IGUALDADE – X – TREINOS E VERDADE DESPORTIVA |
14/11/2011 |
A evolução do assunto TREINOS no fórum do columbofilia.net confere cabimento às minhas dúvidas quando, sem pretender por em causa a boa intencionalidade de quem e do quê, coloco interrogações à utilidade dos tratamentos curativos que alguns colegas nossos receitam para o mau resultado que a columbofilia vem evidenciando.
Aquilo que é relatado como sendo prática num distrito do centro-sul, e ao mesmo tempo é considerado o único modo admissível de treinar pombos através dos meios disponibilizados por uma associação, representa mais uma situação que não tem aplicabilidade noutras latitudes..Trata-se de pombos em prova num carro, pombos a treino noutro carro e locais de solta diferentes. A razão apontada para estas medidas é a preservação da verdade desportiva, pois ter-se-á concluído que assim se evitam males decorrentes do fenómeno do arrastamento, ou coisa que com ele é parecida. Alega-se que, sem essa separação, determinados columbófilos sairiam beneficiados em prejuízo de outros, jogando a seu favor a localização dos pombais e uma maior quantidade de pombos a puxar para lá. Pelo menos é o que depreendo das afirmações registadas.
Independentemente da amizade que me liga a muitos columbófilos de todo o Portugal, e por isso também a numerosos colegas do distrito em causa, não me considero habilitado para comentar as soluções que encontraram para serem mais felizes no seu dia a dia competitivo. Mas, isso não quer dizer que eu me sinta obrigado a aceitar que sejam classificadas como aberrantes diferentes formas de fazer treinos nos carros das associações. Como sempre, direi porque discordo.
Arrastamento, locais privilegiados de passagem de pombos, efeito das quantidades e afins, são pormenores que fizeram e irão continuar a fazer correr rios de tinta e gastar anos em discussões no meu distrito, cuja área é representada, grosso modo, por um rectângulo estreito, comprido e ao alto no mapa. Toda a sua lateral nascente está bem metida nas serras, que espremem contra o mar a área utilizável pelos pombos quando regressam das provas. Em circunstâncias normais os atletas são como que conduzidos para um corredor que chega a ter apenas 20/30 Km de largura, e se estende ao logo de 90 Km de extensão ou seja, desde que terminam as terras de Coimbra e começa o distrito do Porto. A discussão de sempre tem, apenas e só, a ver com o modo como são constituídas as zonas, e depois distribuídas as colectividades pelas mesmas. Não me recordo que, sob o pretexto da verdade desportiva, alguma colectividade tenha, em qualquer assembleia geral distrital ou mesmo em alguma das muitas reuniões de trabalho por mim presenciadas, manifestado opinião contra pombos a treino misturados com os demais.
O meu pombal situa-se mais ou menos a meio, no sentido da largura do referido corredor, e para norte ficam os pombais dos columbófilos cujos pombos enchem os restantes 5 camiões de Aveiro, 8 do Porto, mais 3 ou 4 de Viana do Castelo e Braga... e ainda para aí umas 100 caminhetas dos treinos das colectividades, sem esquecer muitos columbófilos que não abdicam de levarem eles mesmos os seus pombos a treino. Todos estas centenas de milhar de pombos passam, maioritariamente, por esse estreito corredor, como que pulverizando os céus durante horas a fio. Estou no extremo norte da minha zona que enche 2 camiões mas, nas provas de velocidade e meio fundo, recebo quase sempre os meus pombos quando estão muitos bandos a passar. Eu e a maioria qualificada dos columbófilos do meu distrito vemos os nossos craques saindo de bandos formados por colegas de circunstância, colegas de volta e não de ida. Viajar num bando cujo rumo está nem que seja apenas um quilómetro desviado a nascente ou a poente do pombal pode significar o adeus ao mapa para qualquer pombo. Várias vezes durante a campanha desportiva assisto impotente ao “desertar” de um pombo que se faz ao pombal a horas de ganhar, mas é “sugado” por um bando que na altura vai passando, e só o volto a ver dois, três ou vinte minutos depois – então os machos mais levantados são desconcertantes neste aspecto.
Considerar que treinar nos camiões da associação é desportivamente questionável por causa de arrastamentos, linhas de voo e quantidades, é argumento que, no nosso caso, se esbate no meio deste enorme turbilhão. Essa preocupação, para mim demasiado perfeccionista, polvilhada q.b. com todas as outras contingências próprias da columbofilia, só poderia dar numa conclusão, e não gosto dela: a columbofilia seria um desporto impraticável.
Evidentemente que para distritos em fim de linha no que ao trajecto dos pombos em prova diz respeito, tudo pode ser diferente neste aspecto específico. Particularidades derivadas da orografia e do clima motivarão, noutros locais, diferentes perspectivas e até hábitos. Desiguais quantidades de columbófilos e clubes e a própria densidade da sua implantação na área abrangida, constituem maiores ou menores problemas, motivarão ou desmotivarão a procura de alternativas. Enfim, cada caso é um caso, e é sempre arriscado fazer afirmações categóricas. De resto o que em final de conversa me ocorre é que, pelo menos aparentemente, não se vislumbram atingidos objectivos palpáveis no que à recuperação de efectivos diz respeito, mesmo nos nichos onde se tem adoptado medidas alegadamente evoluídas. Sugerem-se pombos a treino mais caros que aqueles que disputam os prémios, leques, abanicos e não sei mais o quê. Pode ser que sim, mas nunca para todos.
Luis Silva 14/Nov/2011
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