Entrevista publicada no Jornal Mundo Columbófilo nº 1112 |
22/03/2017 |
Introdução Publicamos hoje uma entrevista a José Francisco Coxo, um apaixonado pelos pombos e pela Causa Columbófila.
José Francisco Coxo aderiu á columbofilia no ano de 1968 e nunca esmoreceu o seu amor ao pombo. Desempenhou cargos importantes e deixou um rasto de empenhamento de nível elevado em todas as tarefas em que se envolveu, nomeadamente no distrito de Évora
José F. Coxo evoca os seus companheiros que o ajudadaram a desempenhar as funções a que se comprometeu, numa época em que a columbofilia atingiu grande fulgor e actividade...
-Dados Pessoais
José F. Coxo é natural da vila de Arraiolos, hoje com 62 anos , aposentado. Vive em Évora, cidade , que o acolheu profissionalmente e com os pombais em Arraiolos, onde se desloca todos os dias para tratar dos pombos. Tem a ajuda de dois sócios que são de um empenho e uma dedicação a toda a prova que lhe permitiram continuar nos pombos.A ajuda destes dois amigos foi e é factor imprescindível para a continuação desta prática desportiva.
Évora foi o local da sua actividade profissional depois da licenciatura em Lisboa , primeiro como professor efectivo e mais tarde desempenhando as funções de Director ( 15 / 16 neste cargo ),de uma escola Secundária desta cidade, e foi também em Évora que se dedicou á columbofilia e ao dirigismo a nível distrital.
Alem de columbófilo, foi jogador de futebol no Arraiolense ( dos 17 aos 26 anos ) . A habilidade não era muita mas, os tempos eram outros e conseguíamos na época ter uma equipa a jogar, com jovens, da vila de Arraiolos, com a ajuda de outros das aldeias vizinhas. As leituras preferidas continuam a ser além da columbofilia, tudo o que respeita á ciência, ou melhor “ao saber” no sentido global. A geografia , ( sua formação )ainda hoje está sempre na primeira linha das leituras, aliada á história porque, o passado é fundamental para percebermos o futuro. Os livros que neste momento está a ler são “ O Domínio do Ocidente “ de Ian Morris e um mais calmo “ Tudo pelo Poder “ de Rui Cardoso em que relata uma série de intrigas da nossa história e que são e estão inerentes ao nosso modo de estar e viver em sociedade .
- Percurso como columbófilo e dirigente Associativo, factos mais marcantes
Columbófilo desde o ano de 1968, iniciou-se na "Arraiolense" , local da sua terra natal e de coração. O percurso como columbófilo não foi muito famoso , venceu como campeão 3 anos nesta colectividade e ganhou outros campeonatos pelos meados de setenta e principio de oitenta quando em Arraiolos ,para o campeão geral não entrava o fundo ( atenção não foi ele que implementou esta medida) . Ganhou vários campeonatos de velocidade , de meio fundo e até fundo . Perdeu muito mais do que ganhou e, não tem vergonha de o dizer . Ainda hoje não sabe ver se um pombo é bom pela simples apalpação. O único local onde reconhece se um pombo é bom, ou não, é enviá-lo nas caixas para as provas. Como dirigente fez um percurso nomeadamente a nível distrital . A nível local esteve também diversos anos na Arraiolense e nalguns deles os resultados económico/ financeiros foram dos melhores que aquela colectividade teve em toda a sua vida ( no último ano como dirigente deixou 8.000 euros de saldo nesta colectividade).
Esteve também alguns anos na Federação fazendo figura de “bom samaritano” mas, durou muito pouco tempo porque, não tinha jeito para dizer “Ámen” . De todas as vezes que se candidatou a nível distrital, era porque entendia que tinha algo a dar , a prestar ou, a auxiliar o seu distrito. Nunca esteve em cargos distritais por estar, ou para se repercutir. Saiu sempre que entendia que já estava a mais ou, quando via que os interesses particulares se estavam a sobrepôr aos colectivos e , mesmo sendo presidente da direcção, não conseguia inverter essa situação. Uma direcção ou o presidente da mesma fazem sempre parte de uma “ engrenagem” que deve funcionar em conjunto e tendo sempre por base todos os denominados corpos directivos. O presidente da direcção deve ser um mero conciliador de vontades e pontos de vista seus e dos seus colegas dirigentes, um decisor com base na auscultação dos vários dirigentes e, um planificador / programador em tempo alargado e, não apenas e só, um mero gestor anual.
Quando havia reuniões todos os corpos directivos eram convidados a estar presentes e, todos tinham direito a manifestar a sua opinião e a votarem as decisões quando isso fosse necessário. Sempre o entendeu deste modo e durante os anos em que esteve à frente dos destinos da Associação de Évora tentou sempre ter esta postura. ( Muitas vezes , mesmo contra a sua vontade ) aceitava pôr em prática as decisões do conjunto…isto é um principio de democracia do qual nunca abdicou nem abdicaria .
O espaço temporal que permaneceu na Associação poderá ser enquadrado desde 1991 até por volta de inicio de 2012. São cerca de vinte anos mas como teve dois intervalos na totalidade dá como dirigente máximo, cerca de 15/16 anos. Foram três períodos de tempo completamente diferentes.
Mas convém falar um pouco deste passado!
"Sei perfeitamente que o passado não se repete, por mais que possamos querer, nunca a ele voltamos mas, é conveniente falar no mesmo , não por nostalgia, mas para que esse período de tempo não seja branqueado, não seja distorcido, não seja esquecido pela voragem dos tempos , e muito menos para que não se julgue que tudo já estava feito…. ( bem pelo contrário pouco, ou quase nada, estava feito , é certo que os próprios tempos eram outros…). Este primeiro período vai de 1991 até por volta de 1998. Antes e até 1985 estávamos englobados na denominada Comissão mas, a partir de 85 as comissões são extintas e criadas as associações columbófilas ( mudança da lei de bases desportiva)e neste caso cria-se em termos estatutários a Associação Columbófila do Distrito de Évora. Neste período de transição e até finais dos anos oitenta a Associação de Évora está localizada em S. Pedro do Corval e era o seu presidente, o meu amigo, Antonino Beja auxiliado pelo amigo Marcelino e com uma ajuda extrema do Victor Martelo . Há outros columbófilos de Reguengos e Corval que deram também uma ajuda. Eram tempos muito difíceis , tínhamos um carro com capacidade para 126 caixas e isto não permitia grandes voos. Mas, esta estabilização levada a cabo pelo Antonino foi, extremamente positiva em termos organizacionais para anos futuros. Em 1991 resolvemos puxar a Associação para Évora e por questões de mera casualidade é a minha pessoa o presidente da Direcção acompanhado por um conjunto de amigos, que eu considero até hoje, dos mais capazes que este distrito conseguiu juntar na mesma época e todos, com uma enorme capacidade de servir a associação e os columbófilos. Comungávamos os mesmos objectivos, pressentíamos que este distrito ia crescer e num ritmo elevado".
Herdámos, em 1991, 600 contos mas, como a Associação tinha um processo pendente em tribunal, que veio a perder , ficámos com cerca de 300 contos (hoje 1.500 euros ). É neste primeiro período, até por volta de 98 que começamos a obra que veio dar frutos anos mais tarde. Compra-se aquilo que é hoje a sede ( escritório e sala de reuniões ), a compra de um camião velho para aproveitamento da estrutura para instalar num camião Renault ( novo) que compramos também nesta época, que tem de capacidade 196 caixas e avançamos para outra estrutura com capacidade de 260 caixas. Lembro hoje aqui a ajuda fundamental que o meu amigo e colega de direcção José Rato teve numa destas fases mais difíceis em que havia necessidade de pagar a galera. Ele colocou à nossa disposição 4.000 contos ( 20.000 euros ) que podíamos pagar á nossa vontade . Nesta época qualquer empréstimo do banco tinha taxas superiores a 30% de juros…. ( este columbófilo, nunca teve até hoje qualquer lembrança ou reconhecimento do distrito, nem sequer se lembraram dele, e eu próprio tive culpas nesse facto mas….).
Há também e não é para esquecer o inicio da informatização das classificações e lembro sempre, que foi o Helder Pequito, o mais dinâmico, que nos levou a esse arrastamento positivo e que para nós era na época a vanguarda de todas as Associações ( isto começa primeiro, ainda, sem o Realinho, com a ajuda do Fernando Teixeira da Cabeçanense e com o envio de disquetes ).
José Francisco Coxo fez nessa altura uma paragem e por volta de 2002, já está de novo noutro mandato , num período difícil para o distrito porque, aparecem 3 listas a disputar as eleições ( foi das poucas vezes em que as colectividades se faziam todas representar na assembleia geral). Mais uma vez continuamos a ver que o distrito ainda tem capacidade para aumentar a sua estrutura física e, isto leva-nos á compra de outra galera com capacidade para 244 caixas. Repare-se, começámos com 126 caixas e, num espaço de dez anos, já estávamos com cerca de 700 caixas o que poderia dar 28.000 pombos a voar num treino. Quando necessitávamos de mais dinheiro, recorríamos á realização de 4 treinos ( o normal era e realização de três) e, o problema estava meio solucionado . Até porque, sempre tivemos em mente, em todo este período de tempo, não mexer no preço dos pombos. Neste segundo período de 2002 a 2007/08 realizamos com a ajuda da sociedade Rainha Santa Isabel e a Câmara Municipal de Estremoz, a Exposição Nacional em Estremoz (2006). Na sua opinião pessoal em termos globais de organização, stands e parte comercial realizada pelos mesmos, publico visitante , pombos expostos, pavilhão e espaço envolvente, foi das melhores exposições nacionais de todos os tempos. ( Sei perfeitamente que Caldas da Rainha tinha outro espaço com melhores condições. tenho duvidas é se conseguia ter mais gente a visitar estes certames ) .
Pelos anos de 2008/2009 e numa situação, muito difícil, em termos financeiros ,José F. Coxo volta de novo a ser presidente da Associação. É toda uma geração mais nova que me rodeia . Dos primeiros corpos directivos ( 91) fica ainda a acompanhar-me, o amigo, José B. Faustino. São mais quatro anos , difíceis em vários aspectos porque, os estatutos tinham mudado e, nesse tempo os cargos directivos tinham aumentado no número dos seus dirigentes . Desde sempre José F. Coxo nunca gostou de ideia dum alargamento dos cargos mas, globalmente , foi extremamente positivo porque, sem aumentar qualquer preço em pombo, deixaram um saldo de cerca de 85.000 euros, e um conjunto de estruturas físicas e organizacionais como a Associação, nunca, em tempo algum, tinha tido na sua história/ existência. Havis necessidade de vender dois camiões, um já parado e outro a dar enormes despesas mas, numa reunião que fizemos para o efeito, a maioria não concordou com o ponto de vista de José F. Coxo para a compra de um tractor muito mais novo. ( Como sempre quando ouvia as pessoas respeitava as suas decisões e nunca, tomava qualquer medida contrária ás mesmas ). A direcção que está hoje e, entrou a seguir, fez essa compra e, na sua opinião muito bem!
Entendeu que os novos estatutos que por aí vinham não se adequavam ao meu modo de pensar eram e, estavam distorcidos da columbofilia como ele a entendia e, contribuiriam para prejudicar o nosso desporto. Por outro lado sentia que o seu papel de presidente da direcção e, como ele denominava de conciliador, estava a ter dificuldade em fazer-se sentir (apesar de económico/financeira estarmos muito bem de saúde), talvez porque as reuniões alargadas eram feitas com muita gente, e este facto tornava muito mais difícil a todos ouvir e dar resposta às decisões . Por outro lado José F. Coxo comecou a aperceber-se por diversas vezes, que os interesses pessoais e de algumas colectividades se estavam a sobrepôr ( tal como ainda hoje) aos interesses do colectivo. Entendeu que era tempo de sair e como tal com tempo, e no inicio de 2011, ( um ano antes) informou todos os membros dos corpos directivos que o acompanhavam, que não iria candidatar-se a novo mandato nem exerceria qualquer cargo na futura Associação . Reconhece perfeitamente , que todo este crescimento estrutural, desportivo, e financeiro não foi só devido á sua pessoa. Todos os membros dos corpos sociais que o acompanharam, nos diversos anos, e, nos diferentes períodos de tempo contribuíram para isso e, principalmente, os columbófilos deste distrito, que responderam sempre de um modo extremamente positivo a diversos desafios que lhe foram sendo apresentados, alguns deles, bastante inovadores para a época em questão.
Por outro lado o seu amigo Helder Pequito quando assumiu dois mandatos, num dos seus interregnos, teve ele e toda a sua equipa, um trabalho positivo e de continuação de valorização de tudo o que tínhamos iniciado no longínquo ano de 1991. Além de que sempre entendeu que não nos devemos repercutir muitos anos nos cargos . É sintoma de pouca democracia e, devemos sim, deixar gerações mais novas assumirem essas funções. Neste caso existiam nos últimos corpos directivos a que pertenceu vários membros mais jovens e com um potencial enorme. Hoje sabe que 2/ 3,desses jovens , desapareceram como dirigentes mas ,espera que reapareçam de futuro.
- Nos dias de hoje como vê a associação e o seu distrito ?
"Os corpos directivos que têm gerido os destinos da A.C.D.Évora tem na minha opinião feito um trabalho, que considero globalmente positivo, tanto no aspecto estrutural e financeiro como até no âmbito desportivo no qual hoje, deve ser, muito mais desgastante actuar do que há anos atrás . Todos sabem que eu tenho discordado da vertente desportiva e principalmente no alinhamento dos calendários sempre com o condicionamento das provas nacionais na sua grande maioria à linha de Valência mas, sei que no distrito as decisões sobre estas matérias são sempre tomadas nas Assembleias Gerais e este órgão é o responsável pelas decisões tomadas. É a democracia e, neste particular e neste meu distrito, isto já se verificava muito antes da implantação da mesma no nosso país . Esta discordância que refiro é no âmbito das ideias mas, entendo perfeitamente que, as de outros não terão de ser coincidentes com as minhas e estes têm toda a legitimidade para defenderem os seus pontos de vista ( é outra característica do regime democrático em que vivemos). Nunca coloquei em causa pessoas ou tornei as divergências de opinião em algo de pessoal, apenas, e só, a mera opinião de um columbófilo, que entende que o seu distrito deve estar sempre à frente de qualquer interesse pessoal , particular ou de determinada colectividade ou colectividades. Noto que a junção ( nas provas de fundo) com Portalegre tem sido prejudicial para a columbofilia neste distrito e muitas vezes tem servido, para desculpas de interpretação duvidosa. A inscrição prévia que temos tido de pombos no fundo é suficiente para dar lucro, por isso mesmo, esta junção é contranatura e ,exerce efeitos bem marcantes nas entradas dos pombos a nível distrital. É bom não esquecer que os primeiros a iniciarem uma colaboração deste tipo foi uma das minhas direcções, ainda nos anos noventa, quando o amigo Jacinto era o presidente da Associação de Portalegre mas, entendemos logo que tínhamos de alterar posturas ( O Portalegre não está aqui em causa, muito menos os seus columbófilos e pelo que noto, tem agora novos cargos associativos a quem desejo, o melhor trabalho e, que dignifiquem a causa columbófila ) O meu distrito vejo como os outros, estamos a perder columbófilos e vamos continuar neste caminho. Não sei nem tenho dados para reverter a situação mas, será um facto preocupante e condicionante nos próximos anos . Sei perfeitamente que as soluções não são fáceis …."
- Papel da Federação
Duas visões , a do presente, e aquilo que eu entendo que devia ser o seu papel….
Sobre o presente, tenho opinião negativa acerca das posturas e práticas destes últimos anos . Nada foi feito de novo, nada foi feito para motivar columbófilos e, muito pouco ou nada na área desportiva ( entendo que uma boa parte desse papel foi coartado às Associações ). Sempre tive em mente que este órgão devia apenas supervisionar todo o nosso desporto. A parte desportiva é na minha óptica para as Associações. Quando falo em supervisionar tenho em mente legislar, estudar, apresentar trabalhos temáticos ( como este agora da perda de columbófilos ou o de termos dados sobre as temperaturas, que os pombos suportam nos camiões) , elaborar regulamentos e fazê-los cumprir, efectuar a Exposição Nacional .
Para esta apresentação de trabalhos não há a obrigatoriedade de terem de ser os membros federativos a realizar, mas, há tanto dinheiro mal gasto porque não pagar, para saber ,com o que contamos e onde podemos actuar. Sobre os estatutos que temos hoje há necessidade urgente que a Federação em reuniões com o sector desportivo deste governo lhes consiga demonstrar que nós não somos nenhum clube de futebol, nem temos todos de estar baseados numa Lei de Bases que foi feita para o futebol e, depois, com algumas alterações tivemos de a “gramar”. Nunca podemos nem devemos querer que seja igual , aquilo que na sua génese é diferente. Tratar tudo por igual é em todos os aspectos um erro crasso. Logo em 2011/2012 me apercebi que o que aí vinha era prejudicial para os pombos , columbófilos, corpos directivos e acima de tudo misturava “ alhos com bugalhos”e não vinha trazer nada de novo à columbofilia só, problemas acrescidos, aos cargos directivos Hoje temos um conjunto alargado de corpos directivos tanto a nível federativo, como a nível associativo. Muita gente junta torna-se ineficaz nos momentos de tomada de decisão e a nível do órgão máximo do nosso desporto , O Congresso, temos uma série de cargos inventados , sem qualquer poder, e incapazes de qualquer intervenção e decisão. Sei que no passado os Congressos também pouco ou nada decidiam porque tudo era cozinhado antes . Quem levantasse alguma questão mais complicada não era bem visto . Isto aconteceu-me a mim várias vezes e num Congresso em que tive a companhia na mesa e nas intervenções do Dr. Barros Madeira ( pai) que era além de intelectualmente superior, aliava a condição de enorme educação e, acima de tudo, um enorme conhecimento columbófilo mas , das diversas intervenções que fizemos apenas nos ouvíamos a nós mesmos porque, as Associações com maior peso, mesmo nada dizendo, ganhavam em votos. Lembro também nestes encontros e pela positiva o António Simão de Beja que era um democrata na verdadeira acepção do termo e um conhecedor profundo da columbofilia real, tinha sempre, mesmo nas criticas, uma elegância enorme a responder. Recordo pela sua postura dois presidentes do Congresso, duas pessoas de enorme capacidade intelectual e, acima de tudo diferentes de tudo o que tínhamos na columbofilia ,estou a falar de Arnault Pombeiro e de Salvador Coutinho .Quando intervinham tudo era diferente, quando questionavam essas questões eram feitas com a máxima educação, eram em suma altamente evoluidos e qualificados culturalmente Hoje numa época de diminuição de columbófilos , de colectividades, de pombos a voar e com os apoios informáticos que temos a ajudar-nos entendo, que a Federação tem que ter capacidade para reduzir despesas e adaptar-se à realidade em que vivemos e para o “desastre “ para onde caminhamos. Posso entender que haja necessidade de contratar algum funcionário mas, nunca que esta contratação saia dos seus dirigentes . Isto é muito pouco ético, além de, roçar a ilegalidade. Para os tempos futuros há necessidade de um regulamento de soltas. Torna-se imperioso quando então caminhamos para épocas de aumento da temperatura. Já este ano segundo a Nasa, o Mundo teve o ano mais quente em toda a sua história e desde que há registos escritos credíveis( este período de tempo são “apenas” 136 anos). Nestes cenários, não podemos andar a soltar pombos nas áreas mais quentes de Espanha e com temperaturas na casa dos 32/ 35/ 40 graus.
Outro aspecto no qual a Federação se terá de empenhar ainda mais ( já o fez este ano) será na negociação do preço das vacinas que somos obrigados a dar aos pombos. Este preço é exorbitante . Se fosse praticado a nível dos aviários estes, entravam facilmente em falência porque, vacinar 20.000 ou 30.000 pintos ao preço que nós damos por uma vacina para 100/200 pombos, seria uma verdadeira fortuna.
Há necessidade e urgente de regulamentar os derbies ( o de Mira e todos os outros ) Estes derbies são hoje um “eldorado “mas com muitas interrogações tais como : para onde vai esse dinheiro e de onde vem . Por outro lado são factores de contaminação de doenças aos nossos pombos ( não há veterinários que consigam controlar 3.000 ou 4.000 pombos) . Outro factor negativo é a invasão de pombos que chegam de todo o mundo para o nosso país. Sei perfeitamente que nunca tivemos pombos” tipo portugueses” mas tínhamos pombos que alguns columbófilos , com visão, dinheiro e conhecimento , tinham trazido para o nosso país nos anos de 30 a 60 e, estas linhas já estavam bem adaptadas ao nosso país e, num curto espaço de tempo, vão desaparecendo todas. Outro factor que é preciso atenção é que se movimentam milhões de euros sem pagamento de qualquer imposto. Estes reparos são para os derbies particulares e para o de Mira.
Até no aspecto do tansporte dos pombos tem sido uma " mina de ouro "explorada por uma única empresa de transporte . Até nos pombos que não estão nos derbies esta empresa tem lucrado imenso ( basta fazer algumas contas) com o preço que leva pelo transporte dos mesmo e só falo no território português.
Há ainda um aspecto que não entendo se, tudo isto é tão bom porque vem para o nosso país e não se realizam na Bélgica, Alemanha ou Holanda ?
Sobre as soltas Nacionais de Fundo que são, a cereja no topo do bolo da federação , apenas digo que de nacional nada têm, num país com uma extensão de cerca de 550 km por 200Km de largura não há a nível columbófilo nada de nacional. É certo que na divisão que está, o meu distrito, é dos mais beneficiados voando, menos que outros da mesma zona mas, isto não é factor que me faça mudar de opinião . Estão desenraizados da grande maioria dos columbófilos portugueses. Sobre os pombos de fundo basta aplicar-lhe a formula usada para velocidade e meio fundo e, os de melhor coeficiente são os vencedores nacionais . Tudo isto nos campeonatos realizados pelas Associações . Há também outro facto para o qual que nunca vi resposta efectiva . Temos tido de há anos a esta parte a presidência e a vice presidência da F.C.I . que benefícios tivemos com esta representação? Terá a FCI algum poder sobre a columbofilia nos diversos países que representa ? Basta ver nas últimas Olimpíadas realizadas agora a 27 de Janeiro de 2017,em Bruxelas, em que os países de leste ( Polónia em larga escala, Eslováquia, Roménia Bulgária etc) a cilidrarem e a fazerem no sport o que dantes faziam com os pombos de standard e toda a gente a” assobiar para o lado” como que a não ver nada. ( Devem ter lá os livros que dantes utilizavam no standard e como tal basta aplicar essas receitas) Quem é que acredita nestes resultados ? Que controle faz a FCI ? Quem é que acredita em Olimpíada de Columbófila? Será a Polónia hoje a maior potencia columbófila e, de longe, em relação a todos os outros países ? Estou a falar em pombos de Sport porque, nos de Standard há muitos anos que deixei de acreditar. Outro aspecto que nível federativo terá de ser implementado é o do controle anti-doping que os países denominados de “top”da columbofilia já praticam.
- O columbófilo,o expositor de pombos e o juiz classificador
É um aspecto para mim marcante este , o do columbófilo, com borrachos de standard. Não vou hoje e aqui referir como cultivava esses pombos e das pessoas que me ajudaram a conseguir os mesmos ,apenas e só lembrar que foi, em 1992 ( com uma fêmea oferecida pelo meu grande amigo Inocêncio Mendes, que é das pessoas que mais entende de pombos e de columbofilia no nosso país) que começo a marcar estes borrachos na exposições . Depois durou essa marcação até, ao ano de 2008 ( Nacional em Elvas). Resumindo foram cerca de 16 anos em que ganhei quase sempre uma das classes machos ou fêmeas , nalguns anos as duas e diversas vezes os 4/5 primeiro lugares. Se isto foi fácil ? Penso que sim , basta olharmos á nossa volta e encontramos uma quantidade enorme de columbófilos que fizeram semelhante… ou não ? Continuo a dizer o que sempre disse, estes meus borrachos nenhum deles conseguia voar . Deveriam sempre e, isto é mais um desafio á Federação, estar numa classe de pombos não voados como os ingleses têm. O Juiz classificador começou aqui por este distrito nos anos 70 /80. O exame para juiz nacional foi feito em 1989 em Coimbra e em 2002 na Nacional/ Ibérica de Aveiro classifiquei na denominada classe Ibérica, apenas e só na Ibérica, depois dos pombos da nacional estarem classificados e apurados. Como tudo na vida há um ciclo. Entendi a nível de juiz afastar-me a seguir á Nacional de Beja em 2007 . Como juiz nunca aceitei o facto de termos pombos e os classificarmos. Mais tarde isto foi corrigido e, não mexíamos nos nossos pombos . Em Beja verifiquei que apesar de não mexermos nos nossos pombos, os próprios juízes que tinham pombos na exposição eram em número elevado . Além disso, todos tinham um ajudante ( secretário) que era também proprietário de pombos expostos. Entendi que isto não se enquadrava no meu modo de ser e, como tal, logo nesse momento pensei que tinha mesmo de me afastar. Não estou aqui a julgar quem quer que seja até, porque sei, que a classe de juízes era, a nível da columbofilia portuguesa, das mais bem preparadas, tanto a nível de análise e classificação de pombos como até a nível educacional e cultural
. - Voltar ao dirigismo efetivo...?
"Há uma frase que eu nunca digo... “ desta água não beberei”! Mas penso ser muito , muito, difícil esse facto poder vir a acontecer e, só me refiro ao âmbito distrital. Não tenho em mente nenhum objectivo para concretizar. Entendo que 15/ 16 anos que dei ao distrito com um empenho, diário, já foi alguma coisa que eu considero, demasiado importante. Podem acontecer duas situações ( e isto já tenho dito aos meus maiores amigos) que me façam repensar toda esta minha posição. Uma primeira prende-se se existir um vazio directivo que possa pôr em causa a própria realização e estruturação da campanha mas, mesmo assim, tinha de sentir alguns apelos que eu considerasse credíveis. A outra situação , que é, na minha óptica mais difícil de se verificar , seria na Associação o aparecimento de uma crise financeira. Penso que esta situação nunca acontecerá porque as pessoas que estão hoje nos cargos directivos da Associação são trabalhadoras, honestas e muito sérias. Portanto é sempre como digo, devemos deixar as gerações mais novas , estar á frente dos destinos deste distrito e tranquilamente num espaço temporal adequado".
-Reconhecimentos / galardões...
"Esta é sempre uma matéria da qual em termos globais sou normalmente “avesso”. Sei perfeitamente que tudo isso está regulamentado em sede de estatutos e, eu próprio com decisão tomada pelos corpos directivos da época, quando da realização da Exposição Nacional em Estremoz ( no jantar de gala e, para o qual, foram convidados com convite próprio…) atribuímos placas de reconhecimento e mérito a vários columbófilos ... Victor Martelo, Antonino Beja, Marcelino Paulino, Luis Pepe, Hélder Pequito, Dr Xitas Martins, Dr José Lopes Faustino e penso que mais um ou outro a quem peço desculpa da memória ir falhando…. Todos eles em diversas situações e funções tinham dado muito de si à columbofilia distrital. Estes nomes foram consensuais, numa reunião de corpos directivos que tivemos para esse efeito. Voltando á génese do assunto, nunca em tempo algum pensei numa situação dessas e em relação à minha pessoa . Pelo que já leram sempre tive nos pombos e nos cargos directivos de livre vontade , com especial gosto pelo “fazer” e nunca em momento algum pensei que anos depois ia receber isto ou aquilo . Quem comigo contacta quase todos os dias sabe como sou . Mas há um facto curioso em que no ano de 2004, sem eu saber o como e o porquê, recebo em casa, uma carta da Câmara Municipal de Arraiolos a confirmar que em reunião dos seus corpos dirigentes, por unanimidade me tinha sido atribuída a Medalha de Mérito Municipal na “Classe de Desporto”. Essa entrega foi feita em sessão solene no cinema desta vila, no dia 25 de Abril de 2004. Foi uma surpresa enorme . A Câmara sem eu sequer sonhar , tinha elaborado “ um pequeno curriculum” do meu percurso enquanto dirigente, local , distrital com passos da obra feita e até nalguns casos algumas vitórias a nível dos borrachos standard nas exposições nacionais e até Ibéricas. Estes dados ainda hoje, não sei bem, como chegaram a esta edilidade mas a Associação de Municípios , teve aqui ,um papel fundamental no fornecimento de alguns . Esta atribuição além de ter sido para mim de um orgulho enorme, dá-me ainda mais satisfação, porque é uma entidade estranha aos pombos, que vem reconhecer ( mal ou bem ) alguns dos aspectos positivos aos quais eu tinha estado nessa realização. Não há aqui, nem houve qualquer compadrio, conotação politica ou algo semelhante ( sempre me intitulei um independente e contrário a mecanismos de injustiça social e pobreza que são apanágio destas áreas onde vivo). Teve para mim muito mais valor porque é a Câmara da vila onde eu nasci, que reconhece, que fiz algo de positivo, não para a Câmara ou vila mas, num âmbito mais alargado, regional ou até nacional e, nos pombos, matéria que estas edilidades normalmente não entendem muito bem.
Columbofilamente falando em termos da sua questão penso que a nível nacional nada fiz de registo ( isso do standard não conta , é das coisas mais fáceis de fazer, e para mais em pombos que não voam, basta arranjar um casal de borrachos e, logo de seguida, ganha-se na nacional durante 15/ 16 anos….) . A nível distrital penso, que ainda deve haver quase duas mãos cheias de columbófilos, que fizeram por este distrito muito mais que eu….. ( um deles que referi no inicio destas palavras, está vivo e, de boa saúde é certo que se deixou de pombos de um modo activo, eu fui responsável pelo seu esquecimento e peço-lhe as minhas desculpas pelo facto ).
- A Columbofilia que temos hoje e a que poderemos vir a ter nos próximos anos….
Hoje temos uma columbofilia que eu considero com duas nuances. As grandes Associações que começam a estar em crise motivada pela diminuição de columbófilos e pelos limites aplicados há dois anos . Estas Associações tinham um peso de estruturas físicas que não estava preparada para o que tem acontecido por isso vão, ( pelo que leio) encostando camions, vendendo caixas etc. Prevejo para elas anos mais difíceis porque, para reformular essas estruturas custa hoje milhares e milhares de euros . As Associações denominadas mais pequenas , onde a de Évora se inclue, tiveram choques mais fracos causados por estes abanões e, como já tinham muito menos columbófilos, os efeitos fizeram-se sentir de um modo mais lento e atenuado. Quer queiramos ou não o grande desafio que a todos se coloca será o da diminuição de columbófilos. Se continuarmos com a evolução que se verifica de há dez anos a esta parte, no ano de 2020 temos apenas e só cerca de 7.000 columbófilos ou seja , perdemos em cada espaço de cinco anos cerca de 25% dos nossos praticantes . ( isto se nada for feito para tentar atenuar essas perdas). Num período de treze anos vamos perder 50% dos nossos praticantes. É não tenhamos dúvidas um desastre, ou um percurso, para o abismo, com consequências que hoje não poderemos analisar em profundidade mas que terão repercussões em tudo o que diz respeito ao nosso desporto. É certo que nem tudo será negativo. No âmbito da informática iremos beneficiar do desenvolvimento das novas tecnologias tal, como já, temos tido melhorias significativas neste âmbito. Parece-me que num curto espaço de tempo, ( já hoje algumas entradas estão neste patamar) iremos ter todas as marcas de entradas electrónicas com mecanismos em que o columbófilo não precisa de se deslocar á colectividade, para que esta imprima as constatações. Tudo isto será feito via Internet e estando o columbófilo descansado na sua casa.
As colectividades perdem o seu papel de agremiações de convívio, de conversas, de aprendizagens como foram para nós. Com o desenvolvimento tecnológico tornam-se apenas e só num local de encestamento de pombos . Algumas irão resistir se tiverem uma oferta diversificada noutros âmbitos da sua localização ( bar, café das redondezas etc). O papel que tiveram nos anos e 60/70 desmoronou-se e alterou-se. ( será quanto a mim negativo mas, é o preço a pagar pelo desenvolvimento tecnológico ). Sinto que também a nível das anilhas electrónicas o seu preço terá de descer. Até aqui as 3/ 4 firmas têm sido beneficiadas pela não concorrência e ,têm tido lucros enormes e desmesurados. É todo um “loby” que as diversas marcas criaram e que se for mexido juridicamente á luz do Direito Comunitário não pode manter-se e mesmo com a regulamentação portuguesa ( lei da concorrência). Espero que os países asiáticos se apercebam, deste mercado apetecível, e quando isso acontecer o seu preço vem para valores irrisórios. Outra alteração ou novidade que prevejo é via telemóvel passarmos a ter aplicações que nos deiam uma informação tipo “ bip” quando os pombos de cada columbófilo no seu percurso, entram num raio final de 50/ 60 Km.
A nível dos camiões, quer queiramos ou não, as frotas mais novas têm de estar equipadas com carros de menor dimensão , com estruturas mais pequenas ( se a diminuição se continuar a verificar nada justifica o que temos), e equipadas com mecanismos para auxiliar no carregamento das caixas tal como hoje, já vejo na descarga de mercadorias porta a porta. A nível das caixas não tenhamos ilusões o plástico vai substituir as chapas . Cada vez mais as organizações denominadas ambientalistas ou de defesa dos animais vão nos “chatear”e prevejo já dificuldades com os camiões e caixas que temos. As doenças tipo gripe aviária e newcastle vão continuar a afectar o nosso desporto . Estaremos sempre com diversos condicionamentos e basta ouvir o que disse ( e pensar no que não disse) na, Exposição Nacional o Director Geral da Direcção de Alimentação e Veterinária para nos alertar para as dificuldades que estão inerentes á columbofilia. É certo e tal como para os humanos, as bactérias e vírus vão afectar os pombos de um modo mais forte do que no passado. Os nossos vizinhos vão cada vez mais colocar entraves ( hoje já temos alguns) á realização de soltas no seu território. É na minha opinião altura de começar a pensar em realizar algumas soltas em território português. Não é um regresso ao passado mas sim um regresso às origens. Em suma, são desafios a vencer!
Por último, uma palavra de apreço aos proprietários deste jornal, que está a completar quase 70 anos e é um marco e, um exemplo da força de vontade dos mesmos, na sua manutenção ao longo destes tempos cada vez mais difíceis. Um agradecimento especial ao Mundo Columbófilo , por se ter lembrado da minha pessoa e acima de tudo por, estar sempre na primeira linha da defesa da columbofilia e da divulgação da mesma.
Continuarei como sempre atento, disponível e com gosto para dar a minha opinião de um modo construtiva neste jornal e na minha página pessoal. Sei perfeitamente que, para uns é uma leitura apetecível e, para outros será apenas um incómodo só o facto de manifestar em palavras ideias e factos. A escrita , o pensamento, as palavras , as ideias são livres e são factores da democracia e como tal nós vivemos num regime democrático. Abdicar do que se defende é desvirtuar a génese das nossas vivências.
( Jornal Mundo Columbófilo dia 20/03/2017 )
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