Escola de Meteorologia

CLIMATOLOGIA DE PORTUGAL 18/07/2012

CLIMATOLOGIA  DE PORTUGAL CONTINENTAL

 

DESCRIÇÃO FÍSICA DE PORTUGAL CONTINENTAL

     Portugal continental está situado no hemisfério norte entre as latitudes 37 e 42º Norte e as longitudes de 06 e 09º Oeste.  A sua localização peninsular e a norte de um grande deserto, leva a que para a definição do seu clima contribuam as mais diversas influências. O território continental está situado numa zona subtropical,  que se estende por 860 Km do Norte para o Sul, que é de transição e que separa os ventos com componente oeste, a norte, dos ventos com componente leste, a Sul. Estas latitudes são uma cintura propensa a variações frequentes da direcção do vento, resultando desse facto uma rápida mutação das condições do tempo. Por sua vez o factor longitude provoca que a costa portuguesa, a mais ocidental da Europa, é a primeira a sofrer a influência das perturbações que se geram ou desenvolvem ao atravessar o Atlântico Norte. Outros factores, como os fisiográfícos (mares, continentes, lagos, topografia, etc.) determinam que, na generalidade, a intensidade e a duração com que os fenómenos atingem as regiões do interior sejam diferentes, se comparadas com as zonas litorais. Durante o inverno, Portugal é afectado por massas de ar frias e húmidas, por superfícies frontais vindas de NW, por massas de ar frias e secas vindas da Sibéria e que se aproximam por NE. Durante o Verão as influencias são das massas de ar quentes e secas vindas do norte de África e das massas de ar quentes e húmidas transportadas de SW pelo Anticiclone dos Açores. Durante as estações de transição a situação ainda se complica mais pois, durante essas estações todas estas influencias são possíveis. Para aumentar esta complexidade temos a acrescentar as grandes diferenças morfológicas entre o norte e o sul do território. Este é constituído por uma região montanhosa a norte e por uma região de planícies e planaltos a sul. A dividir estas duas regiões encontra-se uma grande cordilheira  montanhosa (Sintra - Montejunto - Estrela), orientada na direcção SW-NE. Esta cordilheira montanhosa tem uma grande importância na distribuição dos elementos do clima ao longo do território. Porque a grande maioria da precipitação que afecta Portugal vem de NW, a cordilheira referida é um obstáculo ao seu normal deslocamento para sul e, por isso, influencia a quantidade de precipitação que as terras do sul recebem. Outro dos obstáculos ao movimento dos sistemas de tempo são as montanhas no Minho; estas montanhas são de primordial importância na distribuição dos elementos do clima na região de Trás-os-Montes.

 

Climatologia Descritiva de Portugal.

 Precipitação. A precipitação tem uma distribuição não uniforme ao longa do território. Tal facto deve-se essencialmente à distribuição do relevo. A cordilheira central divide o território em duas regiões pluviometricamente distintas; a norte do sistema a precipitação é abundante e distribuída ao longo de todo o ano, com o máximo em Dezembro e o mínimo em Julho; a sul a precipitação é menos abundante e ocorre principalmente nos meses de Outono, Inverno e Primavera. Como excepção a esta regra temos a região do vale do Douro, onde a precipitação é semelhante à ocorrida na região a sul do sistema montanhoso central. Este facto é devido à obstrução que as montanhas do Minho provocam ao normal deslocamento dos sistemas de tempo que vêm de NW. Os valores totais não só decrescem de Norte para Sul como também da costa para o interior. As diferenças apontadas são notórias se observar-mos os valores verificados em alguns locais escolhidos a Sul do sistema montanhoso Sintra - Montejunto - Estrela verificam-se duas excepções ao atrás referido: Monchique, a 395 metros de altitude (37º l9’ N e 08º 33’ W) com o valor total anual de 1264,1 mm e Barranco do Velho a 475 m de altitude (37º 14’ N e 07º 56’ W) com o valor total  de 1050,4 mm.

Local

Altitude

Coordenadas

Ano (mm)

Janeiro(mm)

Julho(mm)

Gerês

430 m

41º  44’ N - 08º  10’W

2908,8

450,5

50,9

Barca de Alva

130 m

41º  02’ N - 06º  57’W

385,2

48,3

8,3

Santiago do Cacém

228 m

38º  01’ N - 08º  40’W

717,5

111,2

2,4

Lagos

12 m

31º  06’ N - 08º  40’W

435,2

62,9

1,4

Temperatura. Devido à grande extensão de costa que Portugal tem, o seu clima é fortemente afectado pelo mar. A acrescentar a isto temos a proximidade do norte de África em relação ao sul do território e a grande altitude média das terras do norte. Assim, no que respeita à distribuição da temperatura, temos a considerar três grandes regiões:

-       a costa e regiões adjacentes, onde a distribuição da temperatura é fortemente afectada pela proximidade do mar e que, por isso, tem Invernos amenos e Verões pouco quentes;

-       a região sul (e o vale do Douro) que, devido à proximidade do norte de África (não se aplica ao vale do Douro) e à pequena cobertura vegetal, tem Invernos amenos mas Verões muito quentes;

-       as terras altas (Minho, Trás-os-Montes e região da serra da Estrela) vão ter as suas temperaturas médias fortemente afectadas por factores de altitude. Isto leva a que os seus Verões sejam pouco quentes e os seus Invernos sejam muito frios.

A distribuição, das isotérmicas é mais ou menos regular e paralela á linha de costa, sofrendo maior variação com o afastamento do mar. Os maiores valores médios anuais (iguais ou superiores a 17,5º C) ocorrem no Alentejo, no lado Oeste, e no Algarve. Valores da ordem dos l5º a l6º C ocorrem junto à costa e nos vales do Douro e Tejo. No Inverno, as máximas ocorrem nas zonas costeiras do Centro e Sul e as mínimas na região da Serra da Estrela e no Nordeste Transmontano. No Verão, as máximas ocorrem no Alentejo, no lado Oeste, e na região da Serra da Estrela.

 Nevoeiro. A ocorrência de nevoeiros em Portugal é pouco significativa em termos gerais.  Este elemento meteorológico ocorre essencialmente nas regiões montanhosas (serra da Estrela, serra da Arada, serras do Minho, etc.), em algumas regiões litorais (região do Porto, entre a Figueira da Foz e Aveiro, Cabo da Roca, etc.) e em outras regiões com determinadas particularidades na distribuição dos factores do clima, nomeadamente: proximidade de rios, grande cobertura vegetal com grande evapotranspiração associada, proximidade de barragens, etc. Em termos de distribuição mensal, os nevoeiros ocorrem principalmente durante os meses que vão de Outubro a Abril. Os nevoeiros são em regra de advecção e radiação, eventualmente orográficos e frontais. As massas de ar marítimo vindas de Oeste encontram primeiro a costa, em regra com a terra arrefecida pela radiação nocturna, formando-se nevoeiros que são por isso mais frequentes de manhã e no litoral.

 Insolação. A distribuição da insolação é fortemente condicionada por factores de altitude (maior existência de nuvens) e pela proximidade de regiões costeiras com fortes entradas de ar marítimo (existência de nuvens, principalmente durante a manhã). À parte estes factores, a insolação aumenta de norte para sul; este factor não é de estranhar pois a região sul de Portugal está bastante próxima do norte da África. Como é fácil de entender, os maiores índices de insolação verificam-se durante o Verão com valores que, em média são o triplo dos verificados durante o Inverno. A linha de alturas Sintra - Montejunto - Estrela, faz a separação entre as regiões a norte, com menor número de horas de insolação por ano, com valores inferiores a 2400 horas, e as regiões a sul, com valores que vão das 2400 às 3100 horas.

Vento. A distribuição do vento em Portugal é fortemente influenciada pela ocorrência de brisas, principalmente no litoral. Como as brisas são fenómenos que ocorrem com maior intensidade durante a tarde, é conveniente estudar o vento durante a manhã e durante a tarde. A distribuição anual do vento durante a manhã não revela, no geral do território, qualquer sentido predominante, mas durante a tarde o mesmo vento já revela o sentido de NW como sentido predominante e aumento de intensidade.  Como veremos, este aumento de intensidade e esta direcção predominante do vento, quando fazemos estudos anuais, é grandemente afectado pelo vento existente durante o Verão, pois é nesta estação que o efeito de brisa se sente com maior intensidade. Durante o Inverno, o vento médio de manhã e de tarde é sensivelmente igual, pois durante esta estação não se verificam brisas de grande intensidade. Durante esta estação não existe uma direcção predominante para o vento e a sua intensidade média não excede, em geral, os 25 KT. Durante o Verão, devido às referidas brisas o vento já tem um sentido predominante (NW), sendo a sua intensidade média superior à verificada durante o Inverno. A predominância do sentido de NW verifica-se tanto de manhã como de tarde, embora seja muito mais marcado durante a tarde e com maior intensidade. Este efeito é bastante visível na costa Oeste, embora não se restrinja a esta.  Na costa Oeste existe, também, vento com forte componente de Norte (conhecido por nortada), que é provocado pela acção conjunta da brisa marítima e da depressão de origem térmica, que se forma no centro da Península Ibérica durante o Verão.

 Geada. Os estudos climatológicos referentes à geada dão, normalmente, uma grande importância às datas da primeira e da última ocorrência. A distribuição deste elemento do clima tem uma forte ligação com a distribuição das temperaturas mínimas junto ao solo e com o tipo de cobertura do mesmo. Assim, é de esperar que as regiões com uma mais prolongada época de geadas sejam as terras montanhosas do nordeste transmontano e o interior do Alentejo (primeiras geadas em Novembro ou antes e últimas geadas em Abril ou depois - últimas geadas em Maio no caso do nordeste transmontano). Por outro lado, as  regiões expostas  a influências marítimas e os vales dos rios têm um menor período do ano com geadas (primeiras geadas normalmente em Dezembro ou depois e últimas geadas normalmente antes de Março). A região de Sagres, devido ao seu baixo índice de continentalidade, apenas tem geadas entre a última quinzena de Janeiro e a primeira quinzena de Fevereiro. No que respeita ao número anual de dias com geada este é maior nas terras de pequena cobertura vegetal de Trás-os-Montes e Alto Douro (mais de 60 dias com geada); o interior do Alentejo tem outro máximo relativo com mais de 30 dias com geada durante o ano. As regiões de forte influência marítima e os vales dos rios têm, normalmente, menos de 10 dias com geada ao longo do ano.

 Trovoada. Mais frequente na Primavera e Outono, com máximos em Maio e Setembro. Ocorre geralmente associada a frentes frias ou depressões térmicas. O numero de dias com trovoada, por ano, diminui de Norte para Sul, havendo no entanto algumas excepções.

Humidade do Ar.  Os valores máximos da humidade do ar ocorrem nas zonas costeiras do Centro e Algarve. Os valores mínimos ocorrem nas regiões das serras da Estrela e Montemuro. A variação diária é maior no Verão do que no Inverno.

Nebulosidade. A média anual diminui de Norte para Sul. É maior nos meses de Inverno e menor nos meses de Verão.

 

CLIMATOLOGIA SINÓPTICA DE PORTUGAL CONTINENTAL

 No parágrafo anterior foram focados os principais elementos climáticos e a sua frequência e distribuição pelo território de Portugal continental. Processo complementar deste é descrever o clima através das situações sinópticas, típicas, predominantes em cada mês ou época do ano. O tempo em Portugal é influenciado pelo anticiclone dos Açores e os centros depressionários que percorrem o Atlântico Norte de oeste para este. Conforme os casos, o País pode ser invadido tanto por massas de ar polar, marítimo (Pm) ou continental (Pc), como por massas de ar tropical, marítimo (Tm) ou continental (Tc). De acordo com a temperatura e a humidade, estas massas de ar podem ser mais ou menos estáveis ou instáveis.

1. Situações Típicas de Inverno. No Inverno, o anticiclone dos Açores pode ligar-se a um anticiclone centrado sobre a Europa. Os dias são então muito frios, agradáveis quando se está ao Sol. As noites são extremamente frias, com forte irradiação, que pode levar à formação de geada. O vento é fraco ou moderado de NE. Com massas de ar Pc, o tempo mantém-se seco, mas com massas de ar Pm o tempo torna-se húmido e nas montanhas pode chover ou cair neve. Quando os centros depressionários vindos do Atlântico passam pelo País, tem-se mau tempo. São dias encobertos, de chuva mais ou menos intensa, por vezes acompanhada de trovoadas. O vento pode tornar-se muito forte, provocando verdadeiro temporal. A estes centros depressionários, ligam-se normalmente sistemas frontais que condicionam toda a evolução do tempo. No Inverno, esta situação é muito frequente, uma vez que o País é atravessado por sucessivos sistemas frontais, correspondentes à ondulação da frente polar. A passagem da frente quente é acompanhada de céu encoberto e chuva mais ou menos intensa e prolongada. O País é invadido por massas de ar Tm, que determinam uma subida da temperatura. O vento tende a soprar de SW, por vezes com grande intensidade. A passagem da frente fria é acompanhada de céu mais ou menos encoberto e de chuvas mais ou menos intensas, em geral dispersas e breves, do tipo aguaceiro. O País é invadido por massas de ar Pm, que determinam uma descida da temperatura. O vento tende a soprar de NW, por vezes com grande intensidade.

 

    (a) Tempo Frontal. Extensa região depressionária muito  cavada e centrada a sul da Islândia. Esta situação provoca das maiores quantidades de precipitação em Portugal. É frequente formarem-se ondulações que retardam o movimento das superfícies frontais. Após a passagem da superfície frontal, também é frequente a formação de ondulações sobre a Península Ibérica que provocam forte nebulosidade e afectam sobretudo a parte Sul do território. O vale depressionário  pós-frontal, em altitude, transporta no seu deslocamento para leste uma massa de ar bastante frio e húmido, ocorrendo trovoadas e aguaceiros de chuva e granizo.

  (b) Esta situação, é caracterizada  pelo desenvolvimento de um anticiclone com o núcleo centrado sobre a Europa do Norte. No Norte e Centro o céu apresenta-se geralmente limpo, a visibilidade boa, o vento fraco e ocorre acentuado arrefecimento nocturno. No Sul e devido à acentuada curvatura ciclónica das linhas de corrente com origem no Norte de África, existe a possibilidade de ocorrer nebulosidade, e, em alguns casos, aguaceiros e trovoadas.

 (c)    Depressão Fria. Forma-se a NE dos Açores ou a N da  Madeira. A esta depressão está geralmente associada uma ondulação frontal bastante ocluída, portanto, quse estacionária. O vento sopra normalmente do quadrante Sul e o céu apresenta-se muito nublado. Nas regiões montanhosas ocorrem aguaceiros, por vezes acompanhados de trovoadas. esta situação ocorre principalmente de Novembro a Março.

  (d)    Anticiclone sobre a Península Ibérica. O aparecimento deste núcleo  de altas pressões sobre a Península está relacionado com a existência de um Anticiclone semi-estacionário centrado a Oeste dos Açores. Causa bom tempo e céu limpo com vento variável e calmo. Ocorre por vezes neblina e nevoeiro geralmente persistente.

  2. Situações Típicas de Verão. Quando o anticiclone dos Açores se estende sobre a Península Ibérica, predomina bom tempo. São dias de sol, com céu limpo. O vento é fraco ou moderado. No Verão, os dias são muito quentes, com forte insolação, mas as noites são mais amenas devido à irradiação nocturna. O aquecimento diurno pode levar à formação de um centro de baixas pressões no interior da Península. O vento tende a soprar de N e são então vulgares as nortadas, por vezes muito desagradáveis. O País fica sujeito a massas de ar Pm, Pc ou Tc, e assim o tempo é mais fresco e húmido, ou mais quente e seco. No Verão o anticiclone dos Açores, encontrando-se mais para norte, tende a bloquear a passagem das depressões, que são obrigadas a percorrer trajectórias situadas bastante a norte.

      (a)    Tempo Frontal. No princípio e fim do verão, com o anticiclone situado a NW dos Açores, a superfície frontal fria, geralmente associada a uma depressão situada sobre a Europa Central, atinge por vezes a Península Ibérica. Afecta sobretudo as regiões montanhosas do Norte e Centro do território. Ocorre um aumento de nebulosidade e aguaceiros fracos, principalmente nas regiões montanhosas. Após a passagem da frente o vento pode soprar do quadrante Norte com forte intensidade.

      (b)  Anticiclone dos Açores. Durante os meses de Verão, o Anticiclone dos Açores, que se mantém quase estacionário, ou a crista de altas pressões a ele associada, condicionam as condições meteorológicas em Portugal continental. O céu apresenta-se geralmente limpo, ou pouco nublado com nuvens altas. É provável a formação de neblina ou nevoeiro matinal.

     (c)    Depressão de Origem Térmica. Forma-se frequentemente sobre a Península Ibérica (Maio a Setembro) uma depressão de origem térmica. Ocorre geralmente forte brisa marítima que na costa ocidental é apelidada de Nortada. A visibilidade é geralmente boa, por vezes moderada quando ocorrem aguaceiros. É provável a formação de nuvens de desenvolvimento vertical e trovoadas.

 3. Épocas de Transição. Correspondem a períodos em que as situações não são tão claras (Primavera e Outono). A presença do Anticiclone dos Açores e de uma depressão sobre o golfo da Gasconha são as situações mais comuns nas épocas de transição. Ocasionalmente, os centros depressionários podem passar entre o Continente e a Madeira, a caminho do estreito de Gibraltar. O País é então invadido por massas de ar Tm ou Pm modificado. O vento sopra de SW e SE. O céu fica encoberto e chove no sul de Portugal. Esta situação é mais frequente na Primavera e Outono. Uma situação curiosa dá origem ao conhecido Verão de São Martinho. Na primeira quinzena de Novembro, podem-se observar por vezes belos dias de sol, céu limpo e sem vento, em que a temperatura sobe, que recorda de facto o verão pela serenidade da atmosfera, pela ausência de chuvas e pela temperatura ainda elevada durante o dia, o que se torna agradável depois da descida de Outubro. O país é invadido por massas de ar Tc, vindas do Mediterrâneo e do Norte de África. O vento tende a soprar de SE. Em 50 anos, contaram-se cerca de 15 anos em que se verificou um Verão de São Martinho típico. Na Espanha, é o “Veranillo de San Martín”, na França, o “Été de la Saint Martin” e, na Alemanha, o “Altweibersommer” ou “Verão das Velhas”.

 

Texto e desenhos: TCOR/TOMET  Morais Pequeno