OpiniãoVisitas: Contador de Visitas 
IGUALDADE - VII - A TREINO, A CANSAR, E A DAR A VOLTA 05/11/2011

Quando as duas mulheres saíram da elegante missa das onze na Igreja de São Francisco, num domingo lavado de Junho, manhã luminosa e fresca, e, em passo decidido, atravessaram o Terreiro de Jesus em direcção ao labirinto das estreitas ruas antigas do Pelourinho, moleques cantavam um samba de roda, batendo o ritmo em latas vazias de goiabada:

Ô mulher do balaio grande!
Ô do balaio grande!
- Bom balaio!

Voltou-se dona Norma para a companheira, a resmungar:
- Esses fedelhos por que não vão mexer com a traseira da mãe deles?...

 

… da obra de Jorge Amado – Dona Flor e seus dois maridos

 

Com a reentrada em cena em 1987 de um grupo de ilustres dirigentes aveirenses, liderados por alguém que jamais a história da columbofilia nacional poderá desprezar, de seu nome Arlindo Coutinho, a minha associação distrital conheceu uma verdadeira revolução no que diz respeito ao seu modo de acção enquanto entidade responsável pelo desporto columbófilo no distrito de Aveiro. Diria mesmo que o trabalho dessas pessoas criou um impacto que atravessou as fronteiras distritais, espalhando um pouco por todo a país uma corrente positiva que acabaria por despertar noutros colegas e noutras paragens uma necessidade de melhorar, crescer e inovar.

Dizem os apontamentos que aqueles homens estabeleceram como objectivo transformar a instituição numa estrutura devidamente apetrechada em todas as áreas e a todos os níveis, com prioridade para as instalações sociais e os equipamentos de transporte. Sabendo do gigantesco investimento que ira ser necessário os dirigentes associativos de então conseguiram, não só demonstrar às bases o que pretendiam fazer como, e acima de tudo, lograram motivar o envolvimento de todos na execução do projecto, tanto os columbófilos como as colectividades. A sede social, além da disponibilidade dos grupos de trabalho, absorveria grande parte dos recursos financeiros disponíveis nos primeiros cinco anos da nova era, pelo que só em 1993 a associação de Aveiro inaugurava, numa solta efectuada em Évora, as suas primeiras três viaturas articuladas. Hoje possui oito semi-reboques, e uma área coberta mais do que suficiente para os albergar, graças ao trabalho de todos os que souberam dar continuidade ao sonho que um dia teve Arlindo Coutinho. Esse sonho nunca poderia ser realidade sem o contributo dos columbófilos do meu distrito, mas também é verdade que, em 1987, e para além da sua história de trinta e dois anos, a associação tinha um património de valor material pouco significativo face aquilo que hoje existe.

Com a aquisição das três primeiras galeras acabaram no distrito os problemas relacionados com a capacidade de transporte. Quer isto dizer que, pelo menos desde 1993, os columbófilos pertencentes ao distrito de Aveiro passaram a dispor de condições para enviar às provas oficiais, não só a equipa que disputava os campeonatos, mas também um conjunto mais ou menos numeroso de pombos excedentes, consoante os seus interesses e as normas impostas pelas suas colectividades. Esse conjunto de pombos que excede a quantidade máxima permitida para a disputa dos campeonatos em cada colectividade, consideram-se pombos a treino, independentemente de outras designações que depois lhes foram atribuídas, desde equipas B, pombos a cansar, segundas equipas, e mais sei lá o quê. No essencial importa realçar que o rdn não impediu nem impede uma associação de disponibilizar transporte para pombos a treino, não estabelece qualquer impedimento deles viajarem juntamente com os outros, nem inviabiliza que sejam soltos no mesmo local e à mesma hora que os demais.

Até aqui não vejo inteligência mas sim trabalho. Não enxergo alguém a dar volta ao que quer que seja… e de pólvora nem o cheiro.

Encontrarei talvez alguns de vós daqui a pouco em Lisboa. Lá estarei cantando, não pró balaio da D. Norma, mas o “Show me the way” com o Frampton, e por isso tenho de interromper aqui.

Luis Silva 05/Nov/2011