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IGUALDADE - I - ALGUÉM A VIU ? 27/10/2009

A igualdade é algo que muitos buscam e ninguém encontra, logo, não existe.

 

Para encontrar grandes diferenças entre duas pequenas gotas de água, não necessito de estudar e tentar compreender a teoria da relatividade, basta-me o conceito de infinito.

 

É por isso que me admiro quando ainda vejo colegas columbófilos gastando a sua disponibilidade na procura daquilo que, para mim, não passa de mera utopia.

 

Segundo gente respeitável, ou pessoas que considero tão respeitáveis como acho que eu próprio sou, a igualdade na Columbofilia é necessária ou mesmo indispensável ao futuro da modalidade, na medida em que, por alegada falta dela, os principiantes depressa perdem o entusiasmo, enquanto que os ditos pequenos, vão desanimando e saindo, impotentes perante a desigualdade que está instalada no nosso desporto. E também dizem que esta, e por conseguinte a falta daquela, pode combater-se exercendo uma maior pressão sobre as quantidades, seja através da limitação de pombos por recenseamento, ou do estabelecimento de uma quantidade máxima de pombos a encestar por concurso inferior à que está actualmente regulamentada.

 

Temo que não seja assim tão fácil. Construir a igualdade da columbofilia apenas em cima de quantidades é uma solução demasiado acessível. Desconfio dela, até porque o que ela verdadeiramente representa é, apenas e só, uma forma de tentar dificultar a vida dos que agora se apresentam como ganhadores. Não se fala em proporcionar mais condições aos fracos, mas sim colocar “lastro” nos que ganham. 

 

E sendo esse o princípio a adoptar, é fácil prever o que virá a seguir. No preciso momento em que atingirmos a igualdade pela via da redução de quantidades, logo a nossa inventiva irrequietude nos fará vislumbrar mais factores susceptíveis de contribuir para a desigualdade. Por exemplo:

 

Cada columbófilo aplica na columbofilia quantidades diferentes de dinheiro e de tempo, quase sempre na razão directa do dinheiro e tempo livre que dispõe.

 

Como é que se vai ultrapassar essa forma de desigualdade ?  Arranja-se um meio de controlar o tempo que cada um gasta com os seus pombos, bem como de limitar o dinheiro que investe na sua compra e respectiva manutenção.

 

Agora imaginemos, ou melhor sonhemos que isso até era possível. O que resulta seria finalmente a igualdade ? Não. Na nossa obsessão pelo perfeccionismo constataríamos que apenas nos encontrávamos num novo ponto de partida para mais desigualdades, cada vez mais difíceis de corrigir.

 

Idade, sexo, profissão, estrutura da família, sócio individual ou sociedade de vários sócios com divisão de tarefas e despesas, maior ou menor coordenada, mais a norte ou mais a sul, mais perto ou mais longe de onde elas encostam, é dirigente ou não é dirigente, etc. etc. etc. e,

 

… a sua colectividade tem 50 concorrentes ou apenas 12,  tem carro de treinos ou não tem, pratica preços de inscrição mais altos ou mais baratos,  permite encestamento de pombos a treino nas caixas da associação ou não aceita, é rigorosa no cumprimento das leis e orientações da estrutura ou não liga nenhuma, faz-se representar nos centros de decisão defendendo os interesses dos seus sócios ou ignora esses ambientes, etc. etc. etc. e,

 

… pertence a um distrito grande ou está num pequeno, o calendário tem 21 concursos por ano ou apenas 18, as provas de fundo atingem em média 650 Km ou começam exactamente a partir dessa distância, voam do norte, de leste ou a partir do sul, o carregamento é em concentrações ou demora 6 horas até estar concluído, as caixas custam 100 ou a sua associação cobra 200 euros,  enfim…

 

… até que, finalmente, aquilo que é importante e incontornável: melhor ou pior columbófilo, melhores ou piores pombos.

 

Por muito que queiramos, nunca conseguiremos tornar a Columbofilia num desporto em que todos os competidores estão em igualdade. E não fiquem tristes os columbófilos por isso, afinal o desporto que proporciona essa igualdade ainda não foi inventado.

Embora haja quem o pense, a Columbofilia não é diferente de tudo aquilo que nos rodeia.

 

Luis Silva, 28/10/2009