OS TRANSPORTES DOS NOSSOS “POMBOS-CORREIO DE CORRIDA” VERSUS LEGISLAÇÃO |
16/07/2012 |
Gostaria de começar este artigo com a transcrição das alterações fundamentais ao transporte de animais vivos que poderão, na sua grande maioria, ir para abate e deixar à consideração do columbófilos as diferenças entre estes e o transporte dos nossos “pombos-correio de corrida” de alta competição. Sabe-se que é difícil economicamente de fazer mudanças bruscas nos nossos transportes. Mas ao tempo que estas normas entraram em vigor, poder-se-ia, pelo menos, ter legislado estabelecendo metas. Afinal queremos ou não o melhor para os nossos pombos? É nosso dever ou não defender o pombo-correio?
Vejamos, resumidamente, o descrito no Regulamento (CE) n.º 1/2005 do Conselho, de 22 de Dezembro de 2004
ABEBEBERAMENTO: Os transportes devem estar equipados com um sistema de fornecimento de água que permita ao tratador fornecer água instantaneamente sempre que necessário durante a viagem; Os aparelhos de abeberamento devem ser bem concebidos, estar em boas condições de funcionamento e posicionados de acordo com as necessidades dos pombos; Os bebedouros devem ser concebidos de modo a poderem ser drenados, limpos e desinfectados após cada viagem e possuírem um sistema de verificação do nível da água; Os depósitos devem estar ligados a aparelhos de abeberamento e mantidos em boas condições de funcionamento e de higiene.
VENTILAÇÃO: Os meios de transporte rodoviário devem ser equipados com sistemas de ventilação e controlo da temperatura:
Os sistemas de ventilação devem ser concebidos, construídos e mantidos de forma a, em qualquer momento da viagem e com o meio de transporte em movimento ou estacionado, manter uma gama de temperatura de 5º a 30ºC dentro do meio de transporte, para todos os animais, com uma tolerância de +/- 5ºc, consoante a temperatura exterior; Assegurar a distribuição uniforme constante com o fluxo de ar mínimo de capacidade nominal de 60m³/h/KN de carga útil; Poder funcionar independentemente do motor do veículo durante, pelo menos 4 horas; A regulação da temperatura (ventilação mecânica, registo da temperatura, sistema de alerta na cabina do condutor), e a possibilidade permanente de abeberamento devem estar ao dispor do condutor.
TRANSPORTE: Os transportadores que efectuarem viagens de longo curso devem utilizar um sistema de navegação (GPS posicional). Os registos obtidos por este sistema de navegação devem ficar guardados durante, pelo menos, 3 anos e, se necessário, faculta-los à autoridade competente quando solicitado. As galeras devem ser lavadas e desinfectadas antes de qualquer utilização.
OPERADORES: Todos os operadores envolvidos e o pessoal de que disponham devem receber uma formação apropriada. Os condutores e os tratadores, em especial, devem ser titulares de um certificado de aptidão profissional emitido após uma formação completa sobre o bem-estar dos animais durante o transporte, sancionada por aprovação num exame levado a cabo por um organismo independente habilitado pelas autoridades competentes.
Não assumir com frontalidade, esperar que o tempo tudo resolva não pode e não deve ser a nossa postura em relação aos nossos “pombos-correio de corrida”. Parece que não há vontade de legislar defendendo, deste modo, o pombo-correio. O silêncio e a resposta simples de que determinada legislação não se adapta aos nossos pombos não pode e não deve ser a postura de quem, por direito, deve ter uma postura, em primeira instância, de defesa intransigente do “pombo-correio de corrida”.
Seria preferível dar-mos um paço em frente, adaptarmo-nos, mostrando à sociedade o que fazemos e que estamos na linha da frente, transmitido deste modo uma imagem positiva do nosso desporto. O tempo do “rapaz dos pombos” já lá vai. A columbofilia deve ser vista como uma solução social e não como uma causa de ocupação do tempo dos bairros periféricos. Chega de enterrarmos a cabeça na areia e esperar que ninguém se lembre de nós. É nosso dever, e em especial de quem comanda dar os passos necessários na defesa do pombo e do columbófilo. Não basta parecer, há que ser. De boas intenções está o mundo cheio.
Observemos agora os nossos transportes: As medidas serão aproximadamente 12x3,75x2,5m=112,5m3 onde podemos colocar 220 caixas com 25 ou 35 pombos = 5500/7700 pombos no total. Esta situação (relação pombos por volume) é treze a dezanove vezes superior ao número de pombos que colocamos nos nossos pombais. É tão grande como grande é o transporte! Colocaríamos nós este número de pombos no nosso pombal? Nem pensar! Mas nos nossos transportes colocamos 8000 ou mais pombos. Contudo não podemos comparar uma galera de transporte com um pombal, mas quando a galera leva os nossos pombos passa a ser o nosso pombal, se pensarmos assim mudamos imediatamente de opinião, ou não mudamos? Então porque não legislar? Será que é tão difícil assim? Será que dizer que em determinada época do ano não se pode encestar mais de 25 pombos por caixa ou que devem ser alimentados pelo menos uma vez por dia basta? E as horas de transporte? E a temperatura a que estão sujeitos? Quantas horas fazem sem ser abeberados?
Ventilar mais e melhor e reduzir o número de pombos por cesto! É a primeira coisa que nos vem à ideia. No entanto devíamos estabelecer a temperatura máxima e mínima dentro dos transportes bem como a amplitude térmica dentro deste. Estabelecer tempos máximos de transporte, consoante a temperatura, para dar de beber.
Exemplo da legislação a fazer:
Tempos de transporte sem abeberamento, para temperaturas máximas previstas:
Menos de 25ºC: 10 horas de tempo máximo
Entre 26ºC a 30ºC: 8h de tempo máximo;
Entre 31ºC a 34ºC: 6h de tempo máximo;
Mais de 35ºC: 4h de tempo máximo;
Sempre que a temperatura máxima prevista seja de 32ºC ou mais deve haver água à descrição antes da largada. Nos locais de encestamento deverá haver água à descrição dos pombos encestados, para criar habituação ao abeberamento, desde que comece a competição.
Esta legislação entrou faseadamente em vigor, sendo a última parte desta em Janeiro de 2009. Lendo o atrás descrito, de uma forma resumida da legislação, pode-se verificar que muito do que fazemos nos nossos transportes está aquém do transporte de animais que não são de alta competição ou que vão para abate. Se exigimos publicidade ao nosso desporto, se dizemos que criamos pombos de competição temos que ter uma postura social, em relação aos animais, condigna com aquilo que dizemos. Verifica-se que o “autismo” e a falta de conhecimento do pensamento das bases, onde a grande maioria dos columbófilos só quer que lhe levem os pombos e os soltem, não sabendo nem se interessando por quem diz que nos dirige, apresentando no seu orçamento 200 mil euros para despesas correntes, deslocações e pessoal, ressaltando os anunciados míseros 20 mil euros para a recuperação ou apoio à columbofilia.
A falta de legislação que nos coloque perante a sociedade como praticantes de um desporto que exige, selecciona e defende é uma missão primária.
Oh pombo-correio! tantos vivem de ti, tantos dizem que te defendem mas afinal estás tão longe de te defenderem como longe vão os anos da Lei da tua defesa. “Está tudo como dantes; Quartel General em Abrantes”.
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