PRESO POR TER... |
25/07/2015 |
A expressão “preso por ter cão e preso por não ter” é uma metáfora que o povo usa para aquelas situações em que alguém fica perante uma obrigação de escolher um caminho, e sabe que, independentemente da escolha que fizer, o julgamento alheio haverá no fim de o declarar culpado de erro. Como se isso não bastasse há depois aqueles que querem ir ainda mais longe, pois acham que prender só o dono é pouco. Dão então voz de prisão aos dois, e fica o amigo fiel a olhar para o patrão com ar de quem pergunta: - Mas afinal já chegamos à Madeira, ou quê ?
Num passado ainda fresco, algumas coisas até aqui invulgares na Columbofilia portuguesa foram tornadas realidade. Comum a todas elas o facto de terem motivado nas pessoas um sentimento inicial de descrédito, não tanto na coisa em si mesma, mas sim na capacidade das pessoas em torná-las realidade. São disso exemplo as provas de Valência que entretanto já suscitaram milhares de críticas, na sequência do escrutínio a que foram submetidos os incontáveis pormenores que, directa e indirectamente, estão relacionados com tão complexa organização. Saúdo o habitual empenho de muitos colegas nesse trabalho de análise, e vejo confirmada a minha ideia de sempre quando alguém tenta fazer algo diferente: a ala discordante aparenta um tamanho inflacionado face ao que verdadeiramente representa. Não me custa admitir que quando tive conhecimento do projecto assumi posição de moderado pessimismo, pois era minha convicção que a FPC haveria de encontrar grande dificuldade na obtenção de consenso. Reza a história que essa falta de consenso, principalmente na concertação de datas e locais de solta, é responsável pela não implementação deste tipo de concursos há mais tempo. Vaticino, com base nessa mesma história, que alguém conseguirá, mais cedo ou mais tarde “dar cabo deles”- dos Valências - pelo menos nos moldes abrangentes em que se realizaram. É a história, aquela história que eu conheço.
Não pretendo neste apontamento emitir juízos de valor acerca do sonho da FPC tornado realidade, ou seja, concursos de fundo com solta única para Portugal envolvendo todas as Associações continentais. Tenho, como qualquer um pode ter, opinião formada acerca dos principais aspectos susceptíveis de avaliação, e em tempo que me pareça oportuno haverei de a emitir. Por agora, apenas refiro que sou a favor desta competição, e que considero genericamente razoável o modelo em que se baseia a sua concepção. E é exactamente um dos pormenores que eu mais gosto nesse modelo que acaba por dar origem a mais um conflito de opiniões típico da Columbofilia, ambiente esse onde nem sempre são acauteladas as condições mínimas que permitem uma saudável partilha de espaço, ou co-habitação se preferirmos.
E qual é esse pormenor ? A ausência de normas rígidas impostas pela FPC relacionadas com a logística, por exemplo, não terá sido estabelecido um horário para os camiões comparecerem no local de solta na véspera das largadas. Era o que faltava… tratando-se de concursos que as Associações concordaram em introduzir nos seus calendários oficiais, com custos operacionais a suportar integralmente pelas mesmas Associações, nada mais natural do que permitir-lhes que adoptassem os procedimentos que habitualmente adoptam nos restantes concursos de fundo.
Por isso, é totalmente descabido e injustamente deselegante, afirmar-se aquilo que já se afirmou relativamente à chegada, alegadamente atrasada, dos camiões de Aveiro ao local de solta, tanto no primeiro como no segundo Valência.
Poderia aqui questionar-se se foi Aveiro que chegou tarde ou, ao invés, os outros é que chegaram cedo. Prefiro, apenas e só realçar aquilo que é tornado público de forma consistente, a saber, os responsáveis pela minha Associação, com toda a legitimidade, lidam como muito bem entendem com as suas condições de transporte. Ouvi dizer, a gente que se julga mais habilitada, que o imenso dinheiro que gastam com os carros e os motoristas é coisa própria de um tipo de gestão de frota ultrapassado. São também criticados porque investem demasiados recursos em tudo o que respeita à escolha e preparação dos locais, incluindo aquela coisa esquisita de chatear columbófilos para assistir às soltas. Que exageram na procura de apoios locais quer em Portugal quer em Espanha, incluindo nos percursos. Enfim, que tem a mania que são os melhores mas depois, quando a coisa dá para o torto, perdem pombos como todos os outros.
Até aqui, tudo bem… no entanto, violação de regulamentos e estratégia inteligente ?
Se vale assim, então, autorizam-me a evocar a dor de cotovelo.
Todavia, se alguém souber de algo que eu desconheça, por exemplo, que era do Regulamento dos Valências a obrigação de “esturricar” pombos antes da solta que me avise, isto, se for mesmo verdade que estiveram pombos a "esturricar".
Luis Silva, 25/Jul/2015
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