários deste jornal se por acaso entenderem que será útil analisar os primeiros jornais publicados para vermos se, podemos tirar algum “coelho da cartola” estou disponível ( desde que me façam chegar as cópias ) para os analisar e ver o que poderemos recolher neste âmbito de passado e de columbófilos que marcaram esses anos.

Como tal resta-me e é esta a minha finalidade , recordar pela memória os anos em que me iniciei neste desporto  ( finais de sessenta / principio de setenta de século passado) e focar em diversas colectividades  de onde chegavam mais facilmente os ecos de algumas prestações de columbófilos  que na época faziam já as diferenças  e eram fundamentais para o enraizamento da columbofilia por estes tempos e que contribuíram de um modo decisivo para que este desporto se implantasse por todo o distrito.

Não é saudosismo  porque  só com alguns privei mais de perto mas, eram pessoas dignas e em termos columbófilos muito , muito evoluídas. Não é nostalgia . È apenas o reconhecimento e o constatar que já há 50 anos havia neste distrito uma mão bem cheia de bons columbófilos que marcaram uma época e uma ou várias gerações .

Não há nem poderia haver qualquer tipo de comparação com os dias de hoje . Tudo mas tudo era diferente. Por outro lado também não vejo aqui qualquer relação com o futuro porque este na minha óptica será marcado pelo envelhecimento que já hoje verificamos e, por outro lado, com a falta de quadros capazes de dar rumos e posturas novas a este velho desporto.

Mas convém já dizer que sendo os tempos de pobreza e, a sociedade onde vivíamos completamente diferente para pior dos dias de hoje, tínhamos já mais columbófilos a nível nacional,  nestes finais dos anos sessenta que temos hoje…

As evoluções verificadas posteriormente,  foram a nível dos transportes que até já são hoje um problema , o termos muitos columbófilos com centenas de pombos o que na época era impensável e as tecnologias de informação que chegaram por arrastamento á columbofilia com a finalidade de a tornar mais prática e fácil.

Perdemos na minha óptica o que era “ estar” nas colectividades . O conversar de pombos , o respeito pelos mais velhos, até o respeito pela colectividade em si. Hoje tudo desapareceu, as colectividades são meros locais de encestamento  de pombos e pouco mais mas, os tempos são também diferentes e como tal tudo se foi alterando.

Mas vamos ao assunto principal que queria abordar.

  o posso fazer para o distrito de Évora e mesmo para este é natural que fique sempre algo por dizer mas a memória de 50 anos é um” livro onde de vez enquando faltam algumas palavras “. O ponto de recolha da informação  era fundamentalmente a cidade de Évora , local onde na época era estudante e encontrava diversos aprendizes de columbófilos dos meios circundantes a esta cidade . Era natural á segunda feira colocarmos a escrita em dia falando nas provas do domingo e nos seus protagonistas.

Assim:

- na Corvalense dois nomes ainda hoje presentes um como praticante o Marcelino e outro já afastado mas óptimo o Antonino. Os dois além de bons columbófilos foram dirigentes associativos num período difícil que tivemos e conseguiram fazer o equilíbrio desta “nau “ ,dando tempo e espaço para que outros navegassem para outras paragens. A associação que dirigi reconheceu o seu trabalho e, na exposição Distrital de Estremoz ( para mim a melhor dos últimos anos á excepção das Caldas da Rainha), concedeu-lhes a mais alta condecoração que os estatutos associativos da altura permitiam pela sua dedicação.

- em Reguengos de Monsaraz- na Albino Fialho , 4 ou 5 nomes em que dois ainda duram hoje. Vitor Martelo era já na época muito bom columbófilo enfrentando dois colossos nos pombos , o Murteira e Julio Jarego da Fonseca. Murteira  era na época um lavrador abastado e os seus familiares em datas de aniversários ou algo semelhante  ofereciam-lhe pombos que importavam da Bélgica e dos melhores columbófilos que este país tinha. Dos melhores e, dos mais caros, eram nestes anos os pombos que vinham para o nosso país.  

Julio Jarego da Fonseca já na época também sem problemas monetários tinha dos melhores pombos do país . O Vítor  Martelo para fazer frente a estes dois colossos jogava com alguns pombos que estes, por amizade lhe davam e, praticava já nestes anos a viuvez clássica com machos. Aparece também a dar os primeiros passos em Reguengos e, a fazer as suas aprendizagens e, logo a mexer neste tipo de pombos o António Prates que até fazia alguns treinos  quando o Julio Jarego necessitava. É o Prates que mais tarde forma em Vendas Novas o maior conjunto de pombos importados de todos os tempos da Bélgica e da Holanda dos columbófilos de top destes países.

- em Estremoz dois nomes marcantes Januário Gonçalvez( apareceu em Estremoz ligado ao hóquei patins) , pessoa muito inteligente e com grande visão para os pombos a voar e, para os pombos de exposição e o mano mais velho Fortio que era um óptimo columbófilo e expositor de pombos. Falei com ele pela ultima vez quando foi a nacional em Estremoz e, estava virado para as artes e para a criação de aves de todo o mundo . Convivi mais tarde com o seu irmão mais novo que considero uma pessoa bastante sensível, inteligente e, só tenho pena que nunca tenha sido dirigente da rainha santa Isabel ou da própria associação porque tinha perfil adequado para as duas coisas.

- No Vimieiro uma figura importante um pouco mais tarde , no regresso dos denominados retornados de África o José Luis Figueiredo. Tentou e conseguiu reabrir a flor do Alentejo e deu os primeiros passos na construção da nova sede . Sei perfeitamente que teve com ele a ajuda de mais alguns columbófilos vimieirenses.

- em Arraiolos o meu amigo Hélder Pequito dominava antes de vir para a tropa em Évora mas há alguns nomes que quero recordar pela sua presença e postura , o luís Mota, o Xico Espanhol com pombos que o irmão lhe trazia de Lisboa e, que eram melhores que os dos outros . Estes columbófilos que referi ainda hoje estão em actividade.

Não estando já entre nós mas, seria de uma enorme injustiça  da minha parte se não referisse o Ti´Manolo, que veio revolucionar os pombos nesta vila alentejana e chegou a campeão Distrital, e o meu grande amigo Júlio Mendonça com pombos que o Sampaio ( bom columbófilo em Lisboa) lhe trazia.

- em Pavia , hoje já não existe columbofilia mas na época era um ponto de referência. Anos antes tinha por ali passado a exercer os primeiros anos de medicina um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos , Fernando Namora. Nos pombos cito José Valério, António Leonardo Mexia de Almeida, Arnaud, e seu chauffer Xico Ameixoeira. Todos eles já falecidos  mas, é importante recordá-los porque o distrito muito lhe deve . Na época como voador o melhor  era o Xico Ameixoeira que também já voava na viuvez e ganhava a todos os outros . O ti ´Luis magrito penso que ainda está vivo era bom columbófilo e fazia toda a escrita da colectividade.

- Em Mora recordo apenas o AGP e talvez já neste período o nosso saudoso e amigo Arménio.

- No redondo os irmãos Cabeça ( hoje já os dois falecidos ) mas na época tinham dos melhores simons  que esse grande columbófilo, que tive apenas o prazer de conhecer numa ou duas exposições nacionais ( nunca falámos) , o Manuel Bento de Almeida, lhe trazia para esta vila alentejana.

- em Cabeção dois nomes marcantes na panorâmica local,  distrital, e muitas vezes nacional quando da realização de provas de fundo , Dr. José Lopes Faustino que tem hoje a continuação como columbófilo no seu filho e toda a família Chitas Martins. Ainda me lembro de ter conversado no dia da realização de uma distrital no redondo com o patriarca da família o pai Dr. Chitas Martins ( falecido anos depois) era uma pessoa de enormes conhecimentos columbófilos tanto a nível do país como da Bélgica. O seu filho e continuador Dr. António Chitas Martins que um dia destes neste jornal deu uma lição de columbofilia a todos nós e a mim principalmente veio lembrar-me que os pombos devem dormir a noite antes da solta ….mas,  todas as suas palavras são como sempre uma aprendizagem para nós todos e demonstrativas de que está em plena forma.  ( é certo que os dirigentes ninguém o  leu mas…)

- em Évora o Carreiras distinguia-se como conhecedor profundo de pombos e de columbofilia . Na época uma sociedade existente , Daniel e Talambas ganhava normalmente. O meu amigo Luis Pepe já por cá andava em aprendizagem e anos depois já dominava na cidade e no distrito.

Foi em suma, o recordar reconhecendo o papel que estes columbófilos tiveram deixando para nós um legado difícil de manter , de vencer , digo até de ultrapassar. Eram na sua maioria pessoas  inteligentes ( algumas que cá estão continuam a ser columbófilos de primeira linha) e isso as tornou marcantes mesmo na época de há 50 anos atrás. É natural, que tenha por lapso, ficado algum nome no esquecimento mas, só me resta pedir desculpa ás colectividades em questão …

( publicado no jornal Mundo Columbófilo , dia 25 Maio de 2018)