Poder-se-á encarar este novo modo de praticar a columbofilia como uma metamorfose evolutiva em que o ser individual, elemento principal – o Pombo se sacrifica perante o ser colectivo – a columbofilia, num modo familiar e festivo com projecção social. O “Derby” só poderá ter sentido e ser entendido como um espectáculo columbófilo em que se idolatra os vencedores e se esquece os vencidos, num sacrifício como tantos outros em que impera o interesse colectivo. É um aspecto de sobrevivência de um grupo e de oportunidade de projecção social.
O “Derby” é a columbofilia espectáculo. É a oportunidade para tirar a actividade do isolamento. É o aproveitar das necessidades da sociedade actual em detrimento de uma actividade columbófila periférica e isolada. As duas formas de praticar a columbofilia podem e devem coexistir porque se complementam. No entanto, urge dar a conhecer o desporto que amamos e se a sociedade, em geral, aprecia este tipo de espectáculos, temos que ser nós a adaptarmo-nos para que possamos sobreviver como actividade columbófila. Quanto mais dúvidas tivermos e mais questões colocar-mos a este novo modo de praticar a columbofilia mais tempo continuaremos sem avançar. Vale mais decidir, com alguns defeitos, do que nada fazer. Urge pois, fiscalizar, controlar e apoiar os “Derbys” de modo a que não se efectuem eventos de fraca qualidade, mas sim eventos com qualidade, espectáculo e visibilidade social transmitindo uma imagem positiva deste nosso desporto. Legislou-se os “Derbys” mas ficámos na mesma ou pior porque a preocupação de enviar muitos pombos à prova final leva a que, por vezes, não se efectuem os treinos devidos: Deve ser imposto um mínimo de três/quatro treinos acima de 120/140Km Km e inferiores a 200Km para provas de 300Km. Devem ser marcadas datas limite para a introdução de pombos nos pombais onde se irá efectuar o “Derby” e ter a coragem de rejeitar pombos que não cheguem em perfeitas condições sanitárias (tem-se assistido à chegada de pombos para adução quando já andam os outros a fazer treinos). O estado de saúde em que muitos borrachos chegam, por vezes transportados em camiões sem condições, é simplesmente lamentável!
“MIRA” 2013
Desloquei-me a Mira para, rever alguns Amigos, fazer as trocas habituais de pombos do final da campanha, coisa que já não fazia há quatro anos, e verificar, in loco, o estado actual do “Derby” a realidade da Columbofilia de hoje e os jogos de poder que se apresentam á grelha de partida.
A previsão meteorológica apresentada na página da FPC, na sexta-feira, apontava para dificuldade na solta. Já neste dia se previa um atraso na hora da solta e um encurtamento da prova, demonstrando preocupação e ciência na condução do evento de tamanha importância. Apesar de todos os esforços e boa vontade dos intervenientes veio a constatar-se a falta de um plano “B” ou “C”, imprescindível para uma organização que tem mesmo que efectuar o evento no dia marcado (ou será que tem?). Mas a festa tem que continuar e foi para isso que estes pombos foram criados (ou não). Tratava-se de um campeonato do Mundo e não de uma feira de vaidades como parecia que se continuava a passar no dia do Derby, (mas isso são contas de outro rosário). Os pombos lá foram soltos em Ourique às 08H50 com céu nublado, vento nulo e chuvisco, “coisa fácil de ultrapassar para borrachos de 4 a 6 meses”. O tempo foi passando o convívio aumentando e o desespero fazendo parte do espírito até dos mais crédulos. Depois das 15H a debandada começou. Pelas 16h14 lá começaram a chegar os “super atletas”. O primeiro constatado foi o pombo PT-3394020/13, pertencente à equipa os Barros, o segundo DV-02585-130/13, pertencente à equipa Bremen & Joksch & Waldow e o terceiro PT-3038504/13, pertencente à equipa Loja do Canário. Ficou-nos o orgulho e satisfação de ter 2 pombos portugueses no podium da chegada.
De positivo a manutenção dos quantitativos de espectadores do ano anterior, segundo dizem os mais informados, a qualidade do estado físico dos pombos a que assisti à sua chegada (cerca de 30), que perante a adversidade e tempo de voo demonstraram, ao público presente, que estavam bem (os que chegaram) e o esforço da FPC em continuar a trazer “gente importante” ao “derby”, mostrando o “que se faz”.
De negativo é de realçar a “qualidade da solta” e a quantidade de pombos chegados que é de todo impensável para uma entidade que gere o desporto columbófilo Nacional.
Tomemos o exemplo da representação Portuguesa (30 pombos). Destes, 27% não chegaram a iniciar os treinos “cronometrados”. Só foram enviados à prova final 33% da equipa inicial (10 pombos) e destes só chegaram 3, ou seja 10% dos inscritos no campeonato do mundo, o que é uma prestação demasiado pobre para a equipa organizadora.
Para pensamento futuro gostaria que nos questionássemos:
Será que um campeonato, qualquer que ele seja, em que se pretende festejar, transmitir informação e dar a conhecer este nosso desporto às entidades governamentais e ao público em geral, se coaduna com as percas avultadas que aconteceram? Penso que não. Mas também tenho a certeza que os organizadores não queriam que isto acontece-se. Apesar de acreditar e entender que os “Derbys” é a columbofilia espectáculo e que o elemento pombo se “sacrifica” a bem da columbofilia, penso que existem limites pelo que terá que haver coragem para, em caso de dúvida ou na falta de condições, não soltar os pombos na defesa intransigente do pombo-correio. Será que os pombos estavam, genericamente, bem de saúde? Será que os pombos estavam bem voados para ultrapassar as dificuldades? Será que havia condições de solta? Será que havia condições no percurso? Festas há muitas mas oportunidades para dar a conhecer o nosso desporto, nos tempos que correm, são muito poucas. Para fazer esquecer um desastre serão precisos muitos mas mesmo muitos eventos formidáveis. É que mesmo o ano passado só se fecharam as classificações às 10h02m do segundo dia. São dois desastres seguidos. Até mesmo aos columbófilos que andam há muitos anos nisto é difícil de digerir quanto mais a elementos de uma sociedade que desconhece a columbofilia. A vantagem é que estes como não conhecem a columbofilia não fazem juízos sobre o acontecimento. Caso o façam, só justificando que estamos a seleccionar uma estirpe de pombo-correio que poderá ser necessária no futuro, para bem da humanidade, e que a selecção da sua robustez perante a adversidade só poderá ser entendida através da selecção natural neste tipo de provas. Ai sim só justificando os fins poderemos aceitar os meios que levam a atingi-lo. Não sabendo, não se entende e não se compreende os objectivos. Deste modo, não se poderá compreender estes desastres no domínio da prática de “Derbys” na columbofilia. Poderemos e deveremos utilizar argumentos deste tipo para efectuar e aceitar as percas nas provas de Grande Fundo para pombos adultos e devidamente preparados.
A título de curiosidade deixo os factos desportivos dos “Derbys FCI” para a posteridade:
MIRA – 320 Km
Enviados 822 pombos. Chegados no dia 76 pombos. Percentagem de chegados no dia 9,2%. Média do 1º pombo 721m/m. (Os 20% normais a qualquer classificação columbófila só foram alcançados ao segundo dia pelas 15h14m).
RIACHOS 310 Km
Enviados 294 pombos. Chegados no dia 147 pombos. Percentagem de chegados no dia 50%. Média do 1º pombo 1168 m/m.
CARTAXO 350 Km
Enviados 331 pombos. Chegados no dia 74 pombos. Percentagem de chegados no dia 22%. Média do 1º pombo 1119 m/m.
LUZ DE TAVIRA - 385Km
Enviados 349 pombos. Chegados no dia 140 pombos. Percentagem de chegados no dia 40%. Média do 1º pombo 1135 m/m.
FARO - 405 Km
Enviados 285 pombos. Chegados no dia 69 pombos. Percentagem de chegados no dia 24%. Média do 1º pombo 1100 m/m.