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Desmistificação, à luz dos factos, de alguns "fantasmas na columbofilia" 06/11/2024

 

Desmistificação, à luz dos factos,

 de alguns “fantasmas na Columbofilia”

 

Na busca incessante do conhecimento, agarrei-me às preocupações que alguns columbófilos e entidades organizadoras de soltas de Pombos-correio têm, afirmam e defendem, sobre os efeitos do Fator K e também da sismicidade na capacidade de regresso do pombo-correio a casa. Para mim, faz sentido que possa ser um fator ou uma escala em que possa haver um número a partir do qual se soltaria ou não os pombos-correio. Tudo se tornaria mais fácil nas tomadas de decisão. Mas é aqui que “não bate a bota com a perdigota”. Não sabendo como Pombo-correio se orienta, só nos resta estar atentos ao que acontece nas soltas e verificar, a todo o tempo com espirito cientifico, o que possa ter acontecido ou prejudicado numa solta desastrosa. O interiorizar, publicar ou influenciar quem quer que seja com artigos avulso na internet sem ter dados científicos é, de certo modo, denegrir a columbofilia e não contribuir para a sua evolução. O alarmismo criado à volta dos fenómenos em referência não tem trazido nada de positivo e é sempre inimigo da evolução deste nosso desporto por falta de base científica. Tem acontecido influências internacionais, e até mesmo de fornecedores de equipamentos de constatação, em soltas

 

1-Tempestade geomagnética: uma tempestade geomagnética, ou tempestade solar, podemos dizer de uma forma simples, (…) que é uma perturbação temporária da magnetosfera da Terra causado por uma onda de choque do vento solar e/ou nuvem magnética que interage com o campo magnético da Terra. A Terra recebe radiação de diferentes energias e origens do espaço sideral, mas a sua superfície está razoavelmente protegida por diversas camadas da atmosfera. A magnetosfera funciona como um escudo protetor de plasma, onde partículas carregadas são controladas pelo campo magnético que desvia a maior parte das partículas energéticas que chegam ao planeta. Um fluxo de radiação eletromagnética emitida pelo Sol chega à Terra constantemente e sofre influência do campo geomagnético e da atmosfera terrestre, que impedem que o planeta seja atingido diretamente e fazendo com que o vento solar flua em torno do campo. Mas a magnetosfera pode ser perturbada e alterar a sua intensidade e direção quando se verificarem um grande número de erupções solares. A radiação transborda a magnetosfera e ioniza outras regiões da atmosfera trazendo diversas consequências eletromagnéticas e climáticas. (…) (fonte wikipedia).

 

Índice KP (Índice K planetário estimado) retrata diretamente a intensidade do fluxo solar e as perturbações causadas na alta atmosfera terrestre, principalmente a ionosfera.

O valor médio dessas observações é utilizado para produzir um índice que diz aos cientistas o quanto perturbado está o campo magnético da Terra, numa escala de 0 a 9 pontos. Quanto menor o índice (entre 1 e 2), mais calmo está o campo. Em algumas situações, as mudanças na atividade do Sol podem causar grandes mudanças no valor de Kp. Noutros momentos, valores altos de Kp podem indicar rearranjos repentinos do campo magnético da Terra devido ao vento solar. Valores de Kp maiores ou iguais a 5 indicam atividade geomagnética que sinaliza tempestade solar. Os principais utilizadores afetados por tempestades geomagnéticas são a rede de energia elétrica, operações espaciais, utilizadores de sinais de rádio que refletem ou passam pela ionosfera e observadores da Aurora Boreal. Existem várias estações mundiais onde são efetuadas leituras do campo magnético, e índices solares, nomeadamente do Índice K.

 

Resultados de soltas efetuadas em dias de céu pouco nublado ou limpo em situação de Tempestade Geomagnética.

Antecedentes:  muitos artigos foram escritos e estão publicados que, de certo modo, contrariam os factos observados nas soltas estudadas, o que põe em causa a aplicação desses estudos na Península Ibérica.

Já em 2017 foi publicado um Artigo e publicado no jornal Portugal Columbófilo sobre “Tempestades geomagnéticas, “Índice K” e o que se constatou nas soltas de pombos-correio” encontrando-se disponível em “Estudos” na página http://www.fernandogarrido.loftgest.com/

 

Numa solta de Miranda do Ebro para o Distrito de Lisboa em 20 de maio de 2023, muitas vozes defenderam que a causa das percas verificadas nesse dia se tinha devido a uma tempestade magnética, cujo fator K tinha sido igual a 5. Nunca fiquei convencido com essa razão porque no mesmo dia tinham sobrevoado o Planalto Central várias soltas para os distritos do Norte, com resultados que se podem considerar “normais”.

 

Ora, este ano numa solta efetuada de Vilar Formoso para Lisboa no dia 11 de maio (única solta efetuada neste dia), o primeiro pombo da Zona Norte fez 1543.831mm e o último da classificação (1077) fez o percurso a 1298.898mm fechando a classificação em mais ou menos 17 minutos. Saliente-se que no dia 11 de maio, os valores de fator K foram entre 8 e 9.

(https://www.spaceweatherlive.com/en/archive/2024/05/11/kp.html)

 

Muitos são os columbófilos e entidades organizadoras de soltas de Pombos-correio que, com base em algumas publicações e especialmente numa publicação editada em https://solar-center.stanford.edu/solar-weather/pigeons.html, (afirma que a de atividade geomagnética, de 4 ou mais no índice 'K', é considerada insegura para treinar ou fazer corridas com Pombos-correio)  ficam com dúvidas e influenciam ou tentam influenciar os Coordenadores de Solta com base em erros formais.

 

Conclusão. Faces a estas observações e ao estudo de 2017, a aplicabilidade da dúvida ou mesmo da proibição de soltas de Pombos-correio em dias de céu pouco nublado ou limpo com fator K de 4 ou mais não é justificativo por não ter base científica à nossa latitude.

 

2- Resultados de soltas efetuadas em dias de céu pouco nublado ou limpo em situação de Sismo.

Sismo ou Terramoto: um sismo ou terramoto quando de grande magnitude, é o resultado de uma súbita liberação de energia na crosta do planeta Terra geralmente resultante do choque entre placas tectónicas, o que gera ondas sísmicas. A sismicidade ou atividade sísmica de uma área refere-se à frequência, tipo e tamanho dos terremotos registrados ao longo de um período de tempo na região. Os sismos são basicamente a ocorrência de uma fratura a uma certa profundidade. As ondas elásticas geradas propagam-se por toda a Terra. Os grandes sismos são popularmente designados de terramoto. A duração de um sismo varia desde poucos segundos a dezenas de segundos.

 

Facto: no dia 26 de agosto de 2024, às 5h11 da manhã, um tremor de terra de 5.3 de magnitude, com epicentro 58 quilómetros a oeste de Sines, foi sentido em todo o Portugal Continental, mas também em Espanha, Gibraltar e Marrocos. As localidades que mais sentiram o abalo foram Grande Lisboa, Oeiras, Sesimbra, Setúbal e Santiago do Cacém.

 

Soltas de pombos-correio com sismo em 26 de agosto de 2024: Treino do Derby de Mira: Ponte de Sor-Mira 157Km; 1580 chegados de 1674 encestados;

Treino do Derby do Porto: Montalvo-Porto 184Km; 328 chegados de 386 encestados;

Treino do Derby de Moledo: Vila da Feira-Moledo 103Km; 1409 chegados de 1455 encestados.

 

 

Conclusão

Perante as observações e os resultados obtidos quer em dias de elevado fator K (K>4), quer em dia de sismos, (como o que se registou em Portugal continental em 26 de agosto de 2024, com magnitude de 5,3 na escala de Richter) não se verificaram desastres à nossa latitude, mas sim percas ou atrasos que poderemos considerar normais. Deste modo, como ainda não dominados o conhecimento sobre a orientação do Pombo-correio, resta-nos estar atentos, tentando analisar a todo o tempo, com o intuito de aprender e, de certo modo, desmitificar preconceitos ou informações pouco corretas tão comuns agora nas redes sociais.

 

Fernando Garrido