O “Grupo” e o Regulamento Disciplinar. |
10/02/2013 |
Para quem anda na columbofilia desde que se enviavam pombos pelo comboio já assistiu praticamente a tudo. Ao se assistir e viver praticamente tudo gera-se no íntimo do ser um estado de observação evolutiva da área social e desportiva que gostaria de deixar como introspecção para memória futura, ou seja: a evolução do “grupo columbófilo”, que vulgarmente denominamos por Colectividades e/ou Clubes. Ao tempo em referência ser dirigente de um clube, não dava dinheiro, mas dava algo de extrema importância: Status Social. Ser Presidente, Secretário ou Tesoureiro era de importância vital perante o “Grupo” e mesmo na “santa terrinha”. Qualquer discussão, “vigarice” desportiva ou outra era tratada internamente pela Direcção ou em última instância pela Assembleia-Geral. O “Grupo” funcionava e só pertenciam a este aqueles que se comportavam dentro das “Baias” ou linhas estabelecidas na interacção “Grupal”. O respeito a Honra e a Ética eram algo que não se questionava porque quem a transmitia ou impunha era, ele mesmo, símbolo de idoneidade e simultaneamente de ensino e aprendizagem. Os “Velhos” eram sábios e faziam por isso numa sociedade em que a idade “ainda era um posto”. As regras eram duradouras, a columbofilia era como uma família e não havia uma desmesurada procura da vitória, do querer sempre mais, dos responsáveis por o que quer que seja porque o “Grupo” socialmente funcionava. Com a chegada da era democrática assistiu-se a mudanças constantes nas regras e regulamentos, quer desportivos quer disciplinares: umas boas outras menos boas e outras péssimas para a prática columbófila. A instabilidade intrínseca à mudança nunca deu lugar à harmonia e à calmaria natural do desenvolvimento sustentável.
Após este intróito gostaria de vos levar a algumas alterações que, a meu ver, têm vindo a acabar com o “Grupo” ou seja com a columbofilia. Se antes ser dirigente dava “Status”, hoje ser dirigente é levar “porrada” de todos os lados ser questionado por tudo e por todos como se fossem todos inteligentes e o dirigente, aquele que ainda transporta em si uma carga de amor e pratica social, a maior aberração ao cimo da Terra. Vamos então ler aquilo que vem escrito no regulamento disciplinar da F.P.C..
(…) ARTIGO 1º - Âmbito de Aplicação
O presente Regulamento aplica-se a todos os Clubes, Associações, Dirigentes, Praticantes, Técnicos, Juízes e, em geral, a todos os agentes desportivos que, encontrando-se filiados na Federação Portuguesa de Columbofilia, desenvolvam a actividade columbófila.
ARTIGO 2º - Poder Disciplinar
1 - Sem prejuízo do disposto quanto à violação de normas antidopagem, o poder disciplinar compete às Associações e à Federação.
2 - O poder disciplinar das Associações é exercido pelos respectivos conselhos de Disciplina e o poder disciplinar da F.P.C. é exercido pelo Conselho de Disciplina e pelo Conselho Justiça, nas áreas das respectivas competências. (…)
Parece que o legislador confundiu, de certo modo, as infracções cometidas nos clubes: Existem infracções que caiem no âmbito desportivo e outras que são específicas da vida social do clube. Pelo que se tem dado a oferecer as Associações e FPC usurparam o poder dos clubes impedindo que o próprio “Grupo” (conjunto de indivíduos que se juntam independentemente da formação, profissão, oficio, posição social ou doutrina por amor ao pombo e para praticar a columbofilia) faça as interacções normais ao seu desenvolvimento e bem-estar. Uma coisa é “brigar”, ofender um director dentro da sede social de um clube. Outra coisa é alterar uma classificação, roubar uma anilha de borracha ou alterar um Chip. Enquanto que na primeira o “erro” é puramente social, no segundo exemplo ele, apesar de transportar em si uma questão de postura ética, é desportivo pelo que cairá sobre a justiça desportiva. Existem razões desportivas que devem ser exclusivas da hierarquia columbófila sempre com recurso e sem impedimento no envio dos pombos, de modo a evitar vinganças em pequenos grupos e por conseguinte vitórias na secretaria. As infracções que caiem no foro social do “Grupo” são da única e exclusiva competência da Direcção com recurso para a Assembleia-geral, podendo ainda, se assim se entender, subir na hierarquia caso se ache que pode haver dúvidas. Até porque isto dos recursos está politicamente na moda. No entanto, um “caso social” será sempre para seguir pelos tribunais civis e não pelos desportivos. Coexiste na vivência do “Grupo” um lado desportivo e um lado social que se complementam mas que são simultaneamente distintos.
A columbofilia, deve ser o único “desporto” (que até é olímpico em Portugal (1)), em que as direcções dos clubes desportivos da modalidade, não têm qualquer tipo de competência disciplinar sobre os sócios/praticantes dos clubes. Contrariamente, ao passo que pensaram que estavam a dar em frente ao passarem um atestado de menoridade aos clubes, têm estado a dar cabo dos clubes enquanto “Grupo”.
Hoje, devido à situação económica, todos estamos a atravessar dificuldades e como é lógico, uns mais que outros. Quando levamos os pombos para o encestamento, já lá entramos completamente “stressados” pela actividade diária e dificuldades/preocupações e cujo este “desporto” deveria servir como escape a todas estas complicações. Juntamos dez, vinte, trinta ou mais columbófilos nesta situação numa sala em que se está lá para competir e qualquer pequena coisa que há anos atrás poderia dar risada hoje dará discussão pelo estado emocional com que toda a gente anda. Se os problemas do “Grupo” fossem da sua competência estas situações poderiam e eram por certo evitadas pelas linhas condutoras que o próprio “Grupo” estabelecia e impunha entre os seus elementos. Como todo o poder passou para as Associações e FPC os dirigentes dos Clubes não passam de simples servidores da estrutura que assistem e por vezes fecham os olhos para não terem que fazer participações e terem, como vulgarmente se diz, “chatices”. Este Regulamento disciplinar serve tudo menos o interesse intrínseco ao próprio “Grupo”. Não servindo o “Grupo” ele desaparece porque não é socialmente auto sustentável. O bem-estar do “Grupo” e, por sua vez, o seu aumento e desenvolvimento só se obtém através da legislação e justiça interna. Tudo o que seja imposto pelo exterior ao “Grupo” é faraónico transportando em si uma missiva dominante por algo ou alguém que lhe é estranho. Poderão alguns “iluminados” afirmar que esta imposição do “Regulamento Disciplinar” só acontece pela incapacidade de se elaborar um processo de averiguações dentro de uma colectividade, ou seja no seio do “Grupo”, de modo a determinar se estamos perante um processo administrativo (Social) ou desportivo. Ora limitar ou passar certificados de incompetência com esta linha de pensamento levou ao descalabro social a que se tem assistido no seio do “Grupo”/Colectividade. O “achincalhamento” a que se tem assistido dos homens que ainda trabalham em prol da columbofilia, ou seja ocupam cargos directivos nos clubes, levou a que muitos se tenham afastado, com especial incidência para os mais competentes, e continuem a afastar para não passarem por estas situações. Será que era isso que se pretendia? Creio que não.
Isto de estarmos permanentemente dependente de outros, da globalização, como agora lhe chamam, vem trazer ao indivíduo e especialmente ao “Grupo” ansiedade, irresponsabilidade, indisciplina, entre tantas outras coisas que se poderiam enumerar que faz esquecer que ser columbófilo ou praticar a columbofilia não é cá andar só à procura de ganhar. É amar o pombo, é conviver, é ter tempo para os pombos e para a família e não esta desmedida e louca procura, que ninguém no seu intimo saberá de quê, que nos leva à auto destruição quer do “Grupo” quer mesmo do indivíduo enquanto columbófilo, não aproveitando verdadeiramente as bases essenciais e fundamentais da vida, desgastando-se na ânsia competitiva e procura desmedida desta nossa columbofilia.
O “Grupo” deve estabelecer democraticamente os seus laços internos: ordem, justiça e disciplina. Não o fazendo por imposição de algo ou alguém distante será uma questão de tempo a sua sobrevivência. Parece que a dada altura se deu passos maiores que a perna, mas nunca será tarde para repor a verdade, dando aos clubes vontade própria e deixarem de os tratar como simples servidores da estrutura.
Bem hajam os que por cá ainda teimam em andar. A columbofilia que alguém disse um dia que era linda, pouco ou nada fez por ela, limitando-se a balbuciar frases insípidas e discursos amorfos que nada de concreto trouxe à columbofilia.
(1) existem países em que isto não acontece como por exemplo a Bélgica e a França entre muitos outros em que a Columbofilia se equipara às corridas de cães e cavalos.
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