Surpreendentemente, pelo menos para mim que continuo fã dos columbófilos e persisto em acreditar no seu conhecimento, vejo afluir ao palco nova vaga de admirados e assumidos desinformados colegas. Manifestam-se como que “a leste” se encontrassem do mundo que os rodeia.  E vai daí  declaram, sem rodeios, que o critério dos dirigentes da columbofilia nacional é no mínimo escabroso, quando se trata de decidir como gastar os nossos dinheiros.

Acho-me com direito a exprimir essa surpresa, mas devo realçar que ela deriva muito mais da descontracção com que é feita a manifestação pública das pretensas dúvidas do que das próprias dúvidas.

Mais do que a generalidade, e nunca menos que qualquer um, faço no meu dia a dia e em todos os ambientes que frequento propaganda da modalidade à qual decidi dedicar-me de corpo e alma. E quando alguém “de fora” apresenta factos relativamente à impreparação de muitos colegas para uma coexistência social digna de aceitação, logo cerro fileiras em defesa do todo, e deixo cair os apêndices. Por tudo, mas especialmente por isso, escusa, quem quer que seja “dos nossos”, de se pôr a caminho para me confrontar.  Nego-lhe todo e qualquer provimento.

Abordei o tema da formação em Trabalhar 7. Pouco tempo depois sou convidado a “comer” as contas da Federação em versão hardcore, acompanhadas por uma salada de maledicência e ignorância, temperada q.b. com fanfarronice. 

São utilizados termos que bem retratam o mal que a nós próprios gostamos de infligir em público.  E fazem-no os mesmos que ainda ontem ou já amanhã, disseram ou dirão, que muito injustamente somos tratados como parente pobre do desporto nacional.  Diz-se deles  que nem sequer sabem com quanto contribuem para o abusado espólio, apenas barafustam que é muito.

Eu por acaso sei que para ser columbófilo, sou obrigado a pagar 8 euros por ano à tal entidade governada por irresponsáveis que gostam de brincar com o meu dinheiro. E muito devem eles brincar com ele, tal a forma como ele cresce…

O que deviam  era saber, antes de julgar e condenar,  quanto custam as coisas na vida real. Ordenados, telefones, serviços, etc. etc. e depois então, se realmente houvesse motivo para “espantação”, espantarem-se.

Por acaso alguém me sabe dizer quanto ganha um gerente destas lojas de esquina a que agora muitos chamam bancos ?

Por acaso alguém pode aqui desabafar quanto paga por uma hora de mão de obra quando leva o seu carro à revisão ?

Por acaso querem confessar quanto gastam por mês só na bica ?

E quanto lhes custa por ano a manutenção do excesso de pombos que possuem, mesmo em tempo de crise e com todos os problemas financeiros que por aí andam ?

E quanto custará contratar um serviço de um profissional qualificado, muito mais qualificado que os mecânicos das tais oficinas de automóveis, exigindo desse profissional uma disponibilidade do tipo “em qualquer dia e a toda a hora” ?

Sei, porque gasto dinheiro nessas coisas todas, o que isso representa.  E também sei,  caso contrário informar-me-ia antes de opinar, qual é mais ou menos o trabalho desenvolvido e o nível profissional de cada funcionário da federação desportiva onde estou filiado.

E depois também sei que não compete a esses funcionários estar ao serviço de cada columbófilo para lhes resolver os seus dramas pessoais, muito menos os que decorrem de situações que nada tem a ver com o relacionamento institucional e estatutariamente definido,… até porque, a minha predisposição para as contas, me levaria a entender que, por 8 euros por ano,  eu não tenho o direito a exigir que para mim trabalhe alguém que custa  cerca de 40 cêntimos por minuto à sua entidade patronal.  E mesmo que tivesse o direito a esses 20 minutos por ano, além de perder  todos os restantes direitos que tenho e uso sem me aperceber, estaria a ser  egoísta em relação aos restantes 12999 colegas que como eu pagaram os tais 8 euros, na medida em que, mesmo trabalhando como trabalha, mais de 50 horas por semana,  o director de serviços da federação desportiva onde estou filiado necessitaria de  mais ou menos 2 anos para atender a todos, e não poderia fazer rigorosamente mais nada.

Falar-me-ão de anilhas e Mira. Tudo bem… falem mas façam também as contas antes. Sobretudo os que nem sabem quanto custa enviar uma carta pelo correio, e onde fica Mira.

Quero finalizar cumprimentando alguém.  O Senhor Gaspar Vilanova que soube na sua altura engendrar a organização administrativa da sua federação,  contratando profissionais  que ao longo destes anos se tem mantido naquela que é de longe a melhor estrutura de todas as que estão filiadas no Instituto de Desporto, não obstante o ridículo a que se prestam alguns dos seus associados.  Tenho também de o dizer: ter de algum modo podido estar perto dessa máquina foi para mim bastante enriquecedor, como columbófilo e como dirigente desportivo amador.

Luis Silva, 08/Dez/2010