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A humidade relativa e o voo do Pombo-correio em competição 01/07/2018

 

A humidade relativa e o voo do Pombo-correio em competição

 

 

Definições:

A humidade relativa, é a relação em percentagem (%) entre a quantidade de vapor de água contida no ar (humidade absoluta) e a que existiria se à mesma temperatura o ar estivesse saturado.

A temperatura de um corpo é a energia cinética (“energia do movimento”) média dos átomos, molécula e iões que compõem a matéria. A temperatura não é uma medida de calor, mas a diferença de temperaturas é a responsável pela transferência da energia térmica na forma de calor entre dois ou mais sistemas. Quando dois sistemas estão à mesma temperatura diz-se que estão em equilíbrio térmico e neste caso não há calor. Quando existe uma diferença de temperatura entre dois corpos, diz-se que há calor do corpo que tem temperatura superior para o corpo que tem temperatura inferior, havendo transferência até se atingir o equilíbrio térmico.

Desidratação, perda excessiva de água no organismo ocorre quando o corpo do pombo não tem água suficiente para realizar as suas funções normais. Ela pode ser leve e causar sintomas como fraqueza e fadiga, moderada ou forte, podendo provocar a morte. Pombos desidratados apresentam um volume de sangue menor que o normal, o que força o coração a aumentar o ritmo de seus batimentos (taquicardia).

Humidade Ideal: De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a humidade do ar ideal compreende a faixa entre 50 e 80%. Entretanto, em algumas épocas do ano, como o final da Primavera e no verão, ela tende a cair, inclusive, abaixo de 30%. As regiões do Centro e Sul da Península Ibérica, mais afastadas da faixa costeira são, geralmente, as mais afetadas por este fenómeno.

O trabalho anteriormente apresentado, “Temperatura, Calor, Vento e espaço a percorrer”, artigo publicado no jornal Portugal Columbófilo, teve em conta a temperatura, o vento, o espaço a percorrer e a humidade relativa, tendo como base extrapolativa, alguns estudos publicados para seres humanos. O artigo em referência não tinha em conta valores extremamente baixos da humidade do ar. Os valores de humidade extremamente baixa durante as madrugadas e manhãs de 2017, veio “cimentar”, claramente, algo para o qual já estávamos atentos e para o qual se elaborava previsões nos quadros de previsão meteorológica do Tempo e Soltas: A Humidade Relativa do ar. Começamos por estar atentos às temperaturas mínimas do ar, estudámos a sua influência com ventos favoráveis e com componente contra e relacionámos estes elementos meteorológicos com as distâncias a percorrer.

Dos vários trabalhos efetuados ao longo dos últimos 16 anos pela observação dos resultados da relação temperatura mínima e temperatura máxima, levou-nos a elaborar uma previsão das dificuldades previstas no regresso do pombo-correio a casa, única e exclusivamente através do elemento temperatura, atribuindo cores com os seguintes valores: temperaturas mínimas acima de 18ºC e/ou máximas superiores a 28ºC, cor amarela, mínima acima de 20ºC e/ou máxima superior a 33ºC a cor Laranja e mínimas acima de acima de 22ºC e/ou máximas superiores a 37ºC a cor Vermelha. Ao valor de temperatura, para que se tenha uma real perceção do grau de dificuldade previsto, terá que também que se associar a humidade e o vento, tendo em conta a sua intensidade e direção. Como já abordado em outros artigos, o mesmo valor de temperatura e humidade para uma prova pode ter resultados diferentes pela influência da direção e intensidade do vento. Se a existência de vento contra nos dias de temperaturas amenas apenas exige esforço mecânico, em dias quentes e húmidos pode ser motivo de desastre se tivermos fatores contrários ao voo e uma distância grande a percorrer. O contrário se tem verificado que para uma mesma temperatura e humidade o vento favorável minimiza e muito os resultados esperados caso se só se tivesse em conta os valores da temperatura e da humidade. O elemento meteorológico humidade introduzido em 2014, aquando das publicações do novo modelo de previsão, começou a ser alvo de maior atenção, em especial nos dias mais quentes, tendo-se vindo a constatar que a cor vermelha, atribuída para valores inferiores a 25% de humidade relativa estava absolutamente bem projetada, pela constatação de dificuldades elevadas nos dias de solta em que os Pombos-correio tinham que voar em períodos de menor humidade. No entanto também se tem vindo a verificar que um valor de 30 a 35% ao nascer do Sol também é uma situação de alarme ou de aviso vermelho

Ao longo deste século, viemos a ter especial atenção às temperaturas mínimas e máximas, tendo vindo a constatar que temperaturas mínimas acima de 20ºC, eram indicadores de grandes dificuldades para o voo de Pombos-correio e que valores superiores a 23ºC eram indicativos de percas extremamente elevadas ou mesmo desastres nas soltas. Com a observação permanente dos diversos elementos meteorológicos e a sua influência no voo do Pombo-correio no seu regresso a casa, melhoramos significativamente as condições de transporte e, por vezes, face ao grau de dificuldade previsível, reduzimos as provas de modo a aumentar o número de Pombos chegados dentro do que seria espectável. Tivemos especial cuidado nos abeberamentos, recolha e transporte até ao local de solta, tendo-se minimizado, e muito, as percas. No entanto, nunca relacionamos o valor temperatura mínima e máxima com o valor humidade relativa. Pretende-se, assim, neste artigo, realçar o perigo resultante desta relação que estava unicamente balizado com o valor quantitativo da temperatura. Já tínhamos verificado que soltas em determinadas áreas tinham resultados absolutamente diferentes e muitas das vezes se questionou a qualidade do transporte, a viagem e o abeberamento, que poderiam estar envolvidos como causa da diferença dos resultados entre várias soltas localizadas na mesma área.

Os estudos para corridas com seres humanos indicam que para uma temperatura de 31ºC e uma humidade relativa de 30 a 40%, a sensação é de 31ºC. Mas se a humidade for de 70%, a sensação térmica aproxima-se dos 37 a 38ºC. Na competição humana, tem-se verificado que muitos dos recordes foram batidos entre os 14 e os 18ºC e com humidade na casa dos 50%. Nas corridas com valores de humidade muito baixas os atletas humanos dispõem, ao longo dos seus percursos, de locais de reabastecimento de comida e/ou água, e estão permanentemente a reidratarem-se, o que não acontece na Columbofilia. Estudos realizados por Marconi apontam para que se por um lado, no tempo seco, há a vantagem de transpirar com mais facilidade, aumentando a perda de calor para o ambiente por evaporação do suor, “por outro há uma perda de líquido mais abundante e maior risco de desidratação”. Sem uma reposição adequada de água, segundo ele, o organismo passa a usar mecanismos compensatórios para conseguir manter a intensidade da atividade. “Quando não há a hidratação adequada, a frequência cardíaca pode aumentar de forma excessiva, tentando compensar um menor volume de sangue circulante dentro dos vasos sanguíneos. Em condições climáticas desfavoráveis, pode-se sobrecarregar o coração e, caso não se esteja bem preparado, é possível se colocar em situações de risco.” Marconi não desencoraja o exercício físico nos períodos quentes, mas recomenda orientação antes da prática. Também em teste realizados com cães, verificou-se que quando lhe colocamos gelo no dorso aquando da elaboração de testes até à exaustão, amenta a duração da prova em 45% e diminui a glicólise e a taxa de depleção do glicogénio muscular. A fadiga neste caso parece estar relacionada com outros fatores e não com a disponibilidade de carboidratos. A suplementação em bebida, em ambiente a 33ºC, com carboidratos a 14% e a 7%, não proporcionou qualquer vantagem. Os resultados devem-se exclusivamente à relação da temperatura corporal interna e o meio ambiente, pois quando esta subida da temperatura corporal é atenuada há um aumento no tempo da prova, resultante no aumento da resistência. Os efeitos combinados do stress térmico com a desidratação, reduzem a capacidade muscular, pelo que, logo a competitiva. Constatou-se também que a pouca ingestão de líquidos durante os testes, também contribuiu para o aumento da temperatura corporal.

Mas o nosso Pombo-Correio é uma ave, pelo que se denomina, como todas as outras aves, de homeotérmico ou endotérmico (que é uma característica de alguns animais têm e que lhes permite manter sua temperatura corporal relativamente constante à custa de uma alta taxa metabólica gerada pela intensa combustão de alimento energético nas células. Apenas as aves e os mamíferos, considerados animais endotérmicos ou de sangue quente, têm esta capacidade de o fazer), e nesse sentido mantêm a temperatura corporal (ou dos órgãos vitais, como: cérebro, pulmões, coração, trato digestório) estável, ou seja 41°C, com variação de mais ou menos 0,5°C. A temperatura das extremidades, como patas e demais áreas superficiais apresentam grande variação de temperatura, pois dependerão do fluxo de energia (calor) que ocorre entre as partes internas e a superfície da pele, considerando que a ave está inserida no meio ambiente, com o qual troca energia (calor).

Nas temperaturas ambientais consideradas como de conforto térmico para as aves (ao redor de 25 a 28°C), a temperatura média da superfície da pele é de cerca de 33°C, e a temperatura interna de 41°C. Deste modo, como existe uma diferença de temperatura entre a superfície da pele e o ambiente, ocorrerá um fluxo de energia (calor) do local mais quente (pele – 33°C) para o mais frio (ambiente – 25 a 28°C). Este processo de transferência de energia é denominado de troca sensível de calor, pois o Pombo-Correio perde energia através de mecanismos radiativos, condutivos ou convectivos.

Considerando a diferença de temperatura de 5°C, o Pombo-Correio tem muito pouco gasto de energia para ativar os mecanismos de alarme, e com isso, manter a homeotermia. Contudo, quando essa diferença se aproxima de zero, ou seja, temperatura do ambiente igual a temperatura de pele (mais de 32ºC), o Pombo não consegue perder energia (calor) através desses mecanismos sensíveis, e entra em stresse pelo calor, pois ocorrerá acumulação de energia no organismo, com aumento da temperatura interna. As aves, de forma similar, aos mamíferos, nessas circunstâncias, ativam os processos evaporativos de perda de energia (evaporação cutânea e respiratória), os quais não dependem da diferença de temperatura (pele – ambiente), mas da diferença de pressão de vapor. Esse processo denomina-se de perda de energia (calor) latente.

Para tanto, haverá necessidade da presença de gotículas de água, ou sobre a pele, ou mais comumente, sobre a superfície das mucosas. Como nas aves não há sudorese (eliminação do suor através dos poros da pele), pois não têm glândulas sudoríparas, o processo de perda de energia (calor) dependerá da perda evaporativa respiratória, por isso, quando a temperatura interna das aves aumenta, a mesma é acompanhada de taquipneia (aumento da frequência respiratória), retirando calor do organismo. Este processo de arrefecimento provoca um aumento da atividade dos músculos respiratórios, o que poderá induzir alteração do pH do sangue (alcalose respiratória). Dessa forma, o stress pelo calor altera os parâmetros sanguíneos relevantes, os quais podem causar a morte da ave. (baseado em https://www.ruralsoft.com).

Não havendo estudos específicos teremos que, estar atentos e fazer compilação de dados para os projetar em situações futuras e/ou, também fazer extrapolar comportamentos e situações para a nossa competição, ressalvando que os seres humanos além da inteligência, têm outros mecanismos que os levam, em cada momento, a optarem pelas melhores soluções para manterem o equilíbrio energético perfeito de modo a retirar os maiores dividendos dele. No caso específico dos pombos-correio, o modo como os treinamos, aliada à sua vontade de regressar a casa pode fazê-lo voar até à exaustão e a uma falência física, a paragens consecutivas para reabastecimentos, para os mais experientes, e a paragens longas fazendo voo só pela manhã e à tarde-noite, quando sujeitos a falências orgânicas provocadas pela equação, resultante das interações térmicas e o esforço.

Na competição com pombos-correio, aliada a esta “extrapolação” corporal na relação Temperatura-Humidade e Vento que esperamos na essência do voo no seu regresso a casa, temos outras, que são fundamentais para o sucesso da competição, que não controlamos totalmente, mas que temos vindo a assistir a uma maior consciencialização e preocupação, bem como a uma melhoria permanente. Referimo-nos necessariamente ao transporte desde casa até ao local de encestamento, às condições e abeberamentos no período em que estão no Clube, ao transporte até ao local de solta e aos tempos de abeberamentos e de descanso, porque o sucesso da prova é intrínseco a todos estes fatores e não começa, necessariamente, no momento da solta.

Verificamos, ao longo dos anos, que as primeiras provas efetuadas com calor são sempre as que trazem mais complicações ao voo do pombo-correio. No entanto, também se tem verificado que nos dias com temperaturas mínimas até 20ºC, se têm efetuado provas de velocidade dentro da “normalidade” para as dificuldades previstas. Tem sido dado a observar que quando tomadas as medidas necessárias para o abeberamento e transporte, as provas de velocidade, ou provas até às 3 horas de voo, efetuadas cedo, têm tido resultados “normais” no final da campanha para pombos experientes ou para extremamente folgados. O mesmo não tem acontecido em situações de provas de meio fundo ou com mais de 4 horas de voo. Verifica-se assim, que se tem detetado um período de voo, “aceitável”, com valores máximos de entre as 3 e as 4 horas de voo em dias com temperaturas mínimas cerca de 20ºC. Para valores de temperatura mínima superior e/ou com valores de humidade abaixo dos 30% no momento da solta, sem vento favorável tem sido observado situações complicadas no regresso do pombo-correio a casa, que em determinados casos a grande maioria regressa ao final do dia ou na manhã do dia seguinte, constatando-se, em certos dias e situações térmicas, um muito elevado número de percas, quer pela exaustão quer pelos abeberamentos com água salgada ou contaminada, sendo etas situações mais previsíveis para dias com mínimas de 22ºC ou mais e em especial com vento do quadrante Leste. Que naturalmente, faz, também diminuir e muito a humidade. As provas de velocidade realizadas a 17 de junho de 2017 são um exemplo típico dos limites. Tendo consciência das condições meteorológicas em que se iriam realizar, as associações envolvidas, reduziram-nas, em alguns casos, mais 100km ao inicialmente previsto. Os encestamentos foram efetuados o mais tarde possível para minimizar o impacto térmico, e efetivou-se abeberamentos reforçados durante o transporte.

 

A pesar de todos os cuidados que as associações tiveram, através da sua parte desportiva, nomeadamente dos Coordenadores e Delegados de solta, veio a constatar-se que quanto mais a Sul se soltou maior foi a dificuldade, mesmo em percursos de 180Km, mostrando claramente que existe um limite quer térmico quer de humidade para transportar e efetuar soltas de pombos-correio. Com as condições em referência, para um percurso de 180Km, ficaram para o segundo dia, em alguns casos, mais de 45% dos pombos enviados e percas totais superiores a 20%. Os valores de humidade na região do Ribatejo, Estremadura e Alto Alentejo foram de cerca de 30 a 35% ao nascer do Sol. Constatou-se, também, neste dia, que o que já se tinha começado a detetar em 28 de maio de 2006, e que o motivo de preocupação era real e motivo de alarme. Trata-se especificamente do tempo que os carros estão parados antes da solta, porque estamos a transportar aves cuja temperatura interna é de cerca de 41°C em períodos extremamente secos e quentes, em grandes quantidades e em espaço reduzido que em situações térmicas normais são suficientes e em alguns casos até ideais, mas que em situações térmicas elevadas não são compatíveis por se estar em situação limite. Deste modo verifica-se que quanto mais cedo se chega aos locais de solta piores são os resultados, pelo que com valores de temperatura mínima elevados e/ou de humidade baixa o estar demasiado tempo parado focado, unicamente, no descanso antes da solta é prejudicial em situações de ausência de ventilação ou arrefecimento apropriado, porque aumenta a desidratação.