ESPECIALIDADES - 2 |
24/10/2011 |
Confesso-me algo confuso quando, a pretexto do momento de vacas magras que a sociedade portuguesa em geral e a columbofilia em particular atravessam, alguns colegas nos apontam modelos estrangeiros como exemplos a seguir para estancar a diminuição de praticantes que se verifica no nosso país. Diz-se que a columbofilia de lá é mais evoluída que a nossa, e que por isso, devemos avançar para sistemas competitivos idênticos aos deles.
Espero que não me levem a mal mas, se existe algo que os portugueses gostam de fazer é usar o que se usa no estrangeiro. Com maior ou menor lapso de tempo decorrido desde o aparecimento de uma qualquer coisa ela acaba por ser adoptada por nós, havendo casos em que começamos a usá-la exactamente numa altura em que já é considerada obsoleta na respectiva origem.
No que à columbofilia diz respeito, passa-se uma coisa verdadeiramente singular que é, importamos tudo o que a columbofilia belga e a indústria com ela relacionada tem para nos vender, excepto o sistema de competição. Apetece perguntar porquê !
Também apetece perguntar se é nesses países ou em Portugal que se regista uma maior diminuição de columbófilos.
Desconfio, desconfio mesmo, que somando os últimos 20 anos, Portugal ganhe o campeonato dos abandonos à Bélgica. Caso seja como eu penso que é, seria muito mais lógico serem os belgas a adoptar o campeonato geral do que nós as especialidades,.
Pode até parecer, mas não me considero um columbófilo anti-especialidades. No entanto discordo quando se afirma convictamente que elas são a primeira solução para a perda de praticantes que a nossa modalidade vem registando. No meu conceito nunca passarão de complemento alternativo do nosso sistema de campeonatos, e quando refiro complemento alternativo é para expressar outra das minhas convicções, também ela apoiada em experiências vividas em Portugal: especialidades com oito, nove ou mais provas de cada categoria, e campeonato geral, não podem coabitar nem no pombal do comum columbófilo português, nem nas colectividades que temos e que estão totalmente dependentes do trabalho gratuito dos seus dirigentes.
No artigo anterior apontei o caminho que permitirá a um columbófilo do meu distrito especializar-se em velocidade. É uma hipótese mais ou menos viável porque, como vimos, não necessita de investimentos em equipamentos ou meios humanos, e baseia-se no aproveitamento do que já existe. Pelo menos eu, e uma fatia muito representativa dos columbófilos do distrito de Aveiro, já não temos muita legitimidade para dizer que não nos deixam fazer especialidade de velocidade. Ir mais longe do que isso não acredito que seja possível, e fico até mesmo preocupado quando verifico que alguém admite viabilizar as especialidades suportando-as em algo a que se vem dando o nome de autonomia das colectividades. Dar autonomia a quem não possui meios para a usar – falo da generalidade - não me parece uma medida responsável. Falemos, por exemplo, de viaturas.
Existem viaturas em algumas colectividades que se apresentam bonitinhas, o chassis e a máquina são recentes, enfim, uma viagem de 500 ou 600 Km para cada lado não é coisa que assuste assim à primeira vista mas … quanto às condições para os pombos já tenho muitas dúvidas. Até 150 ou 200 Km ainda vá que não vá, depois disso, é necessário pensar bem. Das muitas viaturas pequenas que conheço, não me lembro de alguma equipada para suprir a necessidade de dar água aos pombos. No que respeita a condições de habitabilidade, sobretudo circulação de ar adequada a uma permanência prolongada dos pombos, como será o caso de um concurso de média distância em que a solta é atrasada ou mesmo adiada, também não posso dizer que dormiria tranquilo se nelas viajassem os meus pombos.
Depois não esqueçamos as questões económicas pois, quanto menor for o equipamento de transporte, mais caro sairá o preço por pombo. De seguida os meios humanos, pois ir ali pertinho fazer um treino é uma coisa, arranjar motoristas à borla para ir soltar a cinco, seis ou mais horas de distância já será outra conversa. E quando for preciso pagar aos motoristas, dois por carro para não parar em cada quatro horas, estará lá também a obrigação de cumprir a restante legislação laboral, os impostos, etc. etc.
Temos também de ter presente que a percentagem de clubes com transporte próprio não atinge sequer os cinquenta por cento. Destes, a quase totalidade são viaturas montadas a pensar na deslocação dos pombos desde o local de encestamento até aos locais de concentração, daí a falta de condições a que me referi. A somar a tudo isto temos, pelo que se diz, cada vez mais espaço livre nos camiões das associações, já comprados e pagos com o dinheiro dos columbófilos. Investir mais dinheiro em coisas que os columbófilos já possuem em quantidade suficiente, numa altura em que o dinheiro faz falta para todas as outras coisas, é no mínimo pouco recomendável.
Evidentemente que existem colectividades com capacidades materiais e humanas para evoluir para uma autonomia sustentada. Para elas adquirir um novo ou adaptar o meio de transporte que existe seria um pequeno desafio. Só que, estamos a falar de excepções às outras centenas de clubes columbófilos existentes em Portugal, e aí sim, iria disparar a desigualdade para níveis nunca atingidos, e impossíveis de equilibrar se a tal autonomia fosse efectiva e não apenas circunstancial.
O modelo belga é também característico pelo facto de existirem entidades privadas a organizar concursos, e há também quem reivindique para a nossa columbofilia a entrada dessas entidades privadas. Tenho feito algumas contas e vou sempre dar ao mesmo resultado. Se tivesse pernas para andar por certo já cá andava há muito… e nós não somos arrogantes ao ponto de pensar que ao longo da história da nossa modalidade, só existiram pessoas com falta de capacidade empreendedora ou até mesmo défice de inteligência. De todo o modo.se me apresentarem um projecto cá estarei para o analisar.
Luis Silva, 24/Out/2011
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