Artigos

Rotas e Calendários 16/07/2012

 

O Pombo-correio tem uma memória surpreendente. Na minha terra já apareceu um pombo no seu pombal dez anos depois de se ter perdido. O mais curioso é que foi imediatamente ocupar o lugar que era dele, brigando com o novo proprietário do casulo.

Quando desapareceu, o pombo tinha dois anos e mesmo depois de tanto tempo, ele ainda se lembrava da sua casa, do seu casulo. Doze anos de idade e até voou directo para seu antigo ninho.

Se os pombos são capazes de feitos destes, de se lembrar da sua casa depois de um período tão longo de distância temporal, é razoável assumir que eles são capazes de se lembrar de pontes, cruzamentos, rios, montanhas, etc., e reconhecê-los nos voos seguintes.

Relembremos acidentes ocorridos na última década em Portugal com mudanças repentinas de rota em que aliado a esta mudança as condições meteorológicas foram adversas ao voo. Em situação normal as percas diminuiriam pelo conhecimento da rota, sentido de localização e de distância que o pombo tem do pombal quando voa repetidamente a mesma rota.

Pombos experientes aprendem o caminho para casa a partir de um dado lugar ou de uma determinada direcção. No Clube Columbófilo de Chamusca a pomba 916922/69, pertencente a Joaquim Ferreira ganhou por sete vezes a prova de Faro (263Km), não ganhando provas de outros lugares. Nada é por acaso. Todas as vezes que os pombos são treinados ou entram em competição numa mesma linha ou direcção, encontram o seu pombal quase sempre a partir dos mesmos marcos de referência. Todos nós sabemos ou temos conhecimentos e até já ouvimos dizer frases como esta: “sempre que ele vem por cima da antena vem para ganhar”.

Por este facto o columbófilo deve ter cuidado de não enviar os seus pombos a uma prova cuja linha de orientação seja diferente do que normalmente o pombo está habituado a voar. Não há maneira mais fácil de perder um pombo bom. Sempre que é necessário fazê-lo devemos também efectuar treinos dessa nova linha para que se gerem novos pontos de referência, criando no pombo confiança para as mudanças da rota pretendida.

Quando no distrito de Santarém se voava as provas de velocidade a Sul e a Norte do continente português, começava-se por voar sul e, sensivelmente em Maio mudava-se para Norte, os columbófilos que ganhavam as primeiras provas de Norte eram aqueles que, na sua grande maioria, na semana anterior faziam treinos em linha desta nova direcção. Nada é por acaso.

Pombos seguidores não são tão seriamente afectados porque como normalmente seguem o bando tendem a chegar a casa mais cedo ou mais tarde. Mas o pombo campeão diz para si: "Eu sei que caminho seguir", e ele vai, independentemente do que o resto dos pombos possam fazer. Por estas razões, e por todos os outros exemplos não mencionados e que fazem parte do senso comum dos columbófilos eu não mudaria a rota de um pombo da "estrada do Norte" para a "estrada do sul" ou vice-versa de uma forma radical: sem aprendizagem. Normalmente relembramos os feitos dos vencedores ou dos 20% dos classificados e esquecemos os outros 80% dos vencidos e tentamos mentalizarmo-nos deste feito. Mas o caminho não é nem pode ser por aí! Como diz o poeta o caminho faz-se caminhando, neste caso aprendendo!

Se interiorizarmos esta filosofia e recordarmos as mudanças de rotas nos nossos distritos, verificamos, quer queiramos ou não, que sempre que se efectuaram mudanças bruscas nas rotas os campeões dos anos anteriores perderam-se, voltaram no dia seguinte ou andaram a aprender até começar novamente a marcar.

Se se deseja alterar uma rota, deve-se alterar no início do programa de treinos dos pombos nas provas para “Yearlings”. Exemplo: um distrito que voa só a Este e pretende voar em leque entre o SE e NE, deve, nas provas de pombos de ano, provas de borrachos ou outras, efectuar essa rotação começando por efectuar provas de velocidade nessas linhas levando a uma “georeferênciação” visual, por parte do pombo destas novas rotas.

Os estudos através de voo com GPS dizem-nos que o caminho que um pombo aprende no seu regresso a casa não é um caminho recto. Pode, até, vir do norte a partir de um ponto de prova a Sul. Mas se fizermos treinos cuidadosos, ele aprende referências para saltar do bando mantendo a linha mais directa para casa tendo, deste modo, mais hipóteses de ganhar. Se interiorizarmos esta ideia e a relacionarmos com os campeões da actualidade, sabendo que eles andam sempre na estrada com os pombos, continuamos a verificar que nada é por acaso.

Estou ciente de que muitos columbófilos não irão concordar com as ideias apresentadas, mas deve-se entender que estas ideias se aplicam aos pombos treinados e preparados para corridas em linha e não como base de orientação porque essa é inata.

Esta manutenção ou mudança de rotas calendarizadas e previamente estudadas são, só por si, factor de diminuição de percas e possivelmente o mais importante, superando, com mais facilidade, em alguns dias, as adversidades meteorológicas. No entanto, deve-se efectuar estas mudanças, num mesmo calendário, de uma forma lenta e gradual fazendo voos de meio fundo onde já se fez pelo menos duas velocidades e seguidamente o Fundo. As rotações deverão ser sempre efectuadas de Sul para Norte, aproveitando a temperatura mais elevada e ventos favoráveis do início da campanha nas regiões a Sul e a acabar nas regiões a NE mais elevadas e mais frescas durante o final da Primavera/Inicio do Verão, sempre que haja condições de localização geográfica para o fazer, porque existem distritos a Sul e a Norte em que esta rotação é de todo impossível pelo que a habituação à rota, o conhecimento do delegado e coordenador desses distritos superam as dificuldades. Cada caso é um caso e a diversidade geográfica dos nossos distritos geram, por si, só diferentes tipos (“Raças”) de pombo ganhadores. Uma coisa é certinha: os distritos que mantêm as rotas por mais tempo têm menos percas, menos desastres/incidentes que os outros que andam sempre à procura de linhas para justificar o injustificável.