A realidade que não queremos ver ! |
19/01/2017 |
A realidade que não queremos ver !
José F. Coxo
A columbofilia quer queiramos ou é um desporto que apesar de ter tido progressos nos últimos anos ( principalmente a nível informático e por pessoas mais afastadas dos pombos), continuamos a apresentar dificuldades e lacunas em diversos níveis que muitas vezes, não nos permitem estabelecer planificações adequadas aos tempos e, principalmente atempadas, em relação aos desafios que podemos vir a enfrentar.
Temos em diversas matérias hábitos e costumes que adquirimos nos anos cinquenta/ sessenta e os quais não mudamos por inércia ou por falta de visão. Estatisticamente temos pouco dados credíveis e os que temos,nunca foram trabalhados com rigor . Estou já a pensar há anos atrás quando havia o mecanismo das férias desportivas ( modo de apanhar dinheiro aos organismos que titulavam o desporto nacional), nunca soubemos quantos desses jovens se tornaram columbófilos efectivos.
Ainda hoje se quisermos fazer uma análise pormenorizada a uma prova ou a uma campanha a nível de perda de pombos é impossível de fazer . Vivemos sempre na suposição. Sabemos e foi graças aos sistemas informáticos ( louvor ao amigo Orlando Santos ) o número de pombos enviados. Mas só e apenas esta permissa.
Estudos sobre as temperaturas nos camions, são zero e nada foi publicado. Nunca houve qualquer trabalho elaborado pela federação em prol de qualquer aspecto desportivo no sentido de tirar conclusões ou estudo sobre as mesmas . Mesmo nos concursos denominados nacionais o que sabemos deles ?
Em termos desportivos então nem é bom pensar. Alteramos os regulamentos mesmo sem termos dados de terem, ou não, sido positivos.
Vivemos sempre com um pé no passado e outro sem sabermos bem para onde caminhamos .
É certo, sabemos de há uns anos a esta parte, o número de columbófilos que paga quotas federativas e, como tal o número de praticantes .
As colectividades não tem pessoal capaz de fazer qualquer levantamento estatístico. As associações podem ter algumas pessoas mas estas estão viradas apenas e só para a realização das campanhas ( nada mais as preocupa). A federação que devia ter grupos de trabalho e de estudo de diversos parâmetros columbófilos nunca teve esta postura por hábito, nem em tempo algum fez qualquer levantamento de dados objectivos sobre qualquer temática.
Sei perfeitamente que é nas Associações que assenta toda a componente desportiva. Fomos obrigados a aceitar uma lei de bases que tem muito pouco a ver com a columbofilia e arranjaram uma serie de figuras que estão no Congresso mas, que pouco ou nada tem de utilidade.
Deixámos para a Federação a realização de dois concursos denominados Nacionais para os quais se fez e faz um alarido mas, que na minha óptica é muito pouco para a realização desportiva deste organismo. Continuo a afirmar ainda bem que são só dois concursos porque, eles nada tem de nacionais , servem muito pouco á grande massa de columbófilos praticantes e tem pouca ou nenhuma verdade desportiva num contexto espacial como o nosso.
Entendo que os melhores columbófilos de fundo devem sair , tal como no velocidade e meio fundo dos coeficientes distritais ou locais e depois sim, serem divulgados as suas prestações. ( Isto é apenas a minha opinião e, como está a divisão por zonas nas nacionais, o meu distrito está nitidamente beneficiado mas, este facto não é razão para não me pronunciar).
Somos um desporto “envelhecido”.
Nos últimos anos temos tido uma “sangria “ e uma perda de columbófilos em número muito elevado. Basta ler o quadro que vou apresentar e do qual retiro diversas conclusões para chegarmos facilmente á necessidade urgente de fazer algo. Todos os dados que apresento foram retirados dos relatórios de actividades da Federação . No número de columbófilos estão englobados os individuais e as sociedades.
2007 2010 2014 2015 Dif 07/15 %
Aveiro 2591 2374 2016 1822 -769 -29,6
Beja 588 493 418 414 -174 -29.5
Braga 924 859 727 686 -238 -25.7
Coimbra 430 376 327 276 -154 -35.8
Évora 641 589 441 394 -247 -38.5
Faro 1061 867 719 710 -351 -33
Leiria 587 492 386 366 -221 -37.6
Lisboa 1693 1564 1210 1113 -580 -34.2
Portalegre 295 250 209 201 -94 -31.8
Porto 2966 2692 2334 2140 -826 -27.8
Santarem 1136 1030 807 728 -408 -35.9
Setubal 707 619 466 427 -280 -39.6
V. Castelo 466 431 331 290 -176 -37.7
Viseu 165 142 78 71 -94 -56.9
Madeira 299 151 94 79 -220 -73.5
Açores 53 46 53 53 0 0
Totais 14.602 12.975 10.616 9770 -4.832 -33
Conclusões que podemos extrair:
- De 2007 a 2015 perdemos 4.832 columbófilos ou seja, 33% do total de praticantes
- De 2007 a 2010 ficaram pelo caminho 1.627 o que representou 11.14%
- No período de 2010 a 2014 regista-se uma diminuição de 2.359 columbófilos ( 18%)
- De 2010 a 2015 ( apenas em cinco anos) perdemos 3.205 ( 24.6%)
Todos estes dados são demonstrativos que a perda de columbófilos é mais marcante nos últimos anos e nada se prevê que se possa alterar.
A nível distrital :
- Viseu e a Madeira aparecem com um número percentual elavadíssimo. O primeiro deste distrito apareceu nos dados há pouco tempo e numa conjuntura económica difícil. A Madeira é um arquipélago e eu não tenho conhecimento desta realidade mas penso que tudo ali é muito, muito difícil…
-Distritos com valores superiores á perda da média nacional temos : Lisboa (34.2%), Coimbra ( 35.8%), Santarém ( 35.9%), Leiria ( 37.6%), V. Castelo ( 37.7%), Évora ( 38.5%) e Setubal ( 39.6%).
- Com valores abaixo da média nacional temos todos os outros distritos sendo o valor com menores perdas Braga que mesmo assim diminui 25.7%.
São apenas e só números . Eles devem ser analisados e debatidos em cada colectividade e a nível das Associações . Só a desculpa do envelhecimento é na minha óptica muito pouco para tanto abandono.
O número de columbófilos em 2015 é já menor que os praticantes em 1960 e isto deverá pelo menos fazer-nos pensar. É certo que graças ao 25 de Abril e a algumas mudanças sócio-económicas temos hoje um nível de vida superior, o que nos permite enviar muito mais pombos que nessa década do século passado.
A continuar com este ritmo dentro de mais 4/ 5 anos temos menos 50% de columbófilos que tínhamos em 2007. Não sei qual a solução para esta inversão ou até estagnação . Sei apenas que este assunto há anos que devia ter tido no seio da Federação uma equipa de trabalho com a finalidade de elaborar um relatório credível e com base em dados concretos para sabermos o que tem motivado toda esta panorâmica.
Além da perda em número é bom não esquecer que há uma outra perda e esta mais perigosa que é em termos de qualidade. Perdemos columbófilos e a nossa capacidade de recrutamento de dirigentes capazes torna-se mais reduzida . A repercussão nos cargos anos e anos é altamente prejudicial, leva ao marasmo e não permite rejuvenescimento de ideias.
É preciso e urgente agir. Há necessidade de tentar pelo menos atenuar esta corrida para” o abismo “.
( Publicado no jornal Mundo Columbófilo dia 20 Janeiro 2017)
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