Os ovos de oiro da columbofilia |
13/11/2015 |
Os ovos de oiro da Columbofilia
José F. Coxo
A columbofilia , tal como a sociedade em que nos inserimos apresenta diversas nuances e posturas que são apanágio da sua evolução, desafios alternativos , novas “ ilusões” e um quebrar com hábitos instalados e adquiridos que são sempre difíceis de entender e muitas vezes de acompanhar. Mas, tudo isto é sinal de vivências e são acima de tudo mecanismos tendentes a implementar inovações que pretendem dar resposta a uma massa significativa de columbófilos.
Os Derbies são hoje o “ el dourado da columbofilia” . São por outras palavras a globalização deste nosso desporto .
Apresentam, e falo sempre dos mais significativos, um elevado nível de participação de columbófilos ( nalguns casos até elevadíssimo ) , que engloba grande número de desportistas de diversos países, com elevado poder financeiro, o que se traduz em investimentos de milhares e milhares de euros . Neste cenário os prémios em disputa são altamente atractivos , o número de pombos participantes situa-se em milhares , no Golden race este ano 3835 no primeiro treino, a logística deverá ser extremamente trabalhosa para os seus colaboradores directos e em suma , tornam-se pólos de deslocação de columbófilos nacionais e internacionais e suas respectivas famílias contribuindo para dar visibilidade ao país e á região que os organiza.
Por estes aspectos estamos já aqui em presença de algo novo , marcante , com diversos parâmetros positivos o que na minha óptica deverá merecer da parte dos organizadores alguma reflexão porque “ a galinha que dá estes ovos de oiro pode por qualquer razão deixar de os pôr”.
O que pretendo com este pensamento é apenas analisar á luz dos dados das próprias organizações os dois derbies mais importantes que temos no nosso país, o de Mira e o Golden Race que tem hoje na minha opinião características ímpares a nível do globo. Não vou sequer compará-los ( eles não são comparáveis). Vou apenas e só basear-me numa análise aos mesmos tirando depois uma ou outra conclusão mas, estas têm de ser tiradas ( e talvez já o tenham sido pelos organizadores)
Mira
È um derby já com alguns anos , vejo um certo cansaço, mas dentro do contexto do nosso país ainda teve uma participação significativa. As distancias em disputa são menores e o número de pombos envolvidos também é mais reduzido.
Assim:
- Participação no primeiro treino ( 50 Km) estiveram 1207 pombos.
- Realizaram sete treinos, sendo o último de Montemor ( 200 Km) que envolveu 936 pombos . Por outras palavras , perderam-se nestes treinos 271 pombos o que equivale a 22% . Não me parece exagerado, bem pelo contrário.
- A prova final foi de Loulé ( 380 km) e aqui tudo se complicou. Pombos participantes 927. Chegados no primeiro dia 179 pombos ( isto significa cerca de 19 % ), o que é um número muito baixo para esta participação. No segundo dia chegam mais 162 pombos e poucos mais estão registados . Ou seja mais de metade dos pombos ou perderam-se ou nos dados da prova não constam.
O Golden Race
- Pombos participantes no primeiro treino 3835.
- Atingem os 100 Km ao sexto treino e são enviados 3534 pombos . Até este treino estão cerca de 10% dos borrachos perdidos o que neste cenário não me parece elevado.
- O sétimo treino realiza-se da Vidigueira e ainda tem de participação 3520 pombos.
- A partir deste último treino tudo se vai alterar. Évora segue-se como treino , com uma média alta ( 1511 ) mas já com uma perda de pombos na casa dos 400 . Este número é superior a todas as perdas do conjunto dos treinos.
- Segue-se Portalegre com uma média baixa o que indica dificuldades e também com muita falta de pombos na chegada.
- Chega-se a Castelo Branco ( 290 Km ) e já contando como prova. São enviados 2195 pombos . Isto significa que entre Vidigueira e Castelo Branco desapareceram 1325 pombos ( este sim é já um número muito exagerado )
- Prova final, Bragança, com cerca de 500 Km e com 1783 pombos participantes. Tudo isto significa que já não constam 2052 pombos o que corresponde a cerca de 53% dos borrachos perdidos.
- Bragança torna-se um desastre. Pombos chegados no primeiro dia 48 ( o que significa 2,7% dos pombos que foram soltos) , no segundo dia chegam 525, no terceiro dia 74. No final e tendo por base os registos da organização temos chegados 675 pombos . ( 37,8% de chegados até 6 dias depois da prova)
- Começaram 3835 pombos , chegaram ao fim 675 o que significa 17 % dos total de pombos participantes.
É quer se queira ou não um desastre!
Em Mira os borrachos perderam se principalmente na prova final e esta tinha 380 km.
No Golden Race os borrachos começaram a perder-se no sétimo treino e a partir deste essas perdas são sempre crescentes, terminando na prova final como algo de negativo. Por outras palavras os pombos poderão ter entrado em desgaste excessivo ( ou algo de doença ) e não conseguem recuperar entre os últimos treinos/ provas.
Isto é apenas uma mera opinião porque sei perfeitamente que estamos a falar já em provas de 500 Km , e de borrachos . Por outro lado acho muito difícil conseguir tratar em condições cerca de 4000 pombos ( isto por muito conhecimentos que os organizadores tem e por muito esforço que é a todos é pedido ). Sei que estes derbys são de enorme desgaste mas há algo que tem de ser neles corrigido.
Há necessidade premente de acautelar a parte desportiva porque, se continuar como até agora só a vertente financeira é tida em linha de conta, isto não tem grandes hipóteses de sobreviver. Cito que já este ano em algo semelhante no Campeonato do Mundo na Roménia dos 1164 pombos inscritos só chegaram no primeiro dia na prova final 42 atletas. Desperta-me também a atenção que em países como a Holanda eles estão proibidos e na Bélgica só um é autorizado.
Foi apenas e só uma reflexão ….
( pulicado no jornal Mundo Columbófilo de 16 Novembro de 2015)
|