APROXIMAÇÃO JUSTIFICATIVA AO DESASTRE DE 28 DE MAIO DE 2006 |
13/09/2012 |
ANTECEDENTES
Por altura da exposição distrital de Santarém, em Janeiro de 2004, foi publicado, na revista alusiva ao evento, um artigo sobre elementos meteorológicos e o modo como afectam o pombo-correio e posteriormente transcrito na revista columbofilia. Neste artigo, e no respeitante à temperatura dizia-se o seguinte: Temperaturas máximas acima de 35º-36ºC são muito nefastas para o voo do pombo-correio, podendo mesmo provocar-lhe a morte. Ainda no mesmo artigo se dizia: A primeira prova efectuada com calor é normalmente a que provoca mais baixas pela falta de adaptação do pombo ao meio que o rodeia;
No dia 25 de Maio o Meteorologista Assistente da FPC colocou as previsões na Internet, nas quais se previam para o dia 28 de Maio de 2006 temperaturas superiores a 35º-36ºC.
No entanto neste mesmo dia aconteceram catástrofes do mesmo valor em território francês e incidentes/acidentes na Bélgica. A estas situações foi atribuído, pelas respectivas Federações, a um problema no campo magnético da Terra resultante de um sismo na Indonésia na madrugada do dia 28 de Junho de 2006.
Como é do conhecimento genérico ainda não se consegue fazer previsão de sismos e no caso das inversões térmicas só existem sondagens atmosféricas às 00h e 12 horas de cada dia. Só cerca das 04/05 horas depois se tem acesso a esta informação de modo a poder verificar a existência ou não de inversões térmicas.
Em termos de previsão pode-se dizer que existem condições para existir inversão térmica.
No caso específico português se existiu variação magnética teria sido comum às soltas efectuadas quer no Norte quer no Sul, pelo que a diferença de resultados de pombos chegados só se deveu à altitude a que foram soltos e aos abeberamentos efectuados ou não como factor positivo ou negativo em relação à solta.
Relação de Perdas por distrito estimadas em 30 de Maio de 2006
(fonte: coordenadores de solta)
Maio |
27 |
Sábado |
Beja |
Foz do Geraldo |
Velocidade |
4 a 5 % |
Maio |
27 |
Sábado |
Beja |
Sabugal |
Velocidade |
4 a 5 % |
Maio |
27 |
Sábado |
Évora |
Almeida |
Velocidade |
s/dados |
Maio |
27 |
Sábado |
Évora |
Vilar Formoso |
Velocidade |
S/dados |
Maio |
27 |
Sábado |
Faro |
Monção |
Fundo |
10 a 12% |
Maio |
27 |
Sábado |
Leiria |
Fig Castelo Rodrigo |
Velocidade |
1 a 3% |
Maio |
27 |
Sábado |
Lisboa |
Satão |
Velocidade |
1 a 2% |
Maio |
27 |
Sábado |
Lisboa |
Mangualde |
Velocidade |
1 a 2% |
Maio |
27 |
Sábado |
Setúbal |
Mirandela |
Meio Fundo |
02 a 05% |
Maio |
28 |
Domingo |
Santarém |
Portelo |
Meio Fundo |
08 a 12% |
Maio |
28 |
Domingo |
Portalegre |
Bragança |
Meio Fundo |
10 a 12 % |
Maio |
28 |
Domingo |
Leiria |
Albufeira |
Meio Fundo |
30 a 35 % |
Maio |
28 |
Domingo |
Coimbra |
S. Brás Alportel |
Meio Fundo |
20 a 30% |
Maio |
28 |
Domingo |
Aveiro |
Portimão (Alvor) |
Meio Fundo |
30 a 40 % |
Maio |
28 |
Domingo |
Porto |
Armação de Pêra |
Meio Fundo |
40 a 50% |
Maio |
28 |
Domingo |
Porto |
S. Brás de Alportel |
Meio Fundo |
40 a 50% |
Maio |
28 |
Domingo |
Braga |
Vila do Bispo |
Fundo |
60 a 70 % |
Maio |
28 |
Domingo |
Viana Castelo |
Aveiras de Cima |
Velocidade |
50 a 60% |
Neste dia a temperatura máxima foi de 38ºC na região de Beja e Santarém. Saliente-se ser o primeiro fim de semana do ano a ser considerado com “onda de calor”, onde havia falta de adaptação do pombo, do Columbófilo, dos clubes, Associações e Federação, ao meio.
Verificou-se no dia 28 de Maio de 2006 a existência de uma inversão térmica em altitude em quase toda a Península Ibérica.
Apresentam-se as sondagens das 00H e 12H da Corunha e Gibraltar. Na Corunha iniciava-se quase à superfície e ia até cerca dos 900 metros e em Gibraltar o seu início era perto dos 800 metros.
O vento no Sul era de Este e Sudeste e no Norte de Este e Nordeste.
As temperaturas mínimas eram superiores a 22/24ºC.
Bragança: altitude sensivelmente 700 m
Beja: altitude sensivelmente 230 m
Com base na teoria inversão térmica/raios UV pode-se extrapolar as seguintes conclusões:
No dia 28 de Maio de 2006 os distritos que soltaram a Sul estavam a soltar a uma altitude que variava entre os 220 e 300 metros. Os distritos que soltaram a Norte estava a soltar acima dos 700 metros.
Neste dia verificava-se uma inversão térmica a cerca de 800 metros, Os pombos que foram soltos a norte ao serem largados estavam perto do topo da inversão ou acima dela, enquanto que os que soltaram a sul voaram sempre debaixo da inversão térmica.
Segundo a teoria de Hubert Land & Steven Van Breemen o acidente especificamente a uma inversão térmica. O aparecimento de pombos no mar vem corroborar a teoria de que os pombos seguem o vento em situações de inversão térmica, descrito na mesma por Hubert Land & Steven Van Breemen.
Não podemos, no entanto, menosprezar a onda de calor que se verificou nesse fim-de-semana, a primeira do ano, que conjugada com a inversão térmica causou a catástrofe a que todos assistimos.
Tivemos conhecimento que em muitas colectividades os pombos não foram abeberados, bem como em alguns camiões de Associações, pelo que a desidratação aconteceu dentro das viaturas de transporte. Esta teoria vem a ser confirmada porque os maiores acidentes aconteceram dentro das carrinhas das colectividades em treinos inferiores a 200Km. O problema não foi a distância: foi o calor e a desidratação dentro das viaturas. (temperaturas superiores a 30ºC às 00Horas do dia 28 de Maio de 2012)
Não se pretendeu encontrar culpados com este trabalho, antes sim relembrar que este foi e será um marco histórico da columbofilia portuguesa porque não se voltou a repetir os erros verificados nos abeberamentos.
O importante é e será sempre a compreensão dos factos de modo a que quando cairmos ao chão devamos apanhar pelo menos uma pedra para a colocarmos em sitio bem visível para que essa situação não se repita.
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