PEQUENAS/GRANDE EVOLUÇÕES |
07/12/2014 |
Se fizermos uma breve retrospectiva da evolução da columbofilia nas últimas duas/três décadas sem nos afastarmos da evolução enquanto sociedade, tomamos a consciência que a uma evolução social se assistiu a uma maior dificuldade em praticar a columbofilia, e a uma maior dificuldade na orientação do Pombo-correio.
Quanto à actividade humana, tem-se vindo a constatar que o nosso mundo está sob ataque da sua atividade. O "Progresso" não está nas mãos de pessoas individuais, nem nos seus representantes: os políticos eleitos. Está nas mãos do mercado livre, nas grandes multinacionais que estabelecem a direcção do nosso mundo através de criação de fluxos de lucro. Ao identificarmos esta situação, constatamos ser uma situação quase inevitável. Estamos convencidos dos benefícios da conveniência e do consumismo, e nós, como ser individuais, somos a fonte dos lucros e estimulante para o comportamento das empresas e das suas tendências sociais.
Quanto à columbofilia, toda esta evolução, gerou-lhe situações evolutivas que eram de todo impensáveis: quem não se lembra de à 20/30 anos se fazer uma prova de 500/600 Km e estar sempre mais de 4/5 horas para fechar a classificação, quando não demorava mais de um dia. Situação absolutamente normal e aceitável à época.
Toda esta evolução também transformou os nossos columbófilos em autênticos técnicos de saúde animal, nutricionistas e preparadores físicos entre outros, que culminaram numa evolução que hoje para fazer os mesmos 500/600 Km é estudada toda a situação ao pormenor como se de um autêntico formula um se tratasse: leva pneus “Slick” ou não? (Banho com produtos para um melhor escoamento aerodinâmico), leva o depósito cheio ou não (alimentação consoante a velocidade/horas de voo previsíveis), tudo é estudado ao pormenor para que nada falhe. E quando tudo corre como o previsto fechamos as classificações para estes quilómetros em 40/60 minutos, e quando isso não acontece “oh da guarda” o que é que se passou. Quem é o culpado. A columbofilia outrora do forte e feio em que se admirava o pombo vencedor em detrimento do vencido passou a uma columbofilia científica, ao pormenor em que todos os pombos têm que chegar.
O transporte e a coordenação das soltas também acompanharam a evolução, tendo sido com a expansão da rede de telemóvel e Internet que se assistiu a um maior salto qualitativo. Se ao tempo da comparação ao delegado de solta era impossível contactar o seu coordenador no locar de solta, normalmente fazia-o na véspera e após a solta dando informação do tempo, da orientação e da previsibilidade da prova, hoje fá-lo onde e quando quiser. O coordenador teve apoio e acesso a uma panóplia de informação meteorológica que lhe deram a conhecer o tempo que fez, que faz e a sua previsibilidade, fazendo a intercepção desta informação com os seus desígnios na coordenação da solta. Temos vindo a assistir que à falta de informação e ao “Stress” de se ter que soltar cedo para que os pombos tivessem tempo de chegar a casa se optou, muitas vezes, por cancelar provas, alterar o dia da solta, por soltar mais tarde e por deslocar galeras para outros lugares. Toda esta evolução levou a pensarmos que estávamos próximos da perfeição: a inexistência de desastres em columbofilia. No entanto temos consciência que até aos dias de hoje a comunidade científica ainda não nos deu certezas sobre a orientação do Pombo-correio, pelo que não sabendo como ele se orienta não sabemos o que o prejudica. Muito se tem falado sobre emissores de rádio, tv, radar e telemóvel, nos dias de maior dificuldade na orientação dos pombos. No entanto as frequências de ondas curtas e médias têm sido usados desde a década de 1930, com pouca evidência de qualquer efeito sobre o comportamento das aves. Mas uma vez que as redes de telemóvel se implantaram têm-se vindo a constatar e a aumentar os relatos do desaparecimento de aves, especialmente pombos-correio. A comunidade científica, necessita de olhar para os efeitos dos pressupostos “emissores de ruído no campo magnético local” das antenas emissoras de frequência de telemóvel e relacioná-las especialmente aquando se verifica falta de luz (céu encoberto e/ou partículas sólidas em suspensão na atmosfera: Bruma).
Evoluímos no transporte, e em termos meteorológicos mas falta-nos ainda algo que só a ciência nos poderá fornecer para que, sabedores, possamos reconhecer se existem ou não condições para que tudo possa correr bem: trazer os pombos em segurança para casa.
Hoje todo o columbófilo, que acompanhou esta evolução, sabe que a introdução de um aviso informal de que o silêncio dos pombos antes da solta não era bom prenúncio nem nunca tinha dado bons resultados, evitou muitos desastres. Esta premissa foi introduzida na columbofilia nacional em 2005, tendo sido baseada nas experiências de Michael Bookman (1977), entre outras, e na conjugação da observação atenta de alguns coordenadores de solta entre 2002 e 2004 com o resultado final das provas.
A qualidade e o bem-estar do transporte melhorou exponencialmente tendo sido os estudos e constatações sobre o desastre de 28 de Maio de 2006 o marco histórico que levou a ter consciência que o pombo-correio no ar a voar não desidrata, porque pára quando necessita, mas fechado e não abeberado pode levar ao desastre em dias de calor. Constatou-se que a mudança de postura, tida como normal até então, levou a uma melhoria na qualidade da prova, resultante da qualidade do bem-estar animal.
Cada desastre com pombos-correio tem transportado em si um embrião de uma nova postura perante a adversidade que nos tem ajudado a evoluir diminuindo drasticamente o tempo de fecho das classificações e, acima de tudo, as percas de pombos. Esta evolução tem sido conseguida pelo espirito aberto que os delegados, coordenados e Associações/Federação têm tido num esforço enorme na minimização de acidentes, tendo estado atentos, ao que até então era do seu conhecimento, para que tudo corra bem. Contrariamente ao que habitualmente se pensa sobre Portugal e os portugueses têm sido os outros países, ditos evoluídos, a vir beber conhecimentos e trocar experiências columbófilas ao nosso país, demonstrando incontestavelmente, no que se refere às soltas de pombos correio, estarmos na linha da frente. Apesar disso, o ano de 2014 trouxe-nos mais uma adversidade, com as percas de 19 de Abril, pelo que imbuídos pelo mesmo espirito evolutivo, mesmo sem respostas científicas que nos possam ajudar, devemos em situações idênticas não arriscar, porque na análise a todos os relatórios, foi reportado com maior incidência, pelos delegados envolvidos nas soltas, “Falta de Luz”.
Ora é cientificamente aceite e do senso comum que o pombo-correio se orienta pelo Sol, pelo reconhecimento de marcos e pela “bússola magnética” que é dependente da luz, em especial da cor azulada (WiltschkoandWiltschko - 2001). No entanto, o processo biofísico primário subjacente a esta bússola permanece inexplicado pelo que não sabendo como funciona mas sabendo que tivemos problemas com soltas em que se verificaram situações de falta de luz e que o resultado foi tanto mais grave quanto mais perto foi essa situação do local de solta, devemos consciencializarmo-nos que se a análise ao silêncio dos pombos, momentos antes da solta, tem dado bons resultados, por certo que, também a análise à luminosidade pode ser fundamental no resultado da solta. Não havendo luz, implica a utilização da bussola magnética, ficando a orientação do pombo sujeita às variações do campo magnético local ainda não totalmente explicadas. Ou seja: quanto mais azul for a coloração do céu melhor será o resultado final da prova. Não havendo Sol, o pombo irá utilizar a bussola magnética que, como já foi demonstrado cientificamente, a cor amarela/vermelha é prejudicial à orientação e a cor branca/azul é favorável.
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